Sobre asas de águia

Meditação

08/07/2008

Tendes visto o que fiz dos egípcios, como vos levei sobre asas de águia e vos cheguei a mim” (Êxodo 19.4).

Voar sempre foi um bom sonho do ser humano, desde os tempos mais remotos. É gostoso voar. Dá sensação de liberdade. Vôo é sinônimo de liberdade. Ao voar, estamos mais livres da teimosa força gravitacional que vem do centro da terra e que mantém o nosso corpo grudado ao chão. Voar sobre asas de uma águia! Poderia existir um jeito mais bonito de falar da liberdade plena? São divinas palavras, estas de Êx 19.4!

Creio no Deus da liberdade. Aliás, é Ele que se define como tal. Foi Ele quem arrancou os pés calejados do seu povo do terrível “magnetismo” das terras do Faraó, lá no Egito. Este teimava em manter os hebreus grudados àquele solo opressor. Liberdade lá não existia. Deus, então, desgrudou os pés de seu povo daquele maldito chão grudento e o carregou, sobre asas de águia, para um diferente lugar: o solo da liberdade.

E a liberdade era doce. “Doce liberdade!”, diria o poeta.

Mas Deus já sabia! A liberdade é tão doce que a gente quer sempre mais. É como um bom chocolate. No degustar da liberdade a gente se enche de euforia e se esquece de uma coisa muito importante: precisamos de limites. Sim, os limites fazem parte do vôo da liberdade. São a garantia de que a liberdade não se transformará numa triste, vazia e amarga libertinagem.

Os limites! Estes estavam faltando quando os israelitas, ao serem carregados sobre asas, se viram, de repente, tomados por uma forte euforia no degustar da liberdade. Eles estavam correndo o perigo de se tornarem escravos de novo, ao não conhecerem limites em meio ao seu eufórico vôo nas alturas. Por isso o Deus da liberdade decidiu: Esta águia que carrega meu povo precisa fazer um pouso. Ela vai pousar defronte do Sinai. E foi ali que a águia da liberdade pousou. Ao pé da montanha! Do vôo eufórico sobre asas de águia faz parte o pouso defronte do Sinai. É no Sinai que se encontra a indicação de que a liberdade precisa ser degustada com o tempero da responsabilidade. Senão o doce chocolate vai acrescentando cada vez mais massa a um corpo que, de tanto peso, se gruda no chão colento de uma nova escravidão: o “vale tudo”. A vida se transforma, então, numa grande incógnita. Por isso, para o alto da montanha Moisés teve que subir. Porque era do Sinai que precisavam descer os mandamentos de Deus. Estes divinos estatutos seriam, então, a moldura dentro da qual a tela do doce vôo da liberdade poderia continuar a ser pintada.

No vôo da liberdade os limites são necessários. Liberdade não é um “vale tudo”. Os israelitas precisavam conhecer limites, para o seu próprio bem. Também hoje faltam os limites. Aliás, desde criança o ser humano precisa de limites. Nem tudo vale. Nem tudo faz bem. Nem tudo convém. Não vale pular para dentro de um precipício. Não vale saltar para o meio de uma fogueira. Não vale querer sempre ouvir um “sim”. Da liberdade também faz parte o “não”. Bons pais e bons educadores sabem disto: liberdade com responsabilidade. Aí entram os sagrados mandamentos. Jesus, naquela vez, os resumiu magistralmente: amor a Deus e amor ao próximo. Esses são os horizontes que dão rumo certo ao nosso vôo da liberdade. Hoje diríamos: Cadê a “responsa”? Sim, falta o ingrediente da responsabilidade no exercício da liberdade. E é justamente isto o que os mandamentos acrescentam à nossa liberdade. Eles são a parada do Sinai, num vôo sobre asas, que tem como rumo certo Canaã, o chão da liberdade plena e bem sonhada.

P. Valdemar Gaede.


Autor(a): Valdemar Gaede
Âmbito: IECLB / Sinodo: Espírito Santo a Belém / Paróquia: Santa Maria de Jetibá (ES)
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8566
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