Só um Deus sofredor pode nos ajudar Mt 27.46

Autoria P. Me. Alexander Busch Mateus 27.35-50

02/04/2021

Neste culto de Paixão e Páscoa, entre a morte e ressurreição de Jesus, destacamos as suas palavras na cruz em Mateus 27.46, onde está escrito: “E Jesus clamou em alta voz na língua Aramaica, “Eli, Eli, lema sabachthani? isto é, Meu Deus, meu Deus, por que você me abandonou?

A leitura do evangelho que ouvimos hoje é marcada pelo sofrimento . . . sofrimento inocente. Jesus é preso, acusado de um crime que não cometeu. Ele sofre em solidão, abandonado pelos discípulos, enquanto pessoas estranhas zombam dele aos pés da cruz. Jesus é morto, morto na cruz como um criminoso. O sofrimento por si só já é uma grande tragédia, mas e o sofrimento do Jesus inocente? Como podemos entender o sofrimento de Jesus?

É certo que todos nós já passamos por momentos na vida em que o sofrimento simplesmente não faz sentido: o sofrimento de uma pessoa amada que de repente é acometida por uma doença grave; um bebê natimorto - as grandes expectativas do pai e da mãe se transformaram numa existência dolorosa. Ou uma pessoa viúva, que se pergunta, por que meu parceiro, minha parceira morreu para tão jovem? O sofrimento decorrente da depressão que às vezes leva uma pessoa, mesmo uma pessoa cristã, ao suicídio. O sofrimento neste país, no Brasil e no mundo por causa da covid-19 - muitas mortes infelizmente devido à irresponsabilidade de líderes políticos que negam o perigo do vírus e não providenciam uma estratégia bem elaborada para lutar contra a pandemia. Esses são apenas alguns exemplos de sofrimento que oprimem o espírito humano - sofrimento sem sentido, injusto, inocente ou solitário.

Desde as origens da humanidade até aos dias de hoje, as pessoas, diante do sofrimento, têm lidado com a pergunta “porquê?”. Independentemente da religião que professem ou mesmo entre aqueles que não professam nenhuma religião, perguntamos “por quê?”, tentando encontrar algumas respostas para lidar com as duras realidades da vida. E não existem respostas fáceis. Mas precisamos dizer algo, caso contrário corremos o risco de ficar paralisados pelo medo e desesperança.

Para as primeiras comunidades cristãs, a experiência de Jesus crucificado levantou perguntas, medo e perplexidade. Quem é Jesus se ele morreu crucificado? Não está escrito em Deuteronômio, “Quem for pendurado num madeiro está sob a maldição de Deus” (Dt 22,23)? E a mensagem de Jesus? Que Reino de Deus é este, se o Deus proclamado por Jesus foi derrotado na cruz? Como entender e aceitar o grito de Jesus, “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”.

O Novo Testamento traz várias interpretações da morte de Jesus. Além do testemunho dos quatro evangelhos, temos as cartas de Paulo e de outras pessoas que abordam precisamente estas questões. O Novo Testamento nos dá várias perspectivas. No entanto, há um fio comum que conecta essas várias interpretações da cruz: o sofrimento de Jesus é um gesto do amor de Deus. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito” (Jo 3.16), como está escrito no evangelho de João. Ou em Paulo, “Deus prova o seu amor por nós, porque enquanto éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós” (Rm 5.8).

Sejamos claros de antemão que o amor de Deus não é uma glorificação do sofrimento. O sofrimento não é um fim em si mesmo. Deus não tem prazer com sofrimento. E o amor de Deus não tolera a injustiça que causa sofrimento, não se compactua com a opressão que machuca as pessoas e a criação de Deus. O amor de Deus, porém, é um amor que disposto a sofrer, um amor que se torna vulnerável para buscar proximidade e intimidade. O amor de Deus arrisca tudo, mesmo o risco de ser magoado e rejeitado. Talvez, se você é pai ou mãe, você sabe que o amor envolve sofrimento. Há momentos em que sofremos por causa de nossos filhos ou sofremos com os nossos filhos.

Em verdade, você e eu, somos a paixão de Deus. Deus está disposto a se arriscar e sofrer por nossa causa e conosco. Por isso Deus se torna vulnerável na pessoa de Jesus, na cruz. Jesus não morreu por Deus. Ele morreu por nós. Sua morte é a expressão máxima do amor persistente de Deus, um amor solidário para com o sofrimento humano. “Só um Deus sofredor pode nos ajudar”, escreveu o pastor alemão Bonhoeffer preso pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial. “Só um Deus sofredor pode nos ajudar” porque um Deus sofredor nos ama a ponto de conhecer o nosso sofrimento. Por amor, Deus está disposto a tornar-se totalmente humano, próximo e vulnerável, e na dor, dor materna, Deus dá à luz uma comunidade de pessoas que vive em solidariedade umas com as outras, que reconhece que Deus caminha conosco em nosso sofrimento, que vai ao encontro de outras pessoas para lhes aliviar o sofrimento. Esta é a comunidade de pessoas que confessam que o amor de Deus se revela no Jesus crucificado e que o sofrimento não tem a última palavra, mas a vida, a vida nova, a vida conduzida pelo Jesus ressuscitado é a vontade Deus. é a palavra última de Deus para nós. Amém.
 


Autor(a): P. Me. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 27 / Versículo Inicial: 35 / Versículo Final: 50
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 62014
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O Senhor renova as minhas forças e me guia por caminhos certos, como Ele mesmo prometeu.
Salmo 23.3
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