“Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu” Ec 3.1.
Vejamos o seguinte cálculo: um ano tem 365 dias; em um ano temos 8.760 horas, neste mesmo ano temos 525.600 minutos. É muito tempo à disposição para ser preenchido com alguma atividade. Como poderíamos preencher este tempo? Temos algumas atividades básicas que são necessárias para cada ser humano realizar. Por exemplo: gastamos em média durante um ano: 550 horas pra comer; 2.920 horas pra dormir e 1.936 horas pra trabalhar (considerando uma jornada de 8 horas diárias). Somando nossas horas ocupadas, teremos 5.406 horas para nossa sobrevivência básica. Restam 3.354 para outras atividades de livre escolha.
Se uma pessoa tirasse apenas 15 minutos por dia para ler a bíblia, orar e meditar, no final do ano teria ocupado 182 horas para ter intimidade com Deus. Ainda restam 3.172 horas para ser preenchido com alguma atividade. Se calcularmos estas horas em dias, teremos 132 dias para outras eventuais ocupações. Claro, nem sempre podemos fazer as coisas de forma tão simples. Mas esta simples reflexão nos revela que temos tempo, muito tempo à disposição no qual nós nos ocupamos com muitas atividades. É verdade que nem sempre olhamos desta forma.
Estamos vivendo numa época onde sempre estamos muito ocupados, com trabalho, com preocupações familiares, e tantas outras preocupações corriqueiras que ocupam o nosso tempo. Estamos sempre lutando para ter mais tempo. Estamos sempre tentados fazer mais atividades no menor tempo possível. A impressão que dá é que os dias são mais curtos e temos menos tempo para nós e para os nossos familiares. Quando percebemos passou mais um mês, mais um ano, e quase nada mudou, ou se mudou, foi muito pouco. Na verdade gostamos de ocupar nossas horas com inúmeras atividades. Algumas destas atividades realmente são necessárias, outras nem tanto. Esta forma de viver aumenta cada vez mais o estresse, causa muita ansiedade e por esta razão estamos cada vez mais cansados e provavelmente nos tornaremos doentes num futuro bem próximo.
A literatura mais vendida nos últimos tempos é de autoajuda, mas na verdade não ajuda muito, ou quase nada. Cada vez mais as pessoas estão à procura do verdadeiro “eu interior”. Outras tantas estão cada vez à procura de “meditações” ou os famosos “retiros de silêncio”. Parece que algo está errado na jornada da humanidade. Está faltando alguma coisa, ou talvez algo que foi esquecido ou quem sabe, abandonado na jornada da humanidade. As pessoas estão cada vez mais ocupadas, cada vez possuem menos tempo para si e pra sua família, logo estão mais estressadas.
Surge a pergunta: O que vamos fazer? Como podemos ter uma melhor qualidade de vida?
O autor do livro de Eclesiastes nos diz que há ocasiões certas para todos os propósitos debaixo dos céus. A primeira impressão que temos é que tudo acontece num tempo determinado e por isso está fora do controle humano e ninguém poderá interferir. Parece que ninguém pode escolher a época ou o tempo em que os eventos da vida devam acontecer. Isto pode ser verdade, mas não é isso que o autor quer dizer. Alguns aspectos da vida têm seu tempo determinado e com um propósito bem definido por Deus, como por exemplo: a chuva, o inverno, o verão, dias ensolarados, e tantas outras situações. Estas situações estão fora do controle humano por que são determinados por Deus. Assim percebemos que Deus está inteiramente ligado à questão do tempo.
Da mesma forma como Deus está ligado ao tempo, também nós estamos ligados de forma parcial ao tempo, o qual nos é oferecido pelo próprio Deus para administrar da melhor forma possível. É natural que precisamos descobrir o que vamos fazer com o nosso tempo o qual está a nossa disposição. Precisamos decidir quais são as atividades que vamos realizar, e em que tempo ou época queremos realizar o planejado. Não há nada de errado nisso. É preciso levar em conta que cada decisão que tomamos para ocupar o nosso tempo, sempre terá as suas consequências, quer sejam elas boas ou ruins. Desta forma o ser humano interage com o tempo, sendo algumas vezes de forma saudável, outras vezes trazendo prejuízos para si e para seu semelhante.
Melhor seria se pudéssemos orar como o salmista: “Ensina-nos [Senhor Deus] a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria”. Sl. 90.12. O salmista não está se referindo no sentido de saber quantos dias ele vai viver. Bem pelo contrário, é uma oração onde ele pede que o Senhor Deus, o criador do tempo, o auxilie a usar bem o tempo que possuí para crescer em sabedoria. Podemos aprender com o salmista e também orar como ele, pedindo que Deus nos ajude a usar o nosso tempo com sabedoria. Orar no sentido que nossas decisões e as nossas atividades beneficiam a vida. Portanto, a melhor forma de ocupar o tempo de forma útil é incluir Deus no nosso tempo, ou melhor, deixar com que Ele mostre como administrar o tempo da melhor forma possível. Assim teremos menos preocupações sobre os eventos da vida que estão fora do controle humano. Permitindo que Deus participe da nossa vida e que Ele ocupe parte do nosso tempo, a vida pode se tornar melhor com menos estresse. Agindo assim temos a promessa de que iremos alcançar um coração com sabedoria para tomar decisões que sejam a favor da vida.
“Senhor, ajude-nos a usar bem o tempo que nos confiaste, para que alcancemos um coração mais sábio em relação a nós e a nossos semelhantes”.
P. Ivanildo Laube
Capelania hospitalar
Hospital e Maternidade Jaragua - Jaraguá do Sul/SC