Eis que as trevas cobrem a terra, e a escuridão os povos;
Mas sobre ti aparece resplandente o Senhor, e a sua glória se vê sobre ti.
(Isaías 60.2.)
Estamos vivendo o tempo de Advento. É tempo em que se vive a expectativa e a caminhada em direção ao Natal. Vive-se o tempo em que as pessoas que acreditam em Deus, especialmente se dedicam a preparar o espírito e seu entorno para comemorar bem o Natal.
Advento? Natal? Fazem sentido no mundo secularizado em que vivemos? Mais e mais se ouve falar em Natal como a festa da hipocrisia, onde se sentem abraços carregados de formalidade, mas sem calor. Onde sorrisos amarelos são disparados de forma automática, para não estragar a festa. Onde, ouve-se dizer, pessoas se dão presentes e abraços num dia, para nos demais 364 continuar se odiando, discriminando e virando as costas.
É só isso que resta? Se dependesse de projetos humanos e capacidade nossa, provavelmente restaria apenas essa avaliação extremamente crítica e negativa. Não obstante, continuará a ser Natal em 2006. E não por nossa vontade ou organização, mas porque o Natal é do próprio Deus.
Será Natal em 2006, porque Deus vai trazer novamente a esperança, não porque conseguimos transformar Natal na festa do consumo, por excelência.
Será Natal em 2006, porque o Deus nascido na manjedoura quebra todos os paradigmas possíveis, até mesmo o que define que aquela tão desejada reconciliação é impossível.
Será Natal em 2006, porque Deus inverte os valores e nasce em meio a uma estrebaria, é anunciado aos miseráveis pastores nos campos de Belém, mas é reconhecido e venerado pelos sábios do Oriente.
Por esses motivos todos, porque Deus o quer assim, será Natal em 2006. Isso nos abre a porta para podermos abraçar com calor, arrependimento, e desejo claro de conceder perdão. Não precisamos preservar imagem de fortes, inabaláveis em nossas convicções, firmes em nossas decisões, por mais absurdas e geradoras de sofrimento que sejam.
As trevas do sofrimento, da separação, da solidão ainda cobrem o nosso mundo e a nossa vida. Mas será Natal em 2006, pois Deus o quer assim. Isso nos enche de possibilidades para preparar e comemorar o Natal do jeito que gostaríamos: sem grandes pompas, mas com o abraço caloroso carregado de saudade, que promete alegria e esperança duradouras. Sem grandes presentes, mas com o sorriso franco, aberto, mesmo com a lágrima do arrependimento ainda escorrendo do canto do olho. Sabendo que se ama e que se é amado, mesmo não conseguindo reunir todas as pessoas que se ama ao redor de si.
Em 2006 será Natal, por desejo de Deus. Podemos nos preparar para isso.
P. Erni Drehmer