Seguirei ao meu Bom Mestre | João 6.56-69

13º Domingo após Pentecostes

22/08/2021

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

Jesus não veio ao mundo para ser consumido, mas para ser seguido de coração; Jesus não veio ao mundo para ser explorado por causa do seu poder; Jesus não veio ao mundo estabelecer um reino terreno e político. Hoje, queremos descobrir com quais intenções em nossos corações estamos seguindo a Jesus ou nos dizemos “cristãos”. Por incrível que pareça, a intenção do coração diz tudo!

Jesus estava diante da tragédia do abandono. Muitas pessoas o estavam seguindo a partir dos grandes sinais que ele podia realizar. Em João 2.23, o apóstolo nos diz: “Estando Jesus em Jerusalém, durante a Festa da Páscoa, muitos creram no seu nome quando viram os sinais que ele fazia.” O que ele havia feito? Havia acabado de transformar água em vinho no casamento em Caná da Galileia (cf. João 2.1-12) e expulsado os comerciantes corruptos do Templo de Jerusalém (cf. João 2.13-21). Se aquele homem era capaz de todas estas coisas, o que lhe seria impossível? Além disso, seguir a este homem poderia trazer benefícios indizíveis! Porém, o próprio apóstolo João diz na sequência: “Mas o próprio Jesus não confiava neles, porque conhecia a todos. E não precisava que alguém lhe desse testemunho a respeito das pessoas, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana.” (João 2.24-25).

Agora, no capítulo 6 de João, Jesus dirigiu palavras duras aos seus “seguidores”. Eles queriam a continuidade da multiplicação dos pães e peixes; queiram apenas os benefícios do seguimento a Jesus. Porém, o próprio pão da vida eterna eles não queriam comer. Ansiavam encher suas barrigas do pão terreno, mas se negavam a crer em Jesus como pão que concede a vida eterna. Com apenas uma pregação, Jesus perdeu a multidão que o seguia. Não por ter anunciado algo errado, mas por ter pregado a pura verdade. Aqueles “seguidores” nada mais eram que um bando de interesseiros egoístas. Suas máscaras caíram. Quando isso acontece, a vergonha transforma-se rapidamente em ira. Jesus deixa de ser amado para ser cada vez mais odiado, até ser pregado em uma cruz!

Frederick Fyvie Bruce, um professor, escritor e estudioso da Bíblia, diz: “essas pessoas queriam o que Jesus não podia dar; e o que ele oferecia, eles não queriam ouvir”1. Ele diz também: “Ser atraído pelos sinais é uma coisa, entender e alegrar-se no seu sentido interior é outra coisa; e somente aqueles que têm esta última reação podem ser considerados seus discípulos verdadeiros”2. Aquelas pessoas abandonaram a Jesus e são elas mesmas que irão pedir a sua crucificação no lugar de Barrabás, o assassino.

O Senhor Jesus não quer meros consumidores de sinais, mas seguidores fiéis aos seus ensinamentos mesmo diante do sofrimento e da cruz. Agora, ele está diante da tragédia do abandono por parte de uma multidão que deixa de segui-lo por ele ter anunciado o que era verdadeiro a respeito de Deus. De fato, é melhor haver poucos seguidores fiéis do que uma multidão lotando um espaço apenas por causa dos seus interesses pessoais. Não é isso o que mais vemos hoje? Templos enchem quando a propaganda fala a respeito de curar e milagres; porém, quando a mensagem é a cruz, o arrependimento, a conversão, a salvação, o amor incondicional, a graça acolhedora de todas as pessoas, a misericórdia, então a grande maioria fecha seus ouvidos ao verdadeiro e santo Evangelho.

Jesus não veio ao mundo para realizar todos os nossos sonhos e nos tornar pessoas especiais. Não! Jesus veio ao mundo porque somos desgraçados e miseráveis pecadores que não podiam fazer nada por si mesmos a não ser se conduzirem cada vez mais à perdição. Ele veio para realizar o sonho e os propósitos de Deus em nossa vida e não os nossos desejos egoístas. Se você acha que Deus existe para satisfazer todos os seus desejos, meu irmão e minha irmã, você está lendo a Bíblia de forma errada! O movimento é ao contrário: a partir da graça e da misericórdia recebidas, nós é que devemos procurar viver conforme os propósitos de Deus!

Também a Igreja de Deus não é um mero serviço na qual você faz uma assinatura e tem direito a um profissional da fé e aos serviços religiosos quando for necessário. Não! A Igreja não é uma empresa e o pastor não é seu funcionário! A Igreja é a comunhão de pecadores que creram no evangelho, arrependeram-se e agora buscam viver de acordo com a vontade de Deus através do seu tempo, dos seus talentos e do seu tesouro. A igreja não é uma prestadora de serviços religiosos, mas o próprio corpo de Cristo, lugar de comunhão e vivência cristã!

Portanto, qual tipo de seguidores nós somos? Quais são as nossas reações ao ouvirmos as palavras duras de Jesus? Werner Kohlscheen, um missionário da Missão Evangélica União Cristã – MEUC – em Blumenau/SC (um movimento missionário ligado à IECLB) interpretou João 6 falando dos quatro tipos de seguidores de Jesus3. Vamos descobri-los?

1 SEGUIDORES DE JESUS DO TIPO “BORBOLETA”

As borboletas voam de uma flor para a outra atraídas pelas cores das flores. Embora sejam muito bonitas, as borboletas procuram apenas tirar proveito das flores. Elas se levam facilmente por aquilo que mais chama a atenção.

Da mesma forma, existem pessoas que são atraídas por grandes relatos de milagres e acontecimentos sensacionais. Elas querem viver a fé apenas nas coisas extraordinárias, negando as coisas ordinárias e simples da vida. São esses que perguntaram a Jesus: “Que faremos para realizar as obras de Deus?” (João 6.28). Trata-se de um seguimento superficial a Jesus. Søren Kierkegaard, o grande e maior filósofo dinamarquês, diz: “O admirador é a edição barata popular de seguidor4. Jesus não chama para si admiradores, mas seguidores fiéis.

Seguidores do tipo “borboleta” não desejam ter um compromisso verdadeiro e sincero com Deus através da leitura da Bíblia e oração. Ao contrário, desejam apenas ter experiências extraordinárias com Deus, experimentar sensações entusiasmantes e crer através do que pode ser visto ao invés de crer pela fé nas coisas que não se veem.

Além disso, o seguidor “borboleta” revela ser uma pessoa sem convicções de fé, pois se deixa levar por qualquer “nova atração de fé” que aparecer diante dos seus olhos. Seu fundamento não está no Cristo morto e ressurreto, mas no mero consumo de experiências que pode ter com Deus. Por ser de todas as “fés”, acaba sendo de nenhuma. A grande desgraça é que continuará buscando e nunca estará satisfeito em lugar algum.

2 SEGUIDORES DE JESUS DO TIPO “CARANGUEIJO”

Se você frequenta a praia, então você sabe que os “siris” ou “caranguejos” sempre andam na marcha a ré. Quando percebem a aproximação dos passos de pessoas, eles logo estranham e “voltam para trás”, escondendo-se em suas tocas. É assim que evitam qualquer tipo de confronto com o perigo.

Da mesma forma, há pessoas que seguem a Jesus enquanto ele fala o que agrada aos seus ouvidos, mas “voltam atrás” quando o ensino de Jesus os confronta. É exatamente isso que aconteceu com a multidão. Quando Jesus não tinha nada mais nada a oferecer aos seus anseios egoístas, eles “voltam atrás” e o descartam como se nunca o tivessem conhecido e seguido. Eles preferem seguir as suas vidas medíocres do que ouvirem as palavras desafiadoras de Jesus. Os próprios discípulos de Jesus dizem ao mestre: “ – Duro é esse discurso; quem pode suportá-lo?” (João 6.60). E Jesus lhes responde: “ – Isto escandaliza vocês?” (João 6.61).

Mas, o que era tão insuportável no ensino de Jesus para que a multidão “voltasse atrás”? A resposta nós encontramos em João 6.58 onde Jesus havia lhes dito: “Este é o pão que desceu do céu, em nada semelhante àquele que os pais de vocês comeram e, mesmo assim, morreram; quem comer este pão viverá eternamente.” Jesus afrontou os desejos daquelas pessoas que queriam que o Senhor apenas enchesse as suas barrigas, sem um compromisso real com o Evangelho e com o Reino de Deus. Jesus fala da cruz! Jesus torna clara a necessidade de ele mesmo ser um pão amassado na cruz para que os pecadores possam receber a vida e vida em abundância. Sem o caminho que passa pela sua morte no Calvário, não há caminho para chegar a Deus e não há perdão de pecados.

Da mesma maneira, hoje se quer ouvir falar de experiências extraordinárias com Deus, mas se nega completamente o sacrifício de Deus por nós na cruz. Busca-se hoje uma experiência individual com Deus, mas se despreza completamente a comunhão com outros irmãos e irmãs e o compromisso com o Reino de Deus. Basta a igreja dizer algo que não gosto que deixo de ser membro, afinal de contas, quantas igrejas há por aí? Assim como aquela multidão, muitas pessoas endurecem seus corações ao ouvirem a verdade enquanto, na verdade, deveriam ir diante da cruz em arrependimento e conversão. Voltam atrás ao invés de irem diante do Deus misericordioso pendurado no madeiro!

3 SEGUIDORES DE JESUS DO TIPO “VAGALUME”

Antigamente, havia muito mais vagalumes voando pelos céus. Hoje, infelizmente, não há mais tantos. Talvez sejam mais vistos no interior. E, como sabemos, os vagalumes são “pisca-piscas” ambulantes que ligam a sua luz por um breve tempo, mas logo permanecem voando novamente na escuridão.

De maneira semelhante, existem seguidores de Jesus que por um tempo estão na luz das palavras do Senhor. São tocados pelas verdades da Palavra e despertados do seu sono de morte para a consciência da vida que há somente no Senhor. Porém, novamente, tudo não passa de uma mera aparência. No fim das contas, vivem na escuridão como inimigos de Jesus. João 3.19 nos diz: “a condenação é esta: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.”

Queridos e queridas, luz e trevas não se misturam. Ou caminhamos pela luz de Deus mesmo quando Jesus dirige palavras duras ao nosso modo de viver, ou caminhamos pelas trevas fingindo uma aparência cristã na qual não há essência alguma. O problema é que se não combatermos a trevas, elas nos dominarão cada vez mais. Em pouco tempo, serão toleradas e talvez até amadas.

Esta foi a grande tragédia na vida de Judas. Ele se deixou tomar pelas trevas mesmo andando ao lado do Senhor Jesus. No fim das contas, trocou Jesus por meras trinta moedas de prata. Judas estava completamente em escuridão ao ponto de trocar o maior tesouro do mundo – Jesus – por meras trinta moedas de prata. A escuridão da cobiça e da ganância tomou conta da sua vida. Certamente, após a ressurreição, Jesus seria misericordioso e aceitaria o arrependimento de Judas. Porém, Judas decidiu seu próprio destino: quando a culpa se tornou insuportável, ele infelizmente tirou a própria vida.

Amados e amadas, não deixemos as trevas ocuparem lugar na nossa vida. Ou enfrentamos o pecado ou ele devagarinho tomará conta da nossa vida sem percebermos. O pecado instala-se em nossa vida como um vírus. E tudo o que o inimigo precisa para fazer isso é que vivamos em escuridão. Não seja um seguidor do tipo “vagalume”, mas decida caminhar pela luz de Deus mesmo que o mundo queira correr contra ou por cima de você.

4 SEGUIDORES DE JESUS DO TIPO “SERVO FIEL”

Jesus dirige aos discípulos uma pergunta confrontadora: “ – Será que vocês também querem se retirar?” (João 6.67). Esta é a pergunta que Jesus dirige também a nós nesta manhã: ainda queremos segui-lo de verdade ou vamos continuar “brincando de igrejinha”? Vamos mudar a nossa vida ou continuaremos apenas consumindo Jesus e a igreja? Vamos levar a vida cristã a sério ou vamos continuar achando que os nossos pecados não produzem consequências terrenas e eternas?

A verdade é que os discípulos não tinham outra pessoa para seguir. Por isso, Simão Pedro disse: “Senhor, para quem iremos? O Senhor tem as palavras da vida eterna, e nós temos crido e conhecido que o Senhor é o Santo de Deus.” (João 6.68-69). Esta é a confissão de fé sincera e verdadeira que Deus quer ouvir das nossas bocas! “As circunstâncias não importam! Mesmo que a minha vida seja ordinária e sem muita coisa de especial, eu seguirei ao Senhor!” O convite é que sejamos verdadeiros seguidores de Jesus em todas as circunstâncias das nossas vidas.

Um seguidor autêntico de Jesus:

a) aprende a ouvir: Os discípulos dizem a Jesus: “Tu tens as palavras da vida eterna.” (João 6.68). A multidão abandonou a Jesus, negando ouvir os seus ensinamentos. Só restaram aqueles doze discípulos. Muita coisa ainda vai acontecer: Judas irá trair a Jesus; enquanto Jesus irá orar suando sangue, os discípulos vão dormir tranquilamente, abandonando seu mestre; Pedro irá negá-lo três vezes; porém, após a ressurreição, os onze discípulos ouvem atentamente as palavras de Jesus para que sejam testemunhadas no mundo inteiro;

b) aceita a palavra de correção: Ninguém gosta de ser advertido ou corrigido. Porém, isso é importante e necessário. A Palavra de Deus é Lei e Evangelho: Lei que acusa e Evangelho que perdoa! A Palavra de Deus nos confronta, mas também nos consola. Só seremos restaurados da nossa vida de perdição através da própria Palavra de Deus. Portanto, é preciso ouvir e aceitar quando o Espírito usa a Palavra para corrigir o nosso caminho;

c) aprende a obedecer: Assim nos diz Tiago 1.22, o irmão de Jesus: “Sejam praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando a vocês mesmos.” A partir do ouvir da Palavra, Deus exige 4 letras de nós: O-B-D-C. É preciso viver de acordo com Evangelho para que o mundo veja a luz de Deus através de nós;

d) confessa o nome do seu Senhor: Ele está convicto de que Jesus é o Filho de Deus enviado pela nossa salvação. Não possui temor ou vergonha de crer e testemunhar isso em público, inclusive aos seus familiares e amigos. Por ter recebido o maravilhoso amor de Deus, busca demonstrar em sua própria vida esse amor para que mais pessoas creiam.

Amados irmãos, amadas irmãs,

Jesus não veio ao mundo para ser consumido, mas para ser seguido de coração. Vivemos um tempo de relacionamentos superficiais fundamentados em interesses pessoais. Quando se perde o interesse, descarta-se a outra pessoa como se nunca tivesse feito parte da própria vida. No tempo em que vivemos, compromisso é tido como algo ultrapassado.

Contudo, Deus não nos chama a outra coisa hoje senão a um compromisso fiel, verdadeiro e de coração com o Senhor. Através da Palavra, Jesus está nos convidando a segui-lo quando ele nos dá bênçãos, mas também quando ele nos confronta. Hoje, Deus está nos doando gratuitamente a oportunidade de seguimos o seu Filho com toda a sinceridade do nosso coração. Não deixe esta oportunidade passar!

Hoje, Deus nos convida a abandonarmos o consumo de fé para aceitarmos um compromisso de fé puro e verdadeiro. Hoje somos chamados a irmos diante da cruz em arrependimento sincero para que recebamos o perdão dos nossos pecados. Quem realiza esta obra é o próprio Deus. Abandone seus interesses religiosos e siga a Jesus com sinceridade, confrontando o mundo e os seus males.
Uma multidão abandonou a Jesus. Nós também o abandonaremos quando ele diz o que não queremos ouvir? Ou o seguiremos com ainda mais amor assim como ele nos amou e se entregou por nós em uma cruz? A nossa oração é que o próprio Espírito Santo de Deus te conduza à melhor decisão de tua vida! Jesus já te escolheu! Receba a graça e viva sinceramente com ele. Amém.


13º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | VERDE | TEMPO COMUM | ANO B

22 de Agosto de 2021


P. William Felipe Zacarias


1 BRUCE, Frederick Fyvie. João: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1987. p. 148.

2 BRUCE, 1987. p. 148.

3 Cf. KOHLSCHEEN, Werner. João 6.60-71: “Tipos” de seguidores de Jesus. in: WIESE, Werner (ed.). Caminho e Testemunho. Uma proposta para grupos de estudos bíblicos. Vol. XIII, nº 2. São Bento do Sul: União Cristã, 2016. p. 66-69.

4 Em alemão: “Der Bewunderer ist die billige Volkausgabe des Nachfolgers”.


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Área: Missão / Nível: Missão - Coronavírus
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 6 / Versículo Inicial: 56 / Versículo Final: 69
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 64048
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