Salmo 98 - Cantai louvor e gratidão!

Prédica

29/04/1956

CANTAI LOUVOR E GRATIDÃO!
Salmo 98 

Na sequência destes domingos de após-Páscoa, tempo de alegria da Igreja, enquadra-se este domingo de hoje com o seu nome Cantate, chamando e convidando-nos a fazermos o que nos diz este Salmo: Cantai! Cantai ao Senhor um cântico novo! E este apelo que nos é feito, inclui que não pode haver discussão nem dúvida alguma sobre se temos ou não motivo para isto. Mas, olhando para a nossa vida real de cada dia, certamente confessaremos que ela não é assim, que sempre nos sentíssemos dispostos a cantar, e de fato, pouco ela faz transparecer do júbilo e louvor com Salmos e hinos e cânticos espirituais. Falta-nos o tempo, e se houver tempo, estamos cansados; ficamos atrás do que queríamos, não pudemos ser aos outros o que devíamos — e tudo isso é como um grande peso, e parece-nos até natural que não estejamos alegres, e que nenhum cântico provenha dos nossos lábios. 

Mas, a palavra de Deus não pergunta pela nossa disposição, nem pelos nossos sentimentos. Ao contrário, nos diz que, estejamos dispostos ou não, em todo o caso existe razão suficiente e poderosa para alegrarmo-nos e cantarmos. E como para ajudar-nos, este Salmo nos toma pela mão para mostrar-nos aquela realidade que nós, sob as lutas e preocupações diárias e passageiras, esquecemos, e na qual, no entanto, temos o grande motivo de cantarmos louvor e gratidão: a realidade do eterno, poderoso e benigno Deus! Cantai ao Senhor um cântico novo, porque Ele fez maravilhas; a sua destra e o seu braço santo lhe alcançaram a vitória. O Senhor fez notória a sua salvação, manifestou a sua justiça perante os olhos das nações. E nós, ouvindo como comunidade cristã este Salmo, que em sempre novas palavras nos convida a louvar ao Senhor que fez maravilhas, vemos diante de nós aquela maravilha que é o fundamento de toda a fé cristã, e pela qual Deus nos fez notória a nós a sua salvação: a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos — ela é o motivo, pelo qual somos chamados a jubilar, a cantar. Porque aqui se manifesta: Deus está conosco, Deus é a nosso favor. Lembrou-se de nós em sua benignidade — esta é a realidade que nos é mostrada, e ela permanece, quando tudo o que hoje nos preocupa e preenche os nossos dias, já tiver passado. Se ouviste o evangelho da Páscoa, se é verdade também para ti que Cristo vive e está contigo, então ouve e considera bem, o que hoje te diz a palavra de Deus. Seja qual for a tua situação, não te falta motivo para cantar louvores e gratidão. Assim, de fato, desde sempre a Igreja é uma Igreja que canta, dando com seus hinos testemunho de sua fé, respondendo com gratidão aos grandes feitos de Deus. 

Nos Atos dos Apóstolos lemos que o apóstolo Paulo e seu companheiro Silas, na cidade de Filipos, foram açoitados e depois encarcerados, sofrendo todo o ódio e a adversidade do mundo contra o evangelho da cruz. Mas eles não se queixaram, não desesperaram, mas, ao contrário, lemos: Perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos escutavam (16,25). Hinos de louvor, do fundo da noite, no cárcere — deve ser um forte, imperioso motivo que ali os fez cantar! Mas a verdade é que os mais profundos hinos de nossa Igreja, verdadeiros testemunhos da fé cristã, nasceram em horas semelhantes, horas de perigo e perseguição, em que nada mais havia de auxílio, onde a própria vida parecia perder o seu sentido, e já a escuridão envolvia as almas — e estes hinos expressam a fé e a confiança daqueles que em meio de sua aflição experimentaram a benignidade do Senhor. Que Deus mesmo nos quer ser o nosso auxílio, fazendo-nos notória a sua salvação, fazendo-nos ouvir a palavra de sua graça e paz que não se apartarão de ti, a palavra da cruz e da ressurreição, do Salvador que vive, ao qual pertencemos, em cujo reino vivemos, neste tempo e eternamente — onde esta certeza nos for dada, só poderemos responder cantando e louvando a Deus que faz maravilhas.
E esta certeza nos é oferecida pelo evangelho da ressurreição de Jesus Cristo. A Igreja, com sua própria existência no mundo, por através de 20 séculos, é um testemunho eloquente desta maior das maravilhas de Deus, da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. E os seus primeiros hinos foram cânticos de júbilo pela vitória: Cristo ressuscitou! Realmente ressuscitou! Vencida foi a morte e o seu poder! Sim, Cristo vive — e por isso vive a Igreja. Ela pode ser perseguida, mas não pode ser aniquilada. Não lhe foi prometido que o seu caminho por através deste mundo seria um caminho fácil e glorioso, mas foi lhe dito, ao contrário, que haveria de ser odiada e desprezada — mas as portas do Hades não prevalecerão contra ela. Cristo vive, e Ele disse: Também vós vivereis, (João 14,19) por isso vive a Igreja, e quanto mais ela sabe isto, tanto mais só pode louvar e agradecer ao Senhor, em palavras e ações, por seus hinos e por sua existência toda. 

Assim este domingo Cantate nos pergunta pela nossa resposta hoje ao evangelho que nos foi anunciado, dos grandes feitos de Deus. E a nossa resposta não pode ficar reduzida a este domingo, a esta hora aqui. Pois para sempre permanece a graça de Deus, e sempre permanece o motivo de cantarmos louvores a Deus. E somos chamados a cantar um cântico novo. Este novo não se refere à idade. Novo é aquele cântico que não nasce do nosso entusiasmo, da nossa boa disposição, em horas alegres e festivas, mas que nasce do que Deus tem feito e que nos é anunciado pela sua palavra. Para que possamos cantar um cântico novo, não nos ajuda nenhum método de avivamento, mas é preciso sermos nós mesmos criaturas novas que não mais olham para o que é visível, mas para o que é invisível. A pregação da palavra, das maravilhas de Deus, ela chama e torna possível como resposta o cântico novo da comunidade. Quem em Crista está, criatura nova é, passou-se o que era velho, eis que tudo se tornou novo. (II Cor. 5,17) E este cântico novo será louvor e gratidão ao Senhor que em sua benignidade se lembrou de nós. Mas, diz Martin Luther, quem não quer cantar das maravilhas de Deus, com isso indica que não as crê. 

E compreendemos que este Cantai não se refere apenas aos hinos que cantamos em alta voz, dando com eles testemunho perante os homens, de nossa fé, e nos quais nos sabemos unidos com todos que pertencem ao mesmo Senhor, com a Igreja de todos os tempos e lugares, os hinos, nos quais está presente, ao mesmo tempo, e fala a nós a experiência da fé, o consolo e a esperança daqueles que eram antes de nós. Cantai — isto é dito também àqueles que não sabem cantar em alta voz; pois refere-se à atitude toda, a toda a nossa existência — que ela seja um cântico de louvor e gratidão pelo que Deus tem feito por nós. Que Ele, o Deus que faz maravilhas, que vence com a sua direita, em sua benignidade se lembrou de nós, se tornou o Deus conosco — que isto é realidade para nós, e que não há ninguém que se pudesse excluir, e portanto ninguém que não tivesse motivo de gratidão; pois a ele, justamente ao sofredor é anunciada a boa nova do evangelho. 

E esta gratidão não pode ficar escondida no coração. Cristo disse: Quem me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai celeste. (Mt. 10,32) O louvor da comunidade aqui no culto deve ser confirmado e sublinhado pelo louvor de cada cristão em cada dia, no trabalho, no convívio com os outros, em casa; deve ser confirmado pela atitude toda, pelo amor à Igreja, pela frequência regular do culto, pela alegria e espontaneidade com que procuramos fazer alguma cousa pela comunidade, e também pelo modo como damos as nossas ofertas, consideradamente, conforme Deus nos tem abençoado. Tudo isso é confessar Jesus Cristo perante os homens. 

Deus nos conceda que se note em nossa vida um pouco desta gratidão e alegria. Que ela seja e sempre mais se torne nossa resposta clara ao que Deus tem feito por nós.

Pastor Ernesto Schlieper

29 de Abril de 1956 (Cantate), Porto Alegre 

Veja:

Testemunho Evangélico na América Latina

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Ernesto Theophilo Schlieper
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 5º Domingo da Páscoa
Testamento: Antigo / Livro: Salmos / Capitulo: 98
Título da publicação: Testemunho Evangélico na América Latina / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1974
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19719
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Ao deixar de orar por um único dia sequer, perco grande parte da minha fé.
Martim Lutero
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