Salmo 1 Caminhando sob a lei do Senhor

Autoria P. Me. Alexander Busch

02/08/2020

 

Estimada comunidade, minhas irmãs e irmãos em Cristo,
O reformador Martinho Lutero se referiu ao livro de Salmos como “uma pequena bíblia. Dentro dela, tudo o que consta na Bíblia inteira nos é apresentado como de uma forma bela e resumida . . . toda pessoa que quer orar e recolher-se pode se servir do livro de Salmos. Seria bom que toda pessoa cristã se familiarizasse a tal ponto com este livro que o soubesse de cor, palavra por palavra e pudesse citar, em toda circunstância, uma passagem apropriada” (Lutero Obras vol. 8 “prefácio ao Livro de Salmos”).


Quem tem acompanhado minhas meditações nestas últimas semanas já sabe que tenho falado a partir do livro de Salmos - um livro bíblico muito importante para Lutero, mas não apenas para ele. Lutero era monge e no mosteiro ele e a comunidade da qual fazia parte oravam os Salmos várias vezes ao dia, todos os dias da semana. Praticamente a comunidade no mosteiro orava todo o livro de Salmos no decorrer de uma semana. Por isto, Lutero podia recomendar que toda pessoa cristã deveria saber de cor as palavras deste livro.

Agora, você e eu não vivemos num mosteiro – que, por sinal, ainda nos dias de hoje, mantém esta prática de orar regularmente os Salmos. Você e eu temos uma rotina diferente. Mas mesmo assim, como pastor e membro da comunidade de Jesus, eu quero recomendar a leitura, a oração e meditação a partir do livro de Salmos. 

Por exemplo, de manhã antes de iniciar as atividades do dia, incluir a leitura silenciosa e pausada de um salmo, deixando que as palavras lhe toquem, e perguntado a Deus: “O que eu posso aprender a praticar a partir destas palavras? Como estas palavras moldam as minhas orações e as minhas ações?”. 

Portanto, convido você a meditarmos juntos com o Salmo 1, a primeira oração que abre o livro de Salmos. E logo de início, nos chama a atenção que o Salmo 1 não se parece com uma oração - pelo menos não como uma oração como nós estamos acostumados de ouvir. 

“Bem-aventurado é a pessoa que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Pelo contrário, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite”. Esta não é uma oração em que o salmista está se dirigindo diretamente a Deus. O salmista fala como que na presença de Deus, falando para as outras pessoas, a partir da sua fé, a partir da sua experiência e caminhada na vida. 

No livro de Salmos encontramos orações semelhantes, que, segundo os pesquisadores bíblicos, eram usadas na reunião da comunidade. Ou seja, é uma oração em comunidade. Mesmo que uma pessoa esteja falando, a comunidade está ouvindo, orando junto e refletindo o que estas palavras significam para suas vidas. O que nós podemos aprender a praticar a partir destas palavras?

A primeira palavra dita pelo salmista é “bem-aventurado . . . bem-aventurado é a pessoa”. Muitas vezes, esta palavra “bem-aventurado” é também traduzida no português como “feliz . . . felizes são as pessoas”. É o que diz uma das traduções da Bíblia que nós usamos em nossa igreja – a IECLB. Bem-aventurado tem a ver com felicidade, mas está muito além do sentimento de uma felicidade momentânea, passageira, mesmo que seja muito intensa, como no dia do casamento, da benção matrimonial na igreja e a festa com as famílias e as demais pessoas convidadas. Bem-aventurado tem a ver com a felicidade do dia a dia, a felicidade como a de um casal que está feliz ao lado um do outro, do casal que mantém um compromisso e aliança um para com o outro. Bem-aventurado é como aquele chão firme que existe na vida de muitos casais que, mesmo em meio ao vento forte e águas tempestuosas, permanecem juntos. O lar deste casal é um chão firme e seguro.

Esta imagem do casamento nos ajuda a entender a palavra bem-aventurado usada pelo Salmo 1. Mas percebam que não é sobre casamento que o salmista está falando: Bem-aventurado é a pessoa cujo prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. O salmista encontra um chão firme e seguro na lei do Senhor. É debaixo da lei do Senhor que a pessoa orante caminha, confiando na aliança que existe entre ela e Deus.

Certamente a palavra lei nestes dias não cai bem aos nossos ouvidos. Estamos cansados de leis e decretos, por mais necessários que sejam para prevenção e cuidado durante esta pandemia. E infelizmente, por causa do cenário político olhamos com desconfiança para as muitas leis e informações que circulam entre nós. O sentimento que predomina muitas vezes é de confusão e dúvida. 

Mas a lei da qual o salmista nos fala é uma lei maior, a lei de Deus. Aliás, a palavra lei aqui poderia ser traduzida como instrução ou ensino. Bem-aventurado é a pessoa cujo prazer está na instrução do Senhor, e no seu ensino medita de dia e de noite. Deus conhece as nossas limitações. Deus sabe o quanto nós precisamos ter alguém que nos conduza pelo caminho da vida, pelo melhor caminho da vida, o caminho da bem-aventurança. 

Pois em nossa vida temos muitas ofertas de diferentes caminhos por onde seguir. Alguns destes caminhos nos levam a praticar o bem. Outros caminhos nos conduzem para o mau caminho, para atitudes que nos distanciam de Deus e que machucam pessoas ao nosso redor. O salmista se refere a estes caminhos como o caminho das pessoas ímpias, pecadoras, e o caminho das pessoas justas, das pessoas que se deixam conduzir pela instrução de Deus.

Mas antes que alguém pense que o salmo está dividindo a humanidade entre pessoas boas e ruins, antes que alguém diga cheio de orgulho-próprio, “eu não sou como aquelas pessoas”, importa lembrar o salmo está chamando todas as pessoas, incluindo você e eu, a meditar constantemente na lei do Senhor e se deixar ensinar pelo Senhor.

O salmo denuncia a realidade humana, a realidade do pecado, a realidade do descaminho. A realidade é que nós, seres humanos, queremos dirigir nós mesmos o nosso caminho. Nós queremos decidir qual o percurso a seguir. A questão que o salmista coloca diante de nós, não é tanto uma questão de moralidade, de fazer o certo ou errado, mas sim a vivência a partir da fé em Deus. Quem dirige a minha vida? Deus ou eu mesmo? Quem pauta nossas decisões? Deus ou nós mesmos? 

Por isto, o salmista insiste que a bem-aventurança, o chão firme e seguro está na lei do Senhor. “Bem-aventurado é a pessoa que tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei, ou instrução, medita de dia e de noite”. 

E ainda mais Deus nos envia Jesus, o Salvador, para nos ensinar e nos conduzir pelo caminho da lei do Senhor. Jesus inclusive tem a ousadia de sentar-se na roda de pessoas “pecadores” para dar bons conselhos: “Bem-aventurados as pessoas que ouvem a palavra de Deus e a guardam” (Lc 11.28). Jesus não tinha receio de caminhar com pessoas que falhavam e duvidavam de sua palavra. Os 12 discípulos estavam no caminho aprendendo e, muitas vezes, sendo corrigidos por Jesus. E quando anunciava o juízo de Deus, a primeira intenção de Jesus era alertar, advertir e chamar as pessoas para um caminho diferente, um caminho melhor, um caminho onde o Senhor nos conduz e nos ensina a orar, onde o Senhor nos ensina a confiar, onde o Senhor nos ensina a caminhar neste mundo conforme a sua vontade diante de Deus e diante das pessoas ao nosso redor. Amém.

 


Autor(a): P. Me. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Antigo / Livro: Salmos / Capitulo: 1
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 58108
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Cristãos autênticos são os que trazem a vida e o nome de Cristo para dentro da sua vida, pois o sofrimento de Cristo não deve ser tratado com palavras e aparências, mas com a vida e com a verdade.
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