Sal e Luz | Mateus 5.13-16

2º Domingo na Quaresma | Instalação dos presbitérios das comunidades Bom Pastor e Vida Nova e da Paróquia

01/03/2023

 

Amados irmãos, amadas irmãs,


vou fazer uma pergunta a que peço que respondam com sinceridade: como é que estava a pipoca que vocês receberam no início do culto? Estava boa? Salgada? Insonsa? Doce? Sem gosto? Por favor, sejam sinceros. (Diálogo e opiniões).


A gente só percebe a importância do sal quando falta, não é? Como é comer uma pipoca sem sal? E deixa eu perguntar pra gente também: e como é um mundo sem sabor? Como é uma vida sem sentido/direção?


Hoje é um dia muito importante para todos nós enquanto Paróquia Ferrabraz. Logo mais teremos a instalação dos presbitérios das Comunidades Bom Pastor e Vida Nova e do Presbitério Paroquial. São membros que decidiram colocar seu tempo e seus dons a serviço do reino. Mas a missão não é apenas deles. Eles são nossos representantes. Mas a tarefa de ser sal é luz é uma tarefa de todos os batizados. Por isso, como igreja, também temos a tarefa comunitária de testemunhar do Evangelho para o mundo.


Como Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, estamos à caminho das comemorações dos 200 anos de Presença Luterana no Brasil. Tudo começou naquele 25 de Julho de 1824 e desde lá muito aconteceu. Nossa IECLB pode até ser pequena diante de outras denominações em nosso país; mas, certamente, não é uma igreja irrelevante.


Tivemos um começo nada fácil. No início, os luteranos precisaram lutar para que as pessoas tivessem acesso a cemitérios e a uma educação para os seus filhos. Além disso, por a Igreja Católica ser a Religião Oficial do Império do Brasil (conforme a constituição de 1822), os matrimônios entre luteranos não eram reconhecidos pelo Império e os filhos desses casamentos não eram considerados cidadãos. Da chegada em 1824 até a Proclamação da República em 1889, os luteranos tiveram que lutar muito por seus direitos. E não havia pastores para cuidar do rebanho de Deus. Surgiram então os “pastores-colonos” que com dedicação assumiam a função pastoral – como o Johann Georg Klein (1822-1915) em Sapiranga/RS, por exemplo.


Numericamente, a IECLB é uma “igrejinha” a nível nacional. Isso porém não impede que seja um importante fermento na massa que é a sociedade brasileira. Nossa teologia é uma teologia sólida, fundamentada nas Escrituras e com a orientação dos credos ecumênicos e da Confissão de Augsburgo Inalterada. Diante da famigerada Teologia da Prosperidade, mantemos em nossa identidade confessional a Teologia da Cruz que não significa apenas olhar para o Cristo crucificado no passado, mas também para aqueles que são crucificados hoje.


Nossa fé e nossa vida não são alienadas do sofrimento. Como diz o nosso pastor historiador Dr. Martin Norberto Dreher:


A IECLB rejeita por meio do Credo Apostólico do ano de 150 e do Credo de Niceia de 325, além do Credo Atanasiano, qualquer forma de pensamento que nega que Deus seja capaz de sofrer e de solidarizar até às últimas consequências com os seres humanos e a criação.


Designa-se a isso, no Catecismo e na Confissão de Augsburgo, dois escritos calcados na teologia de Lutero, de Teologia da Cruz.1

 

É assim que a nossa IECLB reconhece a Deus: no crucificado. Dreher diz:


Não temos outra maneira de saber e de reconhecer quem e como Deus é, senão através de Jesus Cristo: Deus tem o rosto do Crucificado, pois até mesmo o Ressurreto tem as marcas, as chagas do Crucificado. Deus padece, sofre por causa do ser humano e de sua criação e a cruz de Jesus é clamor do amor incondicional de Deus por causa da criação e do ser humano, mas também sua denúncia de tudo o que o leva a cruz.2

 

Teologia da cruz é a nossa principal identidade confessional. E essa Teologia da Cruz é que faz a IECLB ser fermento no solo brasileiro. Não são poucas as contribuições da IECLB para as áreas educacional e diaconal em nosso país: são mais de 20 hospitais, mais de 50 instituições de ensino, três faculdades de teologia, o Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia – CAPA – com 5 núcleos, o Conselho de Missão entre Povos Indígenas com atuação nas regiões Norte e Sul do Brasil, três rádios e uma série de outras instituições com vínculo confessional, além de participar de órgãos ecumênicos como o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – CONIC, Conselho Latino-Americano de Igrejas – CLAI, Federação Luterana Mundial – FLM e do Conselho Mundial de Igrejas – CMI. Sim! Somos uma igreja pequena! Contamos hoje com um pouco mais de 600 mil membros. Esse número, porém, de forma alguma significa que somos irrelevantes. A IECLB tem sido sal da terra e luz do mundo em todo o Brasil.


Igreja que é Sal e Luz também na cidade de Sapiranga. Estamos a mais de 170 anos presentes nessa cidade. Somos hoje oito comunidades da IECLB dentro do território sapiranguense. Temos o Colégio Duque de Caxias que é referência em qualidade de ensino. O terreno em que está localizado o Hospital Sapiranga foi doado pelas comunidades e o início da construção do hospital se deu com recursos que o P. Hermann Götz buscou na Alemanha. Em toda a cidade estão as marcas da nossa presença luterana: Escola Pastor Rodolfo Saenger, Rua Martin Lutero, Rua Pastor Diestch. Podemos ser uma igreja pequena. Mas nunca fomos e nunca seremos irrelevantes!


O desafio é continuarmos a ser o que somos: sal que dá sabor e luz que ilumina o caminho. Para entendermos melhor o que significam essas duas expressões usadas por Jesus, convido a refletirmos brevemente em dois pontos:

 

1    SAL DA TERRA

 

Hoje o sal tem a função primordial de dar sabor à comida. Entretanto, essa não é a sua única utilidade. O sal serve para muitas outras coisas.


Jesus viveu muitos séculos antes da invenção da refrigeração. Por isso, naquele tempo o sal tinha a função de conservar alimentos – como certamente muitos pais de vocês também chegaram a fazer.


Nos tempos do Israel bíblico, o sal era muito usado para diferentes finalidades e com diferentes simbologias. Crianças recém-nascidas eram banhadas com sal como medida de higiene e prevenção contra infecções (cf. Ezequiel 16.4). Também se fazia a aplicação do sal ao solo para melhorar a sua fertilidade, com vistas a melhores colheitas.


Além disso, a palavra do latim Salarium tem origem na palavra Sal. Conforme o P. Prof. Dr. Rodolfo Gaede Neto, “significava o auxílio oferecido aos soldados romanos para que pudessem comprar o sal tão necessário em cada dia”3. Desta forma, o Salarium representava a lealdade entre o empregado e o empregador.


Portanto, ser sal da terra se aplica a muito mais que “dar sabor” ao mundo. Ser sal da terra quer dizer que


o discipulado consiste em desenvolver ações que evitem a deterioração da comunidade humana; ações que conservem a humanidade com a identidade que lhe é própria enquanto criação de Deus; ações que proporcionem mais qualidade ao “solo” no qual a vida se desenvolve, para que boas colheitas e um bom salarium tragam mais qualidade de vida; ações que evitem a corrupção e a morte; ações que construam a amizade, o relacionamento saudável, a hospitalidade, a comunhão de mesa e o bom sabor para a vida; e, finalmente, ações que visem manter a lealdade e a fidelidade no que diz respeito à aliança entre Deus e a sua comunidade.4

 

Ou seja: ser sal da terra significa prática; tem haver com ação! Não é só falar; é fazer! Ser sal da terra significa ter coerência entre fala e ação. Não basta orar e testemunhar. É preciso agir! E nossa IECLB age muito para ajudar os que sofrem no solo do nosso país.

 

2    LUZ DO MUNDO

 

Já as funções da luz são bem conhecidas: dissipar a escuridão, melhorar a visão do caminho, orientar com segurança os navegantes etc.


Jesus Cristo é a luz do mundo (cf. João 1). Nós apenas refletimos a sua luz. A luz de Jesus não veio ao mundo para ficar escondida; ao contrário, é luz que deve ser erguida e manifestada a todos os lugares. Não é luz que deve ficar em segrego; ao contrário, é luz a ser divulgada. Não é luz que apaga; ao contrário, é luz que ilumina para sempre. Ilumina as nossas mentes e corações para que coloquemos em prática o Evangelho.


Não somos chamados a praticar a nossa fé de maneira isolada. Isso seria o equivalente a uma lâmpada escondida. Nossa tarefa não é se esconder do mundo, mas agir no mundo! A igreja e os cristãos não são chamados a se alienarem do mundo. A fé é vivida no mundo com seus desafios, sofrimentos, angústias e cruz. Não se vive o Reino de Deus senão no mundo!


Fé cristã não é fé vivida em monastérios distante da realidade das cidades. Ao contrário, fé cristã é vivência cristã nas cidades. E essa fé é agir na ajuda aos que carregam sua cruz. Se os problemas não são físicos, podem ser emocionais, mentais e até espirituais. Não somos igreja que foge dos sofrimentos, mas igreja que acolhe e ampara os sofredores.


Por isso, fazemos parte de campanhas – como a campanha Vai-e-Vem.


A IECLB vai ao encontro das pessoas e também convida a participar da edificação de uma igreja aberta, acolhedora e inclusiva e, ao mesmo tempo, com inserção propositiva na sociedade, junto às pessoas que sofrem. Desta forma, a Campanha Vai-e-Vem reforça a unidade da IECLB, ajuda a desenvolver a consciência missionária dos seus membros, além de fomentar a sua autossustentabilidade como Igreja no Brasil.5

 

Assim, somos chamados a refletirmos a luz de Jesus – ele é a luz do mundo. Não temos o poder de transformar o mundo inteiro. Mas temos a missão de influenciar pessoas a viverem os valores do Reino, a começar pela busca da justiça, da paz e da vida digna pra todas as pessoas.

 

Amados irmãos, amadas irmãs,


“sal da terra e luz do mundo, é nossa missão que tempera e reflete o Cristo que traz salvação”. Hoje experimentamos uma pipoca sem sal. Mas fiquem tranquilos, ao final do culto todos receberão um pacotinho com uma pipoca devidamente salgada. Da mesma forma, tenhamos orgulho de sermos IECLB. Podemos ser uma igreja pequena, mas não somos irrelevantes. E nunca jamais trocaremos a nossa Teologia da Cruz por qualquer outro vento de doutrina que queira soprar sobre nós. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os nossos corações e as nossas mentes em Cristo Jesus, amém.



2º DOMINGO NA QUARESMA | VIOLETA | CICLO DA PÁSCOA | ANO A

05 de Março de 2023


P. William Felipe Zacarias


1 DREHER, Martin Norberto. “História e teologia do primeiro artigo da Constituição da IECLB”. in: IECLB. Caderno de Estudos 2023-2024. Porto Alegre: IECLB, 2023. p. 33.

 

2 DREHER, 2023. p. 34.

 

3 GAEDE NETO, Rodolfo. “Sal da terra e luz do mundo. A visão de uma igreja missionária em Mateus 5.13-14 e a campanha vai e vem”. in: IECLB. Caderno de Estudos 2023-2024. Porto Alegre: IECLB, 2023. p. 41.

 

4 GAEDE NETO, 2023. p. 42.

 

5 GAEDE NETO, 2023. p. 45.


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 13 / Versículo Final: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 69754
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