Leitura Bíblica Básica: Romanos 4.13-25
Outras Leituras:
Autor: P. Elton Pothin
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Origem: CEJ - Paróquia Martin Luther
Cidade: Joinville - SC
Data da pregação: 08/03/2009
Data Litúrgica: 2º Domingo da Quaresma / Reminiscere
Prédica:
Prezada Comunidade aqui reunida.
Estamos no segundo domingo da quaresma. Lembramos neste tempo do caminho de Jesus rumo à cruz, seu sofrimento e sua morte em nosso favor pra que nós pudéssemos alcançar o perdão dos pecados, vida e salvação pela fé nele. E este texto de Paulo em Romanos 4 está como base de pregação justamente porque ele nos mostra que a salvação é graça de Deus, nos ofertada de forma gratuita através de Jesus, nunca merecimento nosso através do cumprimento de preceitos da lei judaica.
Para nós, cristão luteranos brasileiros do século XXI, isto é natural – “Pastor, quem é que não sabe disso?”
NO ENTANTO, para os cristãos da primeira geração após a morte de Cristo (entre os anos 30 e 50), isto não estava claro.
De acordo com Atos 2.46, os primeiros cristãos da cidade de Jerusalém, “diariamente perseveravam unânimes no templo.” Isto significa que iam ao templo para as orações da manhã e das três horas da tarde. Cumpriam também as purificações rituais, os sacrifícios, os jejuns e a observância do sábado. Eram também fiéis às normas alimentares judaicas. Eram, portanto, FIÉIS À LEI JUDAICA. A ÚNICA DIFERENÇA em relação aos demais judeus é que não esperavam mais o Messias, pois eles acreditavam que Jesus era o Messias (Uma introdução à Bíblia, volume 7, p. 65, de Ildo Bohn Gass). Para os primeiros cristãos da cidade de Jerusalém, ser cristão era: 1. Crer em Jesus; 2. Cumprir toda a lei judaica, inclusive deixar se circuncidar.
Para os primeiros cristãos das comunidades do mundo romano, fora de Jerusalém e da Pelestina, havia a compreensão de que, par ser cristão, basta aceitar pela fé a obra salvífica de Jesus por nós – BASTA CRER EM JESUS -, não sendo necessário ser fiel à lei judaica, pois, como diz Paulo em Romanos 10.4: “o fim da lei é Cristo.” (Uma introdução à Bíblia, volume 7, p. 68-70, de Ildo Bohn Gass). E, de Colossenses 2.13 ouvimos há pouco: “Antigamente vocês estavam espiritualmente mortos por causa dos seus pecados e porque eram não-judeus e não tinham a lei. Mas agora Deus os ressuscitou junto com Cristo. Deus perdoou todos os nossos pecados e anulou a conta da nossa dívida. Ele acabou com essa conta, pregando-a na cruz.” Não é a observância da lei que nos dá a salvação nem é condição para ser cristão, mas a fé em Jesus.
Esta divergência de compreensão levou a conflitos e fez com que Apóstolos e presbíteros se reunissem em Jerusalém para debater a questão. Este encontro é conhecido como CONCÍLIO DOS APÓSTOLOS e está relatado em Atos dos Apóstolos 15 e Gálatas 2. De acordo com Atos 15, a resolução da questão foi: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes.” (v. 28 e 29) Gálatas 2 já conta um resultado diferente, onde está dito que não houve restrição nenhuma. Paulo escreve: “e, quando conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para a circuncisão; recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também me esforcei por fazer.” (v. 9,10) Na história da Igreja cristã, acabou prevalecendo que, para ser cristão, basta a fé em Jesus, sem observância a qualquer preceito judaico que seja.
E Paulo, para defender a tese de que, para ser cristão, basta a fé em Jesus, usa o exemplo do próprio Abraão, o Pai da fé judaica. Diz Paulo que não foi pelo cumprimento da lei judaica que Abraão alcançou graça diante de Deus, mas por CONFIAR, por CRER NAS PROMESSAS DE DEUS e se pôr a caminho, atendendo ao chamado de Deus – “Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé. Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações. Não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o que prometera.” (Romanos 4.13, 18, 20, 21)
Abraão confiou, acreditou, creu que seria pai, mesmo quando a velhice e a esterilidade de Sara, sua mulher, com 90 anos, diziam o contrário – e nasceu Isaque. Abraão creu quando Deus lhe fez a promessa: “de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome.” (Gênesis 12.2) E Abraão partiu de sua terra, obedecendo, crendo e confiando na promessa de Deus.
Este texto de Paulo ecoa através dos tempos e chega a nós.
1. Chega até nós neste tempo de quaresma e quer nos dizer que nós devemos seguir o exemplo de Abraão: CONFIAR, CRER DE CORPO E ALMA EM DEUS, EM JESUS, pois Deus pode realizar tudo que promete.
2. Este texto de Paulo chega até nós e quer nos dizer neste tempo de quaresma que somos SALVOS PELA GRAÇA DE DEUS SOMENTE, graça revelada na cruz de Cristo – e BASTA ACEITAR ESTA GRAÇA, RECEBENDO-A COM GRATIDÃO PELA FÉ, NADA MAIS. Ele sofreu e morreu por nós, pagando pelos nossos pecados na cruz. Por isso, já Lutero dizia que, diante de Deus, somos mendigos, nada mais.
Que possamos viver em confiança, fé e gratidão a Deus em nossa vida pela salvação oferecida gratuitamente em Cristo para todos nós.
Amém.