O Ano Internacional da Luz foi o foco central da terceira edição anual do Seminário do Galo Verde, no dia 12 de setembro. O Centro de Eventos Rodeio 12 reuniu 35 ambientalistas e interessados em promover a gestão ambiental nas igrejas.
A temática foi abordada em três palestras pela manhã e em três oficinas após o almoço. Uma reflexão na abertura, feita pelo vice pastor sinodal Sigfrid Baade, abriu os trabalhos, e um ato litúrgico com plantio de árvore marcou o encerramento das atividades.
Luz e energia – Especialista em energias alternativas, o físico aposentado Johannes Gerlach traçou um perfil da matriz energética brasileira. Para o alemão radicado no Brasil, o país explora muito mal seus recursos energéticos. Ele sabe do que fala. A casa em que vive com a esposa brasileira Maria Velasco, em Paulo Lopes/SC, é 100% abastecida com energia solar.
“O lago artificial da usina de Itaipu gera 17% de toda a eletricidade produzida no país. Se esta mesma área fosse coberta com placas solares, seria possível produzir 50% de toda a eletricidade nacional ali, com impacto ambiental muito menor”, compara.
Em visita ao Brasil, o pastor Wolfgang Schürger, coordenador da pastoral ambiental da Igreja Evangélica Luterana na Baviera/Alemanha, falou sobre as possibilidades da nova tecnologia LED para iluminação em templos, centros comunitários, pátios e cemitérios, por exemplo. Em diversas comparações, demonstrou que o custo inicial é rapidamente recuperado com a economia de energia dessas lâmpadas e sua enorme durabilidade. Schürger é também responsável pelo programa Galo Verde na Baviera, o Gruener Gockel, e entusiasmado apoiador do Galo Verde no Brasil.
A encíclica Laudato Si, divulgada pelo Papa Francisco em junho, foi tema de palestra apresentada pelo gestor ambiental e leigo católico Clovis Silva. “Não é uma encíclica verde, mas ambiental com perspectiva social”, afirma Silva. “O papa também não faz apenas um discurso religioso sobre cuidado da criação, mas nos torna responsáveis pela preservação da obra de Deus para as futuras gerações”, emenda. O texto da encíclica traz profundas informações, com ampla pesquisa nas últimas conclusões científicas sobre os problemas ambientais que a humanidade impinge ao planeta.
Oficinas – Após o almoço, três oficinas nortearam os trabalhos. O professor José Constantino Sommer coordenou uma oficina sobre recursos energéticos e eficiência. “Não aprendemos as lições energéticas da natureza”, contemporizou, comparando o corpo humano às máquinas criadas pela humanidade. Enquanto o organismo humano, com pouco combustível, é capaz de produzir energia suficiente seu funcionamento, mantendo a temperatura em 37o, um carro consome muito combustível e desperdiça tanta energia que nem podemos tocar no motor sem queimar as mãos, comparou.
Em outra oficina, coube a Maria Velasco apresentar o dia a dia de uma casa 100% movida a energia solar. Com baterias, é possível armazenar energia elétrica suficiente para os dias de chuva. Quando as nuvens insistem em cobrir o sol, é necessário diminuir o consumo desligando aparelhos. “Não temos ligação com a rede pública de energia”, explica.
A geladeira é a última em caso de falta de energia. Entretanto, isso ainda não foi necessário, embora a casa em que vive com Johannes Gerlach esteja numa região com pouca incidência solar. “Só uma vez deixei as baterias chegarem a 17% de sua capacidade, o que é ruim para o sistema. Aí, desliguei tudo à noite e fui dormir no escuro. No outro dia, o sol fez tudo voltar ao normal”, conta. “Nosso sonho de consumo é ter também um veículo elétrico”, finaliza.
A terceira oficina tratou dos detalhes de implantação do Programa de Gestão Ambiental Galo Verde. Apresentada pelo professor Nélcio Lindner, e pelos pastores Clovis Lindner e Guilherme Lieven, a oficina deu os passos para ser “galo verde”.
Como demonstração prática, foi apresentado ao grupo proposta de Programa de Gestão Ambiental do Centro de Eventos Rodeio 12. Após sua homologação pela direção da casa, ele será detalhado no site www.galoverde.org.br e à imprensa.
Sinal concreto – O seminário foi finalizado com uma celebração litúrgica coordenada pelo pastor Lieven. O kyrie acerca da destruição da criação foi celebrado e, depois, uma árvore foi plantada. Coube ao pastor Wolfgang Schürger fazer o plantio.
Ao final, biscoitos com formato de galo e pintados de verde foram distribuídos a todos os participantes, como celebração e envio. Uma frase, apresentada de manhã na palestra de Gerlach, resume o desafio: “O recurso mais escasso não é o petróleo, nem o gás e tampouco o urânio; é o tempo que ainda temos para adaptar a nossa maneira de viver às demandas e limites do nosso meio ambiente” (Russell Train).