Religiões se unem em ato contra a violência em São Paulo

16/05/2006

Representantes de doze tradições religiosas, de órgãos do Estado, de organizações não-governamentais e de movimentos sociais participaram de um ato inter-religioso de repúdio à violência e em solidariedade às famílias das vítimas dos ataques contra bases da Polícia, bancos e outros estabelecimentos promovidos pelo crime organizado em São Paulo desde a última sexta-feira. Em 251 ataques contabilizados, 96 ônibus foram queimados e morreram 115 pessoas, sendo quatro civis e 40 agentes – policiais militares e civis, integrantes da Guarda Metropolitana e agentes penitenciários.

“Que as nossas mãos estejam abertas para recebermos a paz tão necessária. Assim como as religiões estão aqui juntando as mãos em súplica, pedimos que Deus inspire as autoridades para que se unam e consigam acabar com o derramamento de tanto sangue”, disse na cerimônia a pastora Vera Cristina Weissheimer, da Paróquia Centro de São Paulo da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), uma das participantes da cerimônia. “Deus, suplicamos, derrama sobre todos o Teu amor e a Tua misericórdia tão necessária nesses dias de horror e lamento”, completou a pastora.

O ato foi realizado na Catedral da Sé, no Centro da cidade, no início da tarde da segunda-feira (15). Cada representante religioso fez uma prece pela paz ao mesmo tempo em que se solidarizava com os familiares dos policiais que tombaram no cumprimento do dever. O padre Julio Lancelloti e Dom Pedro Luis Stringhini, da Arquidiocese de São Paulo; o sheik Armando Hussein Saleh; a monja Coen, presidente da Comunidade Zen-Budista do Brasil; Francisco de Oxum, do Instituto Nacional de Tradição e Cultura Afro-Brasileira; e a pastora Nancy Cardoso Pereira, da Igreja Metodista, estavam entre os presentes. “A situação se torna mais bárbara porque as vítimas são profissionais que estão a serviço da Justiça e dos direitos da população civil. Não foi fatalidade, foi brutalidade, que não pode ficar impune”, disse Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista. “Exigimos das autoridades federais, estaduais e municipais que somem forças para investigar os crimes cometidos e infligir a pena cabível aos responsáveis”, cobrou o rabino.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) assistiu à cerimônia ao lado do ex-ministro da Justiça José Gregori, para quem o ato mostrou que “os que defendem os direitos humanos estão preocupados com a vida de todos, inclusive a dos agentes do Estado que foram covardemente atacados neste final de semana”. Para Denis Mizne, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, um dos organizadores do ato, “o momento é de solidariedade aos policiais, e de união, indignação e repúdio contra todos aqueles que atacam o Estado”. O prefeito Gilberto Kassab também se manifestou. A Polícia Militar foi representada pelo coronel Salgado Nascimento.

O arcebispo metropolitano de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, não compareceu porque participa da assembléia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no interior do Estado, mas divulgou nota na qual afirma que “é preciso que a sociedade inteira não aceite ser refém dos criminosos, bem como urge que o poder público tome novas iniciativas para aprimorar nosso sistema penitenciário e coibir que ele continue sendo escola de criminalidade e sirva de organização para o crime”. O ato inter-religioso foi encerrado com uma oração para a qual todos os presentes na Catedral deram-se as mãos e pediram paz para São Paulo.

Boatos e medo

Pouco depois da cerimônia, ainda nas primeiras horas da tarde, São Paulo seria varrida por uma onda de medo, incentivada pelas cenas de horror dos dias anteriores e por boatos sobre a possibilidade de novos ataques nas ruas. O comércio fechou as portas mais cedo; empresas, shoppings, escritórios e fábricas liberaram seus funcionários. As aulas nas faculdades, especialmente no período da noite, foram suspensas. As pessoas tentaram voltar para casa o mais rapidamente possível, mas a paralisação de boa parte da frota de ônibus e o excesso de carros no já complicado trânsito da metrópole trouxeram ainda mais dificuldades para milhões de cidadãos. À noite, ruas e avenidas que em geral têm movimento intenso estavam desertas. Com seus mais de dez milhões de habitantes, a maior cidade do Brasil – aquela “que nunca pode parar” – parou, definiu a imprensa paulista.

Nesta terça-feira, São Paulo tenta retomar sua rotina. O metrô e os trens circulam normalmente. A maior parte da frota de ônibus deixou as garagens trafegando com escolta no início da manhã.

Muita gente, porém, preferiu não sair de casa. O movimento nas ruas, no transporte coletivo e no comércio está bem abaixo do normal. Muitas escolas cancelaram as aulas, e boa parte das faculdades preferiu dispensar os alunos e permanecer com as portas fechadas.

A onda de rebeliões em penitenciárias de todo o Estado, também deflagrada no final de semana, foi encerrada no início da noite da segunda-feira. De acordo com informações de vários órgãos de imprensa, essa “trégua” teria sido negociada pelo governo paulista com as lideranças da facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC. O governador Cláudio Lembo (PFL), que é membro da Igreja Presbiteriana do Brasil e já foi reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, nega que tenha havido acordo.

Fonte: Paulo Hebmüller, jornalista luterano, de São Paulo
 

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