Em diferentes sociedades e culturas, ao longo dos tempos, a religião tem deixado marcas. E não se trata apenas de uma religião específica. De modo geral, diferentes religiões marcam diversas áreas e dimensões da vida humana, muito além do estritamente espiritual. Exemplos disso são formas de cultivo da terra, a forma arquitetônica de prédios ou mesmo no exercício do poder político.
Evidentemente, nos séculos mais recentes, buscou-se certa superação da influência da religião sobre a vida humana. Com o advento da ciência e do uso proeminente da razão, compreensões religiosas passaram a ser vistas com menosprezo. E não há dúvida quanto a importância que os avanços científicos trouxeram não apenas para a humanidade como para a compreensão de todo universo.
Inúmeros cientistas, por mais que criticassem expressões religiosas, reconheceram a sua influência na vida social. Embora não representassem alguma religião, Durkheim, Weber, Marx, Gramsci, além de outros, introduziram importantes parâmetros de análise de formas religiosas. Hoje, sabe-se que determinada forma de expressão religiosa pode servir tanto para manter um povo pacificamente oprimido quanto para fomentar transformações profundas numa sociedade.
Isso evidencia que, apesar de tudo, o fenômeno religioso não ficou sem valia e nem tende a desaparecer. Pelo contrário, manifesta-se com bastante vigor, mesmo em sociedades que se proclamam cientificamente mais avançadas. E sua influência em processos eleitorais não pode ser minimizado.
Em nosso País, apesar de haver ampla liberdade de fé, de religião, de igreja, de escolha, de consciência e outras liberdades mais, em momentos eleitorais, diferentes grupos políticos buscam “arrebanhar” os votos de grupos religiosos – mesmo que a afinidade inexista. Por outro lado, também ocorrem corporativismos religiosos, ou mesmo eclesiais, buscando eleger representantes de seu segmento.
Fato é que em nossa sociedade instituições religiosas ainda mantém uma auréola ética de defesa da vida. Inconsequente é alguém professar uma fé ética e votar em alguém aético. O resultado dessa relação entre religião e eleições tem deixado marcas arquitetônicas nefastas em todo prédio social.
P. Claudir Burmann,
Par. Massarauduba
Especialista em Ciências da Religião
Fonte: A Notícia