Relatório Sinodal 2018

31/05/2018

Relatório para XXII Assembleia Sinodal – 31.05-02.06.2018

1. Palavras iniciais
“E que a paz que Cristo dá dirija vocês nas suas decisões,
 pois foi para essa paz que Deus os chamou
 a fim de formarem um só corpo” (Cl 3.15).

Nos dias 04-06 de junho de 2010, apresentei-me à Assembleia Sinodal do Sínodo Mato Grosso citando este versículo. Passados oito anos é hora de olhar pelo retrovisor para analisar o caminho percorrido. Não cabe, porém, olhar para trás de qualquer jeito. Espero poder fazê-lo com coerência e gratidão. Somente assim aquilo que for trazido à memória servirá como impulso e inspiração para o que está à nossa frente.
Durante esses anos em que exerço a função de P. Sinodal muitos de vocês já se habituaram a um estilo de relatório com caráter mais reflexivo. Mais do que trazer números, o propósito é compartilhar o que vivencio e percebo a partir da minha atribuição. O chamado e os dons que recebemos de Deus - assim nos lembra o versículo acima - apenas fazem sentido à medida que contribuem para a edificação do corpo de Cristo. Espero que o presente relatório possa cumprir com este propósito.
2. Não seria mais fácil falar somente da Igreja?
“Eu sou o Senhor, teu Deus” (Êx 20.2a).
Uma pesquisa interessante em nossas comunidades poderia ser acerca do que as pessoas esperam do culto. Parece-me que hoje a maioria espera que o culto traga ânimo para a vida, afinal, em meio a tanto estresse, precisamos de um lugar onde possamos renovar as forças. Em princípio, não há nada de errado se esse é o nosso anseio quando vamos à igreja.
No entanto, o culto, como momento especial de Deus se comunicar conosco, não se resume a dar um plus em nosso estado de ânimo. A palavra de Deus envolve toda a nossa existência. Nesse sentido, o Tema da IECLB para este ano, Igreja Economia Política, vem para nos lembrar que este mundo e tudo o que nele existe a Deus pertencem. Na compreensão de Lutero, Deus quer “governar” ou cuidar do mundo em três âmbitos: Igreja, Economia e Política. Ou seja, na igreja a palavra pregada não trata apenas de igreja. Ela trata da vida e de tudo aquilo que a envolve.
Tenho a impressão que, considerado o momento complicado no qual o país se encontra e por ser ano de eleições, o Tema será menos estudado. É mais fácil falar e ouvir somente de Igreja e de temas mais amenos. Economia mexe com o bolso. Inclui a pergunta se também deixamos Deus conduzir a forma de obtermos os nossos recursos e de como os gastamos. Inclui também a pergunta como lidamos com a criação que, diferente do que as vezes pensamos, está apenas temporariamente aos nossos cuidados e não é nossa posse. Se não bastasse, refletir sobre Economia inclui também a pergunta pela condição de vida do meu semelhante.
Mais complicado ainda é mencionar o assunto Política. Naturalmente, não se trata de antemão da questão partidária. Trata-se de perceber que a ideologia que defendemos tem relação com aquilo que cremos. Se, por exemplo, defendemos a pena de morte, precisamos equacionar isso com o quinto mandamento. A fé (o seu conteúdo) define a forma como exerço a minha cidadania. Não por acaso, a cruz e a Bíblia estão no centro do cartaz. É a palavra de Deus que orienta a condução na Economia e na Política, e não o contrário. Por exemplo, a partir da fé cristã não há como ficar indiferente se o recurso que falta nos hospitais está em malas escondidas ou em contas bancárias em paraísos fiscais.
A reflexão a partir do Tema do Ano levanta a inquietante pergunta acerca do contexto em que vivemos. Impossível negar que o cenário brasileiro é preocupante: crescimento da violência, aumento do desemprego, fragilização de direitos sociais (saúde, por ex.), corrupção, polarização. Poucos de fato apostam que as eleições de outubro possam representar uma esperança de mudança mais profunda. Nas palavras de Z. Bauman: “Cada vez menos os eleitores confiam nas promessas feitas pelas pessoas que elegem para governar; amargamente descrentes por causa de promessas não cumpridas no passado, os eleitores não chegam a esperar que desta vez as promessas sejam cumpridas” (Babel. p.15).
O culto deve sim nos animar para a vida. Mas, como expressão da vontade de Deus também quer nos ajudar a dar testemunho de fé em contexto de grande complexidade, como o nosso. Isso pode significar que o culto, além do ânimo, também pode (e vai!) trazer inquietação, tirar da zona de conforto e desafiar a mudanças de postura e à revisão de valores. Acima de tudo, por toda a vida, aquele que diz Eu sou o Senhor, teu Deus, quer moldar o nosso caráter: Como tu queres, Senhor, sou teu. Tu és o oleiro, barro sou eu.

3. Há sinais de paz e de graça
Há sinais de paz e de graça, neste mundo que ainda é de Deus.
Em meio aos poderes das trevas, manifestam-se as forças dos céus
(Livro de Canto, nº 582).

A caminhada do Sínodo MT acontece na realidade anteriormente descrita. Devemos reconhecer que no decorrer da história e também hoje cristãos e cristãs pelo mundo afora enfrentaram e enfrentam realidades bem mais difíceis do que a nossa. Ou seja, não se faz leitura do contexto para se deixar vencer pelo desânimo. Por isso, me animo a olhar no retrovisor dos últimos oito anos para destacar sinais da graça de Deus em nosso meio - sinais da graça de Deus como fruto do testemunho de muitas pessoas que servem com os seus dons.
3.1 – Planejamento/PAMI – Já não consigo conceber o ministério sem planejamento. Disse isso em 2010. Como dizem, “se alguém não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve”. Planejar, por sua vez, implica construir um objetivo comum a partir do olhar de um conjunto de pessoas. Não é o sonho de um (suposto) visionário. No período 2011-2018, foram duas fases de planejamento, de quatro anos cada. Nada muito mirabolante. Mas, as metas colocadas serviram como balizas para manter o foco. Como foi planejamento com os pés no chão, os propósitos colocados foram cumpridos quase integralmente. Nos últimos quatro anos as ações estiveram voltadas para: PAMI (2015), Música (2016), Jubileu da Reforma (2017) e Diaconia (2018). Aliás, sob o tema diaconia estão marcados para este ano dois seminários setoriais, um encontro setorial e, ainda, o tema da presente Assembleia.
A ênfase em planejamento não ficou restrita à instância sinodal. Foram realizados no período dois seminários para formação em planejamento missionário estratégico para lideranças e ministros/as, além da formação (mais enxuta) ocorrida na última assembleia. Em alguns momentos percebe-se que ainda há resistência a planejamento de médio e longo prazos nas comunidades, pois implica mudança de paradigma para lideranças e ministros/as. Por outro lado, é muito gratificante quando se percebe que aos poucos as experiências vão se multiplicando. Ouve-se testemunhos do tipo: “Os encontros de planejamento na comunidade foram muito bons. O pessoal se animou e se envolveu com a proposta”.
3.2 – Sacerdócio Geral – Não se trata de algo recente. Já vem de mais longe. Uma das grandes riquezas do Sínodo MT é o exercício do sacerdócio geral de todos que creem. O ministério não é propriedade dos/as ministros/as ordenados/as. Ele é compartilhado. Todos servem, como sacerdotes/sacerdotisas, a partir dos dons que receberam de Deus. Teologia não é monopólio daqueles que estudaram cinco ou seis anos para tanto, ainda que tenham uma responsabilidade a maior em sua área. Aos/às ministros/as cabe espraiar o que aprenderam de modo que a comunidade saiba manusear a Bíblia, dar razão da sua fé e ter clareza da sua confessionalidade.
Temos entre nós expressivo número de lideranças capacitadas para conduzir cultos, visitar doentes, realizar meditações e ofícios. São uma grande bênção. O presbitério, junto com seu ministro/a, pastoreia o rebanho (1 Pe 5.2) e tem as suas ações voltadas para as pessoas. Todos os demais assuntos de ordem estrutural e administrativa apenas fazem sentido se estiverem a serviço da meta maior: que as pessoas tenham oportunidade de experimentar o abraço e a presença de Deus. Vivenciei esta dimensão do sacerdócio de maneira muito especial nas diretorias do Conselho Sinodal. Eis um bem precioso de nossas comunidades (corpo) a ser preservado e ampliado.
3.3 – Coordenações Setoriais – Para ser mais funcional, o Sínodo MT se organiza em três setores: Centro-Sul, Leste e Norte. Uma meta colocada em prática desde 2012 são as coordenações setoriais. Em cada setor tem um/a ministro/a coordenador/a. É uma forma de descentralização. Quando da realização de Conferências Ministeriais são eles/as que, em diálogo com o P. Sinodal, pensam e propõem a pauta. Auxiliam na organização. Eles/as são também os responsáveis para promover o diálogo quando da realização de encontros no âmbito do setor.
Não é uma função oficial prevista em documentos normativos. Não existe uma definição por escrito do que compete aos/às coordenadores/as. As atribuições são passadas adiante “por tradição oral”. No meu modo de ver, trata-se de uma modalidade que, além de descentralizar, torna os trabalhos setoriais mais dinâmicos. Adicionalmente, colegas que assumem a função desenvolvem a capacidade de liderar.
3.4 - Suporte a Campos de Atividade (CAMs) – O contexto do Sínodo MT inclui expressivo número de Campos de Atividade que enfrentam o desafio da sustentabilidade. Vários ainda dependem de projetos. A nossa região não é a mais atingida pela crise econômica, mesmo assim percebe-se os seus efeitos. Um desafio assumido, ainda em 2011, em conjunto com a diretoria do Sínodo, foi promover reuniões com CAMs em situação mais crítica, na busca por alternativas para que pudessem reequilibrar o seu orçamento. O passo seguinte foi ficar atento para evitar que novas situações surgissem.
A iniciativa não impede que Campos de Atividade passem por dificuldade na execução orçamentária. Ela ajudou muito, no entanto, para eliminar aquelas situações nas quais o presbitério já não sabia o que fazer. Lembro de diversas reuniões realizadas com lideranças locais e ministros/as na busca por alternativas. Em todas as situações, o diálogo, a parceria e a solidariedade foram fundamentais.
3.5 – Permanência de ministros/as nos CAMs – Este é um assunto muito relevante. A experiência mostra que Campos de Atividade que passam por constante troca de ministros/as vão se fragilizando. Ao natural, onde exerce o seu ministério, o/a ministro/a passa a ser pessoa de referência para a comunidade e a sociedade. Mas, esse processo de tornar-se referência requer o seu tempo. A cada troca de ministro/a, as lideranças e os membros da comunidade precisam se habituar ao jeito daquele/a que está chegando, que será uma pessoa com uma história de vida diversa do seu antecessor. Às vezes, surgem circunstâncias nas quais a troca é inevitável. Cabe respeitar. Mas, no geral, três anos é tempo de menos.
Da mesma forma, ministro/a que a cada três ou quatro anos muda de paróquia também terá um ministério fragmentado. As experiências curtas impedirão o aprofundamento da relação com determinado lugar. Dificilmente terá a experiência de um planejamento missionário consistente. Como diziam os antigos: “Pedra que muito rola não cria limo”!
Neste tocante, temos motivos de gratidão como Sínodo MT. Ainda temos as situações de permanência pelo tempo mínimo. Contudo, nos últimos anos aumentou de forma significativa o número de renovações e de duração a maior de Termos de Atividade. Além disso, cresceu o número de ministros/as no sínodo que chegaram via candidatura e, portanto, com mais tempo de ministério. Percebe-se também expressiva migração interna no Sínodo, opção de quem se sente muito bem em nosso meio. Neste momento, temos 6 ministros/as que estão há mais de oito anos no Sínodo. Esta estabilidade a maior por parte dos/as ministros/as soma positivamente nos respectivos CAMs e nas atividades setoriais e sinodais.
3.6 – Organização de conselhos e equipes – Um desafio permanente para um sínodo com as dimensões do nosso é encontrar o equilíbrio na organização de conselhos e similares. A logística para realizar um encontro representativo de um dia em Cuiabá é desafiadora, pois inclui longas viagens, esforço, desprendimento e custos consideráveis. Em outras palavras, se não nos organizamos, ficamos apenas com as iniciativas locais e avulsas. Se quisermos organizar todos os segmentos, as “pernas” não darão conta.
A organização sinodal mais duradoura e consistente é da OASE. As mulheres têm a sua dinâmica. Esforço e dedicação nunca faltaram. A participação no Encontro Nacional de Mulheres em Foz do Iguaçu foi expressiva. O último seminário e assembleia sinodal tiveram excelente participação. O tema da violência contra a mulher foi abordado com excelência e ternura. Foi um encontro alegre e terapêutico.
Uma iniciativa que frutificou nos últimos anos foi a constituição do Conselho Sinodal da Juventude Evangélica – COSIJE. A participação e engajamento de jovens e ministros/as permitiu que os jovens organizassem melhor as suas atividades. O entusiasmo da turma é contagiante. No horizonte próximo está a participação no CONGRENAJE em Teutônia – RS. Serão três ônibus - em torno de 120 jovens. Em 2019 acontecerá o encontro sinodal. Para 2020, cogita-se a candidatura do sínodo para sediar o próximo CONGRENAJE.
A Equipe de Comunicação está consolidada. Inicialmente incluímos lideranças. Mas, as reuniões em meio de semana inviabilizaram a sua participação. Hoje o grupo é constituído por ministros/a. A Equipe desempenha o importante papel de refletir sobre o tema comunicação no Sínodo. Entre outras atividades, elabora o Informativo Sinodal, auxiliou na parte visual do Dia da Igreja e, por último, confeccionou o novo banner do Sínodo. A frustração ficou por conta do projeto do vídeo institucional do Sínodo. Não conseguimos dar conta da empreitada.
O mais jovem de todos é o Conselho de Diaconia, criado há dois anos. É uma causa que requer esforço e engajamento. O Seminário Sinodal de 2017 foi inspirador. A reunião do Conselho em fevereiro teve boa participação. A coordenação foi escolhida, bem como as representações no Conselho Sinodal e no Conselho Nacional. O Conselho de Diaconia é um “bebê” que precisa do cuidado e apoio de todos.
Outras áreas, como: Culto Infantil, Liturgia e Culto, Música, Educação Cristã Contínua não possuem organização sinodal. Ainda assim, as três últimas contam com representação do Sínodo nos Conselhos Nacionais.
3.7 – Dia da Igreja Sinodal – O relatório do Presidente do Conselho Sinodal já destacou o que representou este evento para o Sínodo MT. Muitos de nós que estão aqui sabem a logística que foi necessária para que o encontro pudesse acontecer. Ao mesmo tempo, a celebração do Jubileu da Reforma merecia e pedia que nos reuníssemos como família de confissão luterana do Sínodo MT. A comunhão, a celebração, o aprendizado e os reencontros foram marcantes. A avaliação foi predominantemente positiva, tanto que ficou o indicativo de que a cada 4 anos a experiência deveria ser repetida.
3.8 – Sintonia de propósitos com IECLB – O que compartilho neste ponto pode parecer óbvio. Ainda assim cabe dar destaque. A IECLB assumiu como forma de se organizar o modelo sinodal. Não somos congregacionais nem episcopais. Significa que a base da Igreja é a comunidade, cuja autonomia é relativa. As pessoas que ocupam funções para além da comunidade foram eleitas por um colegiado no qual elas estão representadas. Quem é eleito não recebe carta branca, mas tem a tarefa de servir com os dons, considerando o que está previsto nos documentos normativos. Isso tem implicações importantes.
O Sínodo MT caminha com os propósitos estabelecidos pela IECLB em âmbito nacional. Se não for assim, ajudamos a fragilizar e fragmentar o corpo. Cito como exemplos: PAMI, Campanha Vai e Vem, avaliação de Campos de Atividade. A sintonia também requer comprometimento com instâncias nacionais que pedem nossa presença. Isso vale para as representações em conselhos, grupos de trabalho, encontros e fóruns. Motivo especial de alegria e gratidão é o fato da Ema M. D. Cintra, nossa representante no Conselho da Igreja, ter sido escolhida como presidente do mesmo nestes últimos dois anos. Como P. Sinodal, ente outros, integro as bancas de colóquio para o Período Prático e o Grupo de Trabalho sobre Ministério Compartilhado.
3.9 – Organização interna e secretaria – O Sínodo conta com uma secretária executiva de tempo integral. A Rose é a “equipe”. A minha presença no escritório é fragmentada, pois a agenda inclui: reuniões em âmbito nacional, participação em programações setoriais e sinodais, presença junto a ministros/as e comunidades. A busca por equilíbrio na agenda é constante. Como muitos aqui sabem, o Sínodo teve nos últimos oito anos algumas trocas de secretária/o, por razões diversas. Neste contexto, um desafio adicional foi reconfigurar o arquivamento físico e virtual e aprimorar o sistema de lançamentos financeiros.
Podemos compartilhar com a assembleia, com gratidão, que chegamos a um nível bem razoável nessa organização. Naturalmente, sempre há o que melhorar, até porque é preciso acompanhar a dinâmica do nosso tempo. A estrutura física permanece como desafio. Destaco ainda que, no tocante ao escritório e ao seu bom funcionamento, a presença da Rose foi fundamental para consolidar um processo que já estava em andamento. Adicionalmente, a secretária executiva tem na dimensão relacional um dos seus pontos fortes, competência fundamental para interagir com ministros/as, lideranças e comunidades.

4. Desafios que permanecem
Enumeramos acima áreas nas quais identificamos positivamente motivos de gratidão e sinais da graça de Deus. Mas, temos questões nas quais precisamos reconhecer fragilidades ou desafios permanentes. Destaco algumas delas:
4.1 – Missão e crescimento numérico – Os dados estatísticos da IECLB referentes a 2016 e divulgados em 2017 colocam o Sínodo MT como aquele que teve o maior crescimento percentual dentre todos os 18 sínodos, considerado o período entre 2014 e 2016, com expressivos 9%. Um olhar mais superficial poderia nos deixar muito animados, imaginando que “encontramos a fórmula” para fazer a missão deslanchar na IECLB. Contudo, uma análise um pouco mais detalhada por Campo de Atividade vai nos colocar novamente com os pés no chão. O dado de maior impacto na estatística do sínodo vem da Comunidade de Sinop. Em diálogo com lideranças de Sinop, ficou claro que boa parte do expressivo crescimento está relacionado a um levantamento mais acurado do número de membros, se comparado ao período anterior. Ou seja, podemos nos alegrar porque, no conjunto, o número de membros parece estabilizado ou aponta para um ligeiro crescimento. Contudo, incrementar a missão de modo a resultar no aumento do número de pessoas em nossas comunidades continua sendo um grande desafio.
Aqui é oportuno mencionar o número de Campos de Atividade do Sínodo. No final de 2010 eram 24. Hoje são 26. Nesse meio tempo, consolidaram-se a Comunidade Missionária de Santarém, a Capelania Hospitalar e a Comunidade em Funções Paroquiais de Gaúcha do Norte. Mais recentemente foi criado o terceiro Campo de Atividade da Paróquia de Sinop. Entretanto, foi remanejado o segundo CAM da Paróquia de Matupá, de Cachoeira da Serra (Sul do Pará) para Guarantã do Norte. Além disso, o segundo CAM da Paróquia de Rondonópolis (criado em 2012), sediado em Alto Garças, precisou ser sustado por questões de sustentabilidade. Ou seja, aqui misturam-se as alegrias, os desafios e algumas frustrações.
Há ainda outro aspecto que chama a atenção. Percebe-se: a) uma tendência de diminuição do número de pontos de pregação; b) comunidades estão sendo transformadas em pontos de pregação; c) paróquias sendo transformadas em Comunidades em Funções Paroquiais. Caberia uma análise mais aprofundada. As causas parecem ser diversas. Algumas impressões: a) há vilas e pequenas cidades cuja população diminui, uma tendência, aliás, também em estados do sul; b) na atual conjuntura religiosa está mais difícil fortalecer pontos de pregação ou comunidades nas quais o/a ministro/a tem presença esporádica. Se as hipóteses estiverem corretas, o número ainda estabilizado de membros está relacionado ao deslocamento de pessoas para a cidade e ao fortalecimento das comunidades sede.
4.2 – Presença pública – O Jubileu da Reforma permitiu que em 2017 tivéssemos como Sínodo uma razoável presença pública em Cuiabá. Como exemplo: Lançamento do selo comemorativo aos 500 anos e entrevista em canal de televisão. Ao final do ano apresentou-se uma possibilidade de sessão solene pelo Jubileu da Reforma na Assembleia Legislativa. O tempo escasso e a consequente dificuldade em mobilizar lideranças e ministros/as das paróquias nos fez recuar. Além disso, percebemos que as sessões solenes vêm acompanhadas de um “pacote” que, no mínimo, levanta perguntas de ordem ética. Seja como for, deveríamos nos ter organizado com mais antecedência.
Ainda que se possa questionar a relevância de uma sessão solene na Assembleia Legislativa, isso não me isenta de responsabilidade quanto à presença pública. Na somatória, avalio que fiquei devendo.
4.3 – Formação de Lideranças – Fiz referência positiva acima ao exercício do sacerdócio geral no Sínodo MT. Isso implica valorizar as diferentes iniciativas locais, interparoquiais, setoriais e sinodais que, de alguma forma, contribuem para a formação e capacitação de pessoas para atividades variadas: orientadores/as de culto infantil, música, presbitério, visitação, diaconia, etc. É algo precioso e necessário para o fortalecimento da vida comunitária. É tema que se relaciona com Educação Cristã Contínua.
Contudo, algumas reflexões são necessárias. Havia um tempo em realizávamos Semanas da Criatividade. Foram uma bênção em outros sínodos e também no Sínodo MT. Hoje a realidade é outra. As pessoas se relacionam com o tempo de outra maneira. Alguns seminários, mesmo setoriais, têm participação apenas razoável. Os/as ministros/as manifestam a dificuldade em mobilizar pessoas, tanto mais se o encontro tiver alguns dias de duração. Esta é a realidade. A tendência hoje é que a formação em boa medida aconteça “nas proximidades”.
Nos últimos dois ou três anos, participei de seis encontros paroquiais de formação de presbíteros. Em alguns, os estudos do Guia do Presbitério foram conduzidos em conjunto com lideranças do Sínodo. Nas avaliações ouvimos que estes encontros de formação tiveram uma acolhida muito boa. O que mais chamou a atenção, no entanto, é a constatação da defasagem na formação de presbíteros/as. Ouvi frases do tipo: “Pastor, eu precisava ter aprendido isso há 30 anos”. Parece-me que ainda temos muitos presbíteros/as que assumem uma tarefa sem que recebam o preparo para dar conta dela. Por vezes, essas pessoas são cobradas por algo que não aprenderam a fazer. Eis um desafio permanente para que o sacerdócio geral continue a florescer entre nós.
5. Considerações e agradecimentos
Este é o meu último relatório como P. Sinodal do Sínodo MT. A XXII Assembleia representa o início da transição para uma nova etapa. Hoje à noite será homologado o novo Conselho Sinodal que assume em dezembro. Serão eleitas pessoas para diversas funções, entre elas, o novo/a P. Sinodal e o/a Vice. Ainda permaneço na função por sete meses, período no qual os novos “começam a entrar em campo”. Quem for eleito para o próximo período deve estar e ser bem informado e participará mais ativamente de planejamentos para 2019. Estou confiante de que será uma transição muito tranquila.
Diante disso, aproveito a oportunidade para fazer algumas considerações de ordem mais pessoal;
5.1 – Gratidão
Temos, em vários assuntos, uma interação permanente com a Secretaria Geral e a Presidência da IECLB. Agradeço, em nome do Sínodo MT, porque fomos ouvidos e levados a sérieo em nossas demandas. Predominaram a sensibilidade, o diálogo e a busca pelos melhores caminhos, com base em argumentos. No geral, cabe-nos agradecer expressamente pela solidariedade vinda da Oferta Nacional para Missão, pelos recursos do Fundo de Solidariedade dos Sínodos e pelo apoio aos diversos projetos existentes.
Naquela apresentação na Assembleia de 2010 afirmei que tinha muito a aprender. Não estava enganado. Há coisas que a gente não consegue medir. Mas, posso assegurar que vocês lideranças, ministros/as e comunidades me ensinaram muito nesse período. Ensinaram com palavras de apoio, com acolhida, com ponderações, com questionamentos, com gestos de carinho. Muito obrigado!
O convívio mais próximo do P. Sinodal é com o Vice e com a diretoria do Sínodo. O grau de comprometimento das lideranças que formam a diretoria é contagiante. Estou ainda mais convicto de que trabalhar em equipe é uma bênção. As reuniões, por vezes longas, sempre estiveram acompanhadas de alegria e da disposição em procurarmos os melhores caminhos. Mesmo fora das reuniões, todos/as sempre se mostraram muito acessíveis. Só tenho a agradecer.
Mencionei acima o trabalho da Secretária Executiva. A Rose reside em Várzea Grande. Enfrenta diariamente o trânsito complicado da capital. Além de secretária do Sínodo, a Rose é esposa, mãe, filha e esposa de pastor. Acompanho um pouco o seu ritmo de vida intenso. Por isso, tanto mais agradeço pelo seu profissionalismo, dedicação, abnegação, compreensão e testemunho de fé.
Uma das atribuições do P. Sinodal é acompanhar os/as ministros/as. Nos meses de março, abril e maio aconteceram as três Conferências Ministeriais nos setores. Foram dias muito especiais. Sabemos que na vida ministerial há momentos difíceis. Mas, em certo sentido, a entrega e a alegria de ministros/as representam o maior bem da IECLB. Porque é isso que contagia as comunidades. Agradeço pelo carinho e pela acolhida nas suas casas, pelos preciosos diálogos, pela parceria, por sempre mostrarem disposição para ajudar, mesmo fora do âmbito da sua paróquia. É uma bênção ter vocês como ministros/as no Sínodo MT.
Nestes últimos 8 anos tivemos, como família, muitos momentos bonitos. Mesmo com o filho mais novo estando longe, pudemos nos encontrar diversas vezes em Cuiabá ou no sul. Agradeço diariamente a Deus pela Marise, pelo Jonatan e pelo Cassiano. Ao mesmo tempo, também compartilhar que passamos nesse período por momentos de angústia, quando a saúde se fragilizou. Além disso, vivemos tempos de luto pelo falecimento de pai, mãe e irmãos. Marise e eu agradecemos muito pelas orações, pelo apoio de todos vocês. Em especial, agradecemos à comunidade de Cuiabá e às suas pastoras que foram e são o abraço solidário de Deus que nos envolve de forma mais próxima.
5.2 – Confissão – Nós, seres humanos, de vez em quando ficamos tentados a achar que somos capazes por nós mesmos de fazer alguma coisa. Essa também é a minha tentação e, por vezes, o meu tropeço. Ouvir o Lema do Ano Eu sou o Senhor, teu Deus faz lembrar do amor deste Deus por nós, mas também faz lembrar do nosso lugar e da nossa total dependência: ...porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15.5b). Por isso, quero pedir perdão pelas falhas que cometi no exercício da minha função: quando as palavras foram mal-ditas, quando faltou sensibilidade, quando fui omisso. Enfim, por pecados que cometi, percebidos ou não, peço o perdão de vocês.
O relatório que vocês vão ouvir na próxima Assembleia trará novidades. Sangue novo, oportuno e necessário na dinâmica da Igreja. Um novo estilo. Novos olhares e percepções. Talvez um relatório mais resumido. Assim caminha a comunidade de Jesus Cristo. Afinal: ...nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento (1 Co 3.7). Quanto a mim, preciso ouvir o que Jesus diz: Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer (Lc 17.10). Ou, como o apóstolo ouviu como resposta à sua oração: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza (2 Co 12.9). Que assim seja!

Nilo O. Christmann - P. Sinodal
 


Autor(a): Sínodo Mato Grosso
Âmbito: IECLB / Sinodo: Mato Grosso
ID: 59040
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