Depois da segunda guerra mundial, o governo comunista e as forças de ocupação soviética dividiram o povo alemão construindo um muro na cidade de Berlim. Esse muro foi levantado no dia 13 de agosto de 1961 e se tornou um símbolo da guerra fria entre capitalismo e comunismo. Durante anos o muro tragicamente separou o povo alemão.
Essa realidade só começou a mudar no dia 9 de novembro de 1989, dia em que o muro de Berlim começou a ser derrubado. O mundo todo viu e acompanhou pela televisão. O povo alemão estava em festa, se abraçou e chorou de alegria. Renascia a esperança de um novo tempo. Um tempo de paz, tempo de reconstrução da unificação da Alemanha e da unidade do povo.
Mas fazer surgir esse novo tempo não foi nada fácil, pois além do muro de Berlim, muitos outros “muros” precisaram ser derrubados, “muros visíveis e invisíveis” que foram construídos na mentalidade e na vida do povo, como o desnível econômico, de desenvolvimento e tecnologia, de salários, de justiça social, de condições de vida, etc. O contraste entre a realidade experimentada pelos alemães ocidentais e orientais os distanciou muito e derrubar esses muros exigiu bastante para ambos os lados. Exigiu um longo e paciencioso processo de conversão e reconciliação. Essa foi à condição para que a paz e a unidade entre o povo pudessem ser reconstruídas novamente.
No próximo dia 9 completam-se 18 anos da derrubada do muro. Um fato histórico que nos deixou muitas lições. Que é próprio para refletirmos sobre a questão da reconciliação, tema da Igreja nesse ano, tema sobre o qual muito falou o reformador Martim Lutero, nascido no na Alemanha no dia 10 de novembro de 1483.
Desde a separação entre o ser humano e Deus por causa do pecado, conforme nos conta Gênesis 3, sempre houve necessidade de falar de reconciliação. Não só de reconciliação entre o ser humano e Deus, que é a fundamental e decisiva, mas também de reconciliação entre o ser humano e seu próximo, reconciliação entre povos e nações. O “muro do pecado” não faz só com que o homem não se relacione com Deus e se distancie dele, mas também faz com que não se relacione bem com o seu próximo. Vemos isso no âmbito da família, nas relações de trabalho, na sociedade em que vivemos, em fim, na humanidade toda. E isso tem conseqüências muito sérias. O “preço” que pagamos custa muito sofrimento para a vida humana e para a criação toda.
Mas graças a Deus isso não precisa ser assim. O “muro do pecado”, pessoal e social, pode ser derrubado. Foi para isso que Jesus veio ao mundo (Ef 2). Para nos perdoar e libertar do pecado, para nos reconciliar com Deus e uns com os outros. Para nos redimir e transformar em “novas criaturas”, capazes de amar e viver de forma fraterna e solidária com todos, capazes de construir um mundo de justiça e paz, sem muros que dividem e separam as pessoas.
Por meio de Cristo, um novo ser humano e um novo mundo são possíveis. A reconciliação, a paz e a vida em abundância são possíveis. Esta é a experiência e a esperança dos cristãos, é a mensagem a qual Cristo os incumbiu de viver e anunciar a todos. Que Deus nos ajude. Amém.
Eldo Krüger
Pastor Vice-Sinodal
Sínodo Sudeste