Quem tem o direito de ser rei? - João 18.33-38a

Quem é rei?

21/11/2021

João 18.33-38a

33 Pilatos então voltou para o Pretório, chamou Jesus e lhe perguntou: Você é o rei dos judeus? “ 34 Perguntou-lhe Jesus: Essa pergunta é tua, ou outros te falaram a meu respeito? “ 35 Respondeu Pilatos: Acaso sou judeu? Foram o seu povo e os chefes dos sacerdotes que entregaram você a mim. Que é que você fez? “ 36 Disse Jesus: O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui”. 37 Então, você é rei! , disse Pilatos. Jesus respondeu: Tu dizes que sou rei. De fato, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem”. 38 Que é a verdade? , perguntou Pilatos.

Quem tem o direito de ser rei?
Se você está estranhando um texto bíblico relacionado com a sexta-feira da paixão de Cristo aparecer agora, no último domingo antes do Advento, pode ter a certeza de não estar sozinho.

O calendário litúrgico indica que estamos no DOMINGO DA ETERNIDADE quando, especialmente a igreja protestante, lembra os entes queridos que já nos antecederam na morte. Ao mesmo tempo é comemorado o dia de CRISTO REI. A data foi instituída em 1925 pela Igreja católica para fazer frente ao “pensamento laicista” que sistematicamente se opõem aos valores cristãos dizendo que ciências e pensamentos humanistas são o verdadeiro sentido e centro da humanidade. A Igreja passa a apregoar que o reinado é de Jesus, que é verdadeiro, de paz, de justiça e de amor.

Quem é rei?
Aqui entra o episódio que antecede a condenação de Cristo Jesus à cruz. Esta é, a princípio, uma pergunta política e não religiosa. É um questionamento do estado de direito (mesmo que imposto por alguma autoridade déspota!) e não de um pequeno grupo de entusiastas que se aglomeram em torno de um nome.

O texto começa nos informando que Pilatos se dirige, mais uma vez, ao pretório. Ou seja, o governador daquela província romana se desloca para seu lugar de trabalho, ou poderia ser sua residência. Em todos os casos, informa que o governador vai ao centro administrativo e jurídico para um julgamento. Dá a entender que, por causa das proximidades das festas judaicas da Páscoa, e em virtrude da soltura de alguns presos agraciados pelo governador, o pretor Pilatos tinha muitas coisas a resolver. Agora o julgamento de quem, a princípio, não tinha condenação política, conforme se vê nos versículos anteriores. Era acusado pela própria gente judaica e por motivos religiosos.

Pilatos novamente se ocupa com esse que diziam ser o Messias. Para justificar sua demanda, os líderes judeus acusavam este homem de Nazaré como um pretendente à coroa daquela província. Não que os próprios habitantes daquela terra não quisessem se ver livres da ocupação romana, mas não queriam se ver representados por alguém que questionou o próprio templo e os costumes nada religiosos que lá se estabeleceram. Queria ele ser um novo rei para os judeus? Isto o tornaria um potencial rebelde contra a ocupação romana.

És tu o rei?
O questionamento de Pilatos é emblemático! Tão dizendo por aí que você é o rei dos judeus. I-s-s-o é verdade? Será que o governador tinha uma outra opinião sobre aquele homem? Será que entendia que a acusação não passava de uma armação? Já não tinha sido assim quando Jesus nasceu em Belém que recebeu a visita dos magos do Oriente e por ele procuraram nos palacios herodianos perguntando “onde está o recém-nascido Rei dos judeus?” (Mt 2).
És tu aquele que por séculos se esperou? És tu o libertador do povo sofredor? É tu em quem as multidões devem confiar? És tu quem vai mudar o curso da história da humanidade? Acho que estas perguntas não representam uma certeza, mas a desconfiança de que aquele homem diante de Pilatos não era isso tudo. Muiito barulho por nada!

Tu o dizes!
Não saiu da boca de Jesus a autoproclamação de que é um rei (Lc 23). Diante da pergunta suspicaz a reação de Jesus foi pronta: Quem colocou isso em sua cabeça, Pilatos? Quem mandou você perguntar isso? A reação do governador também foi rápida e certeira: O que tenho eu a ver com as questões internas de vocês? Não sou um judeu para pensar com um judeu. E logo acrescentou: Afinal, o que você fez para merecer toda esta raiva e reprovação?
Um reino que não é deste mundo!

Aqui chegamos ao ponto central desta conversa/interrogatório. Agora, diante da autoridade romana, Jesus pode declarar a que reino pertence e o evangelista João é o único que registra este diálogo que se segue. Os demais evangelhos apresentam um Jesus que se cala diante da falsa acusação.

O meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas agora o meu Reino não é daqui” (v.36). Pilatos havia ouvido a acusação que o nazareno é o rei dos judeus e filho de Davi. Ser filho de Davi lhe daria, por conseguinte, o direito de reivindicar o reinado sobre aquele povo. No entanto, os outros três evangelhos registram uma reação de Jesus diante da afirmação popular de que Ele é o filho de Davi. Ele rejeita este título contra-argumentando com o Salmo 110.1: “O SENHOR Deus disse ao meu senhor, o rei: ‘Sente-se do meu lado direito, até que eu ponha os seus inimigos debaixo dos seus pés.’” Ora, se Davi o chama de Senhor, Jesus não pode ser filho de Davi, argumenta Jesus. Ou seja, o reino de Jesus não é semelhante ao de Davi ou qualquer outro rei. A forma de governar de Jesus não tem semelhança aos governos terrenos. Seu reino não é deste mundo.

Mas então você é rei!
A perspicácia interrogatória de Pilatos não dá descanso a Jesus, ainda mais em se tratando do segundo encontro entre os dois. Imagino Pilatos voltando ao pretório naquele dia, arrastando contrariado suas sandálias na praça empoeirada, para aquela segunda rodada de argumentos e contra argumentos com aquele homem que havia sido triunfalmente saudado na entrada de Jerusalém dias antes.

“Então, você é rei”. “Sim”, poderíamos imaginar Jesus dizer. “Mas não do jeito que você está pensando!” É necessário deixar claro para Pilatos, e para todos nós, que há uma diferença entre o difundido conceito terreno de “messias e “filho de Davi” ou “rei”, e aquele que Jesus representa. Quando Jesus responde “tu o dizes” diante da afirmação de Pilatos de que é rei, não está minimizando a questão, não está rejeitando a afirmação, mas a está redirecionando. Ele vai em breve provar que Seu reino vai muito além de um território restrito e a uma nação específica. A esperança nacional de um libertador será expandida a uma esperança universal.

Apesar de toda esta abrangência de poder e influência, comprovando as palavras de Jesus, Pilatos olha ao redor e não vê ninguém disposto a defender este novo Rei, este Rei diferente. Nenhuma espada à vista. Nenhum “protestante erguendo sua voz. Nada e ninguém defendendo o Rei Jesus.

De fato, sou Rei!
Este Rei, ao contrário daqueles que têm sua retraguarda coalhada de soldados e defensores entusiastas, usa a arma da “verdade”. “…por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem” (v.37). A busca pela verdade ou o reconhecimento da verdade torna universal o anseio das pessoas de bem, daquelas que se dispõem a ouvir Jesus.

A verdade não precisa de testemunhas ou provas. Ela está aí, diante dos olhos. A mentira é que precisa de testemunhas, provas e contraprovas. A mentira devasta as nações, os povos, a sociedade, as famílias. Já o reinado de Jesus é aquele que acontece em defesa da verdade e, recordando do texto de João 1.17, a verdade está totalmente ligada à graça: “a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo” (NVI).

Quem tem o direito de ser rei?
Esta foi nossa pergunta inicial. Laconicamente nossa perícope encerra com outra pergunta: “Que é a verdade?” Ao fazer esta pergunta, Pilatos se vira aos judeus e termina o julgamento. Ser Rei é estar ao lado da verdade. Sermos súditos do Rei Jesus é defender a verdade em todas as instâncias, em palavras e ações. Rei é Jesus, e seguir este rei é seguir a verdade. As mentiras continuarão a sua tentativa de destronar este Rei Jesus. E nós? de que lado nos posicionamos?

Concluindo.
Ahmed Shaheed, relator da ONU, na página United Nations News, em março de 2020, afirmou: “Rejeito firmemente qualquer alegação de que as crenças religiosas possam ser invocadas como uma 'justificativa' legítima para a violência ou discriminação contra mulheres, meninas ou pessoas LGBT+”. Ele falava sobre a liberdade de religião, ao que acrescentou: “…o direito à liberdade de religião protege os indivíduos e não as religiões como tal.” ( https://news.un.org/en/story/2020/03/1058411)

O reino de Jesus não é deste mundo. É um reinado caracterizado pela graça (amor!) e verdade. Não justifica descriminação mas também não justifica legitimação de qualquer mentira ou secularização. “Jesus Cristo é Rei e Senhor. Seu é o reino e o louvor”. É o reino da verdade. “Que é a verdade?”

Amém!
 


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 18 / Versículo Inicial: 33 / Versículo Final: 38
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 65866
REDE DE RECURSOS
+
É mais consolador ter Deus como amigo do que a amizade do mundo inteiro.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br