Quem perde, ganha!

A transformação social passa pelo resgate da centralidade do Evangelho questionando os projetos de poder da atualidade.

25/02/2018


Quem perde, ganha!


Marcos 8.31-38 (NA17 - SBB) - “Então Jesus começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que, depois de três dias, ressuscitasse. E isto ele expunha claramente. Então Pedro, chamando-o à parte, começou a repreendê-lo. Mas Jesus, voltando-se e vendo os seus discípulos, repreendeu Pedro e disse: — Saia da minha frente, Satanás! Porque você não leva em consideração as coisas de Deus, e sim as dos homens. Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, Jesus lhes disse: — Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; e quem perder a vida por minha causa e por causa do evangelho, esse a salvará. De que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Que daria uma pessoa em troca de sua alma? Pois quem, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória do seu Pai com os santos anjos.” (Marcos‬ ‭8:31-38‬ ‭NA17)‬‬

Introdução

Prezada Comunidade.

Quando prestamos atenção ao texto de pregação deste domingo, logo perceberemos que ele é mais deprimente que entusiasmador (sic). Um amigo pastor escreveu sobre o texto dizendo que ele é a prova de que o anúncio do Evangelho não permite o entusiasmo, não permite o ufanismo, a glória e a prosperidade, e sim apenas a cruz.

” — Saia da minha frente, Satanás!”, admoesta Jesus, como quem repreende a toda iniciativa que queira facilitar o Evangelho (e mais uma vez o Pedro é alvo de reprimenda!). Depois, diz à multidão e aos discípulos presentes: “Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; e quem perder a vida por minha causa e por causa do evangelho, esse a salvará.” Felizes agora são aquelas pessoas que nem vieram ao culto. Não precisam ouvir estas palavras duras que só servem para uma coisa: tirar a graça da curta vida que temos – 60, 70, 80 ou 99 anos.

O que Jesus espera

Não acredito que Jesus teria alguma coisa contra se cada pessoa quisesse trabalhar, formar uma família, providenciar um bom telhado sobre sua cabeça, ter amigas e amigos com os quais se possa fazer alguma atividade especial, ter momentos saudáveis de lazer, ir ao Maracanã, sair uma vez por ano de férias... Mas ainda ter forças para negar as boas coisas para não perder a alma?

Quando este tipo de questionamento – o de o que Jesus espera de nós – ficou mais contundente em nossa teologia luterana brasileira, alguns entenderam que deveriam passa a andar descalços, com roupas esfarrapadas, com chapéu de palha e, assim, passar a frequentar as aulas na Faculdade de Teologia. Seu discurso deveria ser o das minorias e assim se estaria cumprindo com a lei de Cristo.

No final das contas, me parece que Jesus até nem quer saber tanto dos meios que nos fazem viver, mas do fim que se alcança com este meio. Fazendo um trocadilho, os meios justificam o fim: a morte da nossa alma! A morte determina nossa maneira de viver! Pensar isso tira a vontade de viver. E se tira a vontade de viver, nos faz pessoas azedas e incompreensíveis para com aquelas que tem alegria de viver com Deus.

Aqui está uma triste verdade! É deprimente!

O que o Evangelho oferece

Diante da multidão atônita e dos discípulos estupefatos, Jesus vai falando daquilo que está lhe incomodando no final de sua missão, já antevendo sua morte. Apesar da Sua presença constante ao lado das gentes desesperadas, das gentes rejeitadas e das pessoas sofredoras – ou seja, das minorias –, elas não haviam compreendido o que realmente o reino de Deus quer fazer acontecer neste novo tempo da graça. “... quem perder a vida por minha causa e por causa do evangelho, esse a salvará.”

Jesus oferece a salvação para quem mudar o foco de suas atitudes. Não é barganha de merecimentos, mas sim, graça.

Vamos tentar colocar um exemplo prático: temos diante de nós, em nossa imaginação, alguém que fez alguma ajuda específica em favor de seu vizinho, algo que realmente foi importante e fez a diferença. Esse alguém não procurou resolver o problema usando seu dinheiro, pegando uma nota de pequeno valor e a colocando na mão do vizinho, ou fazendo um aporte de dinheiro em sua minguada conta. Não! Usou de criatividade e auxiliou cozinhando uma comida, ou lavando uma roupa, ou levando até o Pronto Socorro e esperando até que fosse atendido... Ou tomando mais tempo para uma visita mais demorada onde ouviu mais do que falou, tentando entender as necessidades da alma, não apenas do corpo... Pense em outro exemplo. Você encontrará muitos. Não que seria isso o que faz a diferença na vida? Pequenas ajudas que, somadas, se tornam enormes? Afetividades amorosas que transformam vidas, e não discursos eloquentes – invariavelmente – acabam em projetos de poder?

Sou uma pessoa realizada porque perdi

No mundo capitalista selvagem que vivemos – nem a esquerda e muito menos a direita deixam de se mover pensando no acúmulo de capital – perder é sinônimo de incompetência. É desastroso ser perdedor. Mas, vejam a inversão de valores: fazer errado, hoje em dia, é sinal de prosperidade. Enganar, corromper e ser corrompido é ordem e é progresso. Agora, fazer certo é sinônimo de prejuízo, é coisa de otário. Nem mesmo a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil escapa desta lógica perversa: agir contra a palavra de Deus, desautorizando suas repreensões e “conduções coercitivas” para voltar à centralidade de Jesus Cristo, é mais moderno e factível do ponto de vista teológico oficial que fundamentar ações pautadas no texto bíblico. Quem o faz – quem procura pautar suas ações sobre a Palavra – corre o risco de ser acusado de fascista e fundamentalista.

O escândalo da cruz é justamente este: perder significa ganhar.

” ...e quem perder a vida por minha causa e por causa do evangelho, esse a salvará. De que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”, retoma Jesus.

E aí você se pergunta: onde foi que perdi alguma coisa pelo fato de ter me colocado à disposição de ajudar outras pessoas? Onde eu perdi algo por ter gasto o dobro do tempo em uma visita necessária? Onde foi que eu perdi algo pelo fato de ter tornado minha existência frutífera e proveitosa em favor de outra pessoa? Onde perdi algo pelo fato de ter amado meu próximo sem ter recebido – já nesta vida – tesouros do céu?

Perdemos toda uma vida – e ela não é retornável – quando pensamos em nós ou apenas no nosso círculo mais íntimo, o qual protegemos com unhas e dentes sem medir esforços e consequências. Se ainda pensamos que não podemos perder as coisas materiais ou o poder que (penso!) ter em minhas mãos; se ainda pensamos que não podemos perder tempo e energias para determinadas tarefas sociais menos atraentes; se ainda pensamos que não podemos dispensar nosso sorriso e simpatia para pessoas que estão deprimidas e confundidas pela época que vivemos, certamente ainda não estamos livres para viver o escandaloso anúncio da cruz: perder significa ganhar.

Conclusão

Este Jesus, do qual fala o texto, estava ainda vivo entre aquelas pessoas e tinha toda sua morte vicária e sofredora à sua frente. Nós, hoje, sabemos que já morreu e ressuscitou. Jesus cumpriu com sua obra e nos trouxe a certeza de que a morte não é mais o fim. É o começo! Quem, então, não gostaria de anunciar esse fato vivendo uma nova vida, com novos valores, com novas iniciativas, com novas formas de amar? Sabendo que nem mais a morte interrompe nosso caminho de vida?

Morreu nesta semana, 21 de fevereiro, aos 99 anos, o evangelista mundialmente conhecido Billy Graham. Esteve no Rio de Janeiro lotando duas vezes o Maracanã. Não era bem quisto pelos teólogos oficiais da IECLB. Alguns até o chamavam de Billy Grana. William Franklin Graham, no entanto, nunca deixou para trás algum motivo que desacreditasse sua pregação entusiasta e comprometida com o Evangelho. Algumas frases de Billy ficaram muito conhecidas:

  • O maior acontecimento da história não foi o homem subir e pisar na lua, mas foi Deus descer e pisar na Terra.
  • Estude a Bíblia para ser sábio, creia na mesma para ser salvo; siga os seus preceitos para ser santo.
  • Minha casa está nos céus. Eu estou apenas viajando por este mundo.
  • A ansiedade é o resultado natural de centralizarmos nossas esperanças em qualquer coisa menor do que Deus e Sua vontade para nós.
  • Nos somos as bíblias que o mundo está lendo, nós somos os sermões que o mundo está prestando atenção.
  • Toda vez que o homem pensa em navegar para longe de Deus, o diabo tem sempre um barco pronto.
  • Você nunca entenderá quem você é até que entenda quem é Deus.

Prezada comunidade,

Jesus diz: “— Se alguém quer vir após mim, negue a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; e quem perder a vida por minha causa e por causa do evangelho, esse a salvará. De que adianta uma pessoa ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Que daria uma pessoa em troca de sua alma?”

Amém

Pr. Rolf Rieck
 


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 8 / Versículo Inicial: 31 / Versículo Final: 38
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 46008
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Nenhum serviço agrada a Deus, seja ele enorme, quando este fere o próximo.
Martim Lutero
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