Que pedras! Que segurança!

Como Jesus ajuda seus seguidores a exercitar uma nova forma de ver a realidade.

19/11/2018

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Igreja convocada
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18112018 Rio
Marcos 13:1-8 NVI

1 Quando ele estava saindo do templo, um de seus discípulos lhe disse: “Olha, Mestre! Que pedras enormes! Que construções magníficas!” 2 “Você está vendo todas estas grandes construções?”, perguntou Jesus. “Aqui não ficará pedra sobre pedra; serão todas derrubadas.” 3 Tendo Jesus se assentado no monte das Oliveiras, de frente para o templo, Pedro, Tiago, João e André lhe perguntaram em particular: 4 “Dize-nos, quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal de que tudo isso está prestes a cumprir-se?” 5 Jesus lhes disse: “Cuidado, que ninguém os engane. 6 Muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e enganarão a muitos. 7 Quando ouvirem falar de guerras e rumores de guerras, não tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam, mas ainda não é o fim. 8 Nação se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá terremotos em vários lugares e também fomes. Essas coisas são o início das dores.

Que pedras! Que segurança!

Parusia (Παρυσια) é a especialidade teológica que procura desvendar os assuntos relacionados à segunda vinda de Cristo. Reúne vários textos, especialmente os paulinos, que dão pistas sobre como aconteceria esta volta de Cristo. São apenas pequenas frestas abertas que permitem ter uma visão tênue sobre as coisas do futuro. O texto da pregação deste 26º Domingo após Pentecostes se encaixa nesta categoria. Jesus Cristo fala sobre como haverá gente se dizendo “o cristo”, ou falando em nome “do cristo”, não o sendo.

Vamos aos fatos.

O fim do velho mundo.

Boquiabertos, os discípulos comentam a obra colossal. Jesus parece desdenhar, falando que isso tudo vai acabar.

Era muito comum considerar a destruição do Templo de Jerusalém como “o fim do mundo”. Na verdade, no tempo de Jesus, o Templo de Jerusalém já estava na terceira edição do monumento. Houve o Templo de Salomão, depois o Templo de Zorobabel e, por fim, o Templo de Herodes. Sua construção começa em 18 a.C., termina apenas em 64 d.C. e é destruído em 70 d.C. Portanto, nos dias de Jesus, o templo estava em construção. É de se imaginar a admiração causada pelo frenético vai e vem de construtores, pedreiros e os escravos transportado as imensas pedras. O templo de Herodes foi considerado uma das maravilhas do mundo da época.

Falar da destruição desta majestosa obra, antes mesmo de estar terminada, não era um, digamos, “discurso politicamente correto”. Estaria Jesus trazendo maus agouros a esta maravilha? Não seria melhor apoiar e falar bem?

Voltando um pouco na narrativa, encontraremos Jesus no pátio deste templo inacabado. Era comum que passantes entrassem e fizessem uso das escadarias de acesso ao templo para falar ou ouvir algum ensinamento (Mc 12.35, 37b, 41). O templo – do qual hoje resta apenas o “muro das lamentações” – foi construído sobre o monte Moriah. Ao sair pelos portões do muro os discípulos se referiram à admiração pela obra da engenharia humana.

Onde o novo mundo começa.

Jesus e seus discípulos se deslocam agora para o Monte das Oliveiras. Seu ponto de vista agora é mais abrangente do que apenas enormes pedras que vão compor o templo de Herodes. É lá, no outro monte, fora dos muros da cidade, que Jesus conclui seu ensino aos discípulos, e o faz de maneira particular. Em quatro pontos podemos deslumbrar alguns pormenores deste ensino.

1. No reconhecimento correto das evidências. (1-2)

Os discípulos foram convidados por Jesus a fazer uma leitura crítica daquilo que lhe era apresentado diante dos olhos. Se o templo representava apenas um vínculo importante entre os judeus e as terras palestinas, se representava o orgulho diante do gigantismo da obra, então deveriam se dar conta que o brilho do que é externo não estava revelando o interior do coração deste povo e deste governo.

Luxo e obras gigantescas não protegem contra o juízo divino. Nem sequer os firmes fundamentos poderão sustentar a magnitude da capacidade humana.

2. Na análise do que é dito. (5-6)

Muitos falsos ensinos, provenientes de muitos falsos mestres, especialmente aqueles que se apresentam como milagreiros que tem solução para todo e qualquer problema, precisam ser analisados com cuidados. Podem ser boas pessoas, mas seus conteúdos podem representar engano. Redes sociais, televisão e rádio estão minados de arautos de falsidades travestidos de gente boa. Uma mente ampliada vai saber distinguir casuísmos de verdades.

Qual o parâmetro, a medida fixa, para reconhecer a verdade? A palavra de Deus. Ou você conhece outro fundamento? Lida e crida através da ação do Espírito Santo, não tirada de seu contexto e aceita como vontade de Deus a palavra de Deus é fundamento para a vida da sociedade cristã.

3. Na observação das inquietações sociais. (7-8)

Mesmo que organismos internacionais, organizações não-governamentais e outros órgãos anunciem seus programas pacifistas, não há como negar o aumento do número de guerras e instabilidades sociais. O Brasil e o mundo vivem tempos onde opiniões próprias são rebatidas com palavras ácidas. Vivemos tempos em que a opinião contrária parece (ou já é!) proibida, causando divisões e partidarismos. A cristandade vive este mesmo drama onde cada corrente se arroga o direito de ser a dona da verdade.

Na forma literária usual na época dos apóstolos, estas instabilidades eram melhor descritas ao se comparar com fenômenos naturais. Não quer diz que os terremotos são sinais dos tempos, mas sim que os sinais do fim dos tempos abalam a sociedade como terremotos. Evidentemente não podemos negar que a ganância humana contribui para que catástrofes naturais se multipliquem numa velocidade maior em nossos dias.

Inquietações e inseguranças trazem medo. Causam pavor e angústia – traduzidas em várias doenças modernas – especialmente onde a fé e confiança em Deus está ausente.

4. Na observação da missão de Jesus (João 2.19)

Peço aqui uma licença exegética para me esgueirar na parte sistemática da teologia. A observação de Jesus a partir do ponto de vista do Monte das Oliveiras nos faz olhar para a parusia de maneira mais objetiva. Quando diz “destruam este templo, e eu o levantarei em três dias”, se referindo à Sua morte e ressurreição, anuncia um fim e um começo. A própria existência de Jesus na condição de “vero homem” é efêmera, assim como a majestade das pedras do templo. Há de se construir paz e esperança sobre algo mais estável que grandes pedras.

Com a sequência dos versículos do capítulo 13 do Ev. de Marcos, se estabelece uma ordem clara de eventos que indicam a finitude deste mundo e a esperança de que o reino de Deus se estabeleça definitivamente. Quanto antes, melhor! Esta esperança era tão consistente que o evangelista Marcos declara que tudo isso ainda aconteceria naquela geração (13.30). Não se está defendendo aqui os arautos da desgraça, mas está se evidenciando a finitude daquilo que não vem de Deus, da proposta do reino de Deus.

Concluindo.

Como pode a notícia da destruição do templo colossal ser uma admoestação para nós em nossos dias?

Jesus se retirou do templo e levou seus discípulos ao lugar da sua morte, ao lugar da redenção de toda humanidade, de todas as pessoas que creem. Precisamos urgentemente mudar o nosso ponto de vista também. Olhar como Jesus olhou, sentir como Jesus sentiu, não deixar se enganar por falsas promessas de estabilidade, sempre olhando para o autor da nossa fé, Jesus Cristo.

Se nós estamos empobrecidos de valores e esperança, se nossa pobreza nos leva a divisões e incompreensões, subamos com Jesus ao Monte das Oliveiras e observemos a finitude de nossos projetos pessoais.

Exemplos de miséria e descaso temos às pencas ao nosso redor. Como podemos ajudar para que se viva esperança? Como o reino daquele que voltará já pode ser uma pequena realidade entre nós? Quem dá o primeiro passo?

Estou pronto, Jesus; estou pronta, Senhor!

Amém!


Autor(a): Pr. Rolf Rieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Martin Luther (Centro-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 50029
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Muitos bens não nos consolam tanto quanto um coração alegre.
Martim Lutero
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