Que nossas crianças tenham presente e futuro

Artigo

10/10/2003


A criança brasileira é o motivo de intercessão comum nas comunidades da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) durante o mês de outubro. Em Joinville, a IECLB desenvolve o Projeto Missão Criança nos bairros Boa Vista, Jardim Paraíso e Canela..

A criança merece uma atenção prioritária nas atividades comunitárias, mas também na própria Nação, pois sofre sob um sistema de desenvolvimento sócio-econômico excludente e está deste modo ameaçada em sua integridade e em seu desenvolvimento.

O respeito à vida de todas as pessoas é uma questão pessoal, da consciência de cada um e de cada uma? Claro, pois existe uma responsabilidade pessoal, intransferível. Entretanto, a sobrevivência de um povo e da própria humanidade depende da fraternidade, da solidariedade e da prática da justiça. Já dizia Martin Luther King: A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar.

Vejamos alguns exemplos em que a integridade e a dignidade da criança brasileira são feridas: é emergente no Brasil a iniqüidade do trabalho infantil. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), há em nosso País uma mão-de-obra invisível, um silencioso exército de mais ou menos 8 milhões de crianças e adolescentes trabalhando como adultos. E não é apenas um problema brasileiro. A OIT vem denunciando a existência de 250 milhões de crianças e adolescentes trabalhando em condições precárias, especialmente nos países em desenvolvimento. Na América Latina, o Brasil só fica atrás da Guatemala e do Haiti nessa triste estatística.

O trabalho infantil, tradicional no campo e emergente nas cidades, é apontado como a principal causa da evasão escolar e da repetência. O Brasil conta com cerca de 50 mil crianças e adolescentes que vivem e trabalham nos lixões, depósitos de lixo a céu aberto. Para enfrentar esse flagelo social, o Unicef, o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano continuam empreendendo esforços, em todo o Brasil, no sentido de levar adiante a campanha Criança no Lixo, Nunca Mais, lançada em junho de 1998.

Além disso, com toda a crueldade e violência que a acompanha, a prostituição infantil assume no Brasil dimensões e características estarrecedoras.

Essa é uma situação que clama aos céus. Desde o início da história do seu povo, Deus toma partido das pessoas indefesas, representadas nas crianças. Isaque e Ismael, lá no primeiro livro da Bíblia, já estavam sob a proteção de Deus. Ele ouviu, viu e socorreu os dois. No Egito, as criancinhas foram as primeiras a serem libertadas das ganas de morte do faraó. As parteiras não obedeceram ao faraó e as preservaram (Êxodo 1,15-22). E a própria filha do faraó resgatou Moisés das águas. O êxodo libertador começa pelo resgate dos bebês!

Novos céus e nova terra, cantados no livro de Isaías, as crianças não morrerão mais antes do tempo (Isaías 65,20). Meninos e meninas crescendo em paz são sinal da alegria prometida ao povo que é fiel ao Deus da vida, do amor e da justiça.

Jesus valoriza as crianças, coloca-as no centro do reino de Deus. Jesus diz que o reino de Deus é das crianças. Ele usa o exemplo da crianças exatamente quando os discípulos estão em disputas de poder. Enquanto os adultos discutem quem é o maior, Jesus fala do valor das crianças, que não são produtivas e têm de ser amadas e protegidas na gratuidade.

Vamos interceder junto a Deus pelas crianças do Brasil. Vamos, acima de tudo, construir juntos uma sociedade que não exclui e não marginaliza, na qual especialmente as crianças possam viver digna - e integralmente. Vamos lutar pelo cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente. Que também nossas famílias sejam um espaço de vivência do amor que liberta e dignifica. Que nossas crianças tenham, pois, presente e futuro!

Ari Knebelkamp
pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
na Paróquia da Paz
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 10/10/2003


Autor(a): Ari Knebelkamp
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Missão / Nível: Missão - Criança
Natureza do Texto: Artigo
ID: 7545
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