Quaresma e Silêncio

Meditação

28/04/2011

 

No Roteiro da OASE 2006, p.33 (P. Célio R. Seidel) - “A origem bíblica da quaresma inclui os elementos DESERTO, ORAÇÃO, REFLEXÃO E JEJUM. Para a Bíblia, o deserto é também uma época de oração intensa. É lugar de silêncio e reflexão. Muitas vezes, em nossa vida cotidiana, resistimos a esses espaços de silêncio e solidão, porque temos medo de nos encontrar com o nosso interior e com Deus e descobrir que estamos distantes de seu projeto para conosco. Por isso o deserto requer a coragem dos humildes, dos que não têm medo de recomeçar.”

Não é à toa que tanta agitação e barulho fazem parte do cotidiano das pessoas. O som alto dos carros é como uma fuga do silêncio que nos aproxima de Deus. O barulho e a agitação são maneiras de anestesiar a dor diante da pergunta pelo sentido da vida. É possível entorpecer-se pela agitação e pela agenda sempre cheia, para fugir da pergunta pelo sentido da vida.

Em João 14.27 Jesus diz: “Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz, não como o mundo a dá.” O mundo nos dá tranqüilizantes ou euforizantes. E nós como Igreja, estamos pedindo DEUS, EM TUA GRAÇA TRANSFORMA O MUNDO. No entanto esta transformação precisa acontecer a partir de cada um de nós, de dentro para fora.

Como cristãos, nós precisamos urgentemente revalorizar o silêncio, a meditação, o repouso, o shalom, a paz de Deus. Fazer silêncio é reconhecer que as minhas inquietações não têm muito poder. O cristão é uma pessoa LIVRE, sem preocupações, porque sabe que sua vida não depende dela mesma (lírios dos campos). Fazer silêncio é confiar a Deus o que está fora do meu alcance e das minhas capacidades. Este é o sentido do Shabbat, o repouso santo no sétimo dia. Às vezes esquecemo-nos que o ser humano recebeu outra missão, além de fazer, produzir e acumular haveres, saberes e poderes. Ele recebeu também a missão de estar cada vez mais próximo daquele que é o próprio Ser. - Se acreditamos nas leis físicas da interconexão de todas as coisas – “impossível levantar uma palha sem perturbar uma estrela” – então podemos também crer que um ser de paz comunica sua calma e sua serenidade ao mundo inteiro. Pergunto: Nós temos comunicado, às pessoas que convivem conosco, a paz e a serenidade que vem de Deus?

Permanece o desafio: Vamos silenciar nossos corações. Aproveitemos o tempo da Quaresma para silenciarmos as nossas preocupações. Queremos, sim, participar do processo de transformação do mundo, afinal, há tantas injustiças, tanta corrupção e o nosso posicionamento de denúncia precisa ser ouvido. Mas no anseio pela transformação, não façamos apenas mais um ruído entre tantos outros. Não vamos cair no erro daqueles que na euforia partiram ao assalto do Reino de Deus como de uma montanha altíssima, e não encontraram o repouso. Quando tentamos TOMÁ-lo nos tornamos incapazes de RECEBÊ-lo. Não é com ativismo que nós vamos construir o Reino; mas lembremos que Jesus também disse: “O Reino de Deus está dentro de vocês...” (Lc 17.21). - Que a Quaresma seja tempo de descer ao coração. Época de simplificação e de abertura para aquele que veio para que nós tivéssemos “vida e a vida em abundância”, uma vida que não é angústia e tormento pelos afazeres do dia-a-dia, mas paz e plenitude, antropologia não do “ser para a morte”, mas do “ser para a ressurreição e o repouso.”

Amém.

P. Renato Creutzberg

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