Quarenta dias

21/03/2003

Quarenta dias

Pª Vera Cristina Weissheimer *

Hoje, almoçando no Centro de São Paulo, de repente, como se tudo silenciasse em meio a tantos rumores, buzinas e sirenes, perdi-me no tempo olhando para as pessoas caminhando apressadas pelas ruas.

Perdi a fome. Por alguns instantes fiquei na contemplação daquelas pessoas driblando ônibus, táxis e motoboys.

Será que todas elas estão se dando conta de que há uma guerra para estourar por cima de nossas cabeças? Bom, talvez seja uma guerra um pouco longe de nossas cabeças. Mas será que podemos continuar nossas vidas como se nada estivesse por acontecer?

Vivemos também nossas guerras particulares. Buscamos nossos próprios exílios. Meu almoço esfriou. Não importa.

Desmond Tutu, bispo metodista sul-africano e Nobel da Paz em 1984, disse certa vez que o perdão é uma necessidade absoluta para a continuidade da existência humana. Entretanto, hoje o perdão parece estar muito longe da compreensão humana.

Temos quarenta dias para exercitar o perdão. Quarenta dias para experimentar o silêncio. No silêncio somos capazes de nos ouvir melhor. Somos até capazes de ouvir Deus sussurrar em nossos ouvidos.

Temos quarenta dias para experimentar nossa vida com mais intensidade. Quarenta dias para andar mais devagar, comer mais devagar.

Temos quarenta dias para orar para que os corações endurecidos dos que plenejam guerras e batalhas sejam tocados pela mensagem da Páscoa. Temos quarenta dias para nos conhecer melhor e, então, irmos ao encontro do irmão e da irmã e convidá-los a experimentar esse Deus, Senhor da vida e força sublime.

Basta silenciarmos para ouvi-lo falar num cicio ao nosso coração. Convido-o para o silêncio e para repetir, a cada dia, por alguns instantes e de forma pausada (como um mantra), o versículo: Eu tenho fé. Mas ajuda a minha falta de fé(Mc 9.24).

E assim, quem sabe, nosso coração aprenda que para encontrar Deus é preciso simplicidade; para vencer as dificuldades é preciso a sabedoria da água, que ao encontrar uma pedra ou uma montanha à sua frente não briga, mas as contorna e sai lá na frente, deixando obstáculos, montanhas e pedras para trás.

Temos quarenta dias para nos preparar para que aquilo que começa com cinzas termine em ressurreição, também de nossas esperanças e em renovação de nossa fé. Tenho fé. Mas ajuda a minha falta de fé.


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* Vera Cristina Weissheimer nasceu há 34 anos em Cruzeiro do Sul/RS e formou-se na Escola Superior de Teologia da IECLB em São Leopoldo/RS em 1994. Trabalhou em Blumenau/SC e Valinhos/SP e desde outubro de 2000 é pastora na Paróquia Centro de São Paulo. Tem Mestrado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Publicou em 2002, em co-autoria com a escritora Telma Guimarães, uma coleção de quatro volumes de Ensino Religioso para as primeiras séries do Ensino Fundamental, lançada pela Editora Ática
 

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É isto que significa reconhecer Deus de forma apropriada: apreendê-lo não pelo seu poder ou por sua sabedoria, mas pela bondade e pelo amor. Então, a fé e a confiança podem subsistir e, então, a pessoa é verdadeiramente renascida em Deus.
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