Vivenciamos no calendário Litúrgico o tempo de Pentecostes. È um tempo que se estende até novembro. É o período mais longo dentro do ciclo celebrativo. O foco é a ação do Espírito Santo sobre nós, seguidores de Cristo, sobre a Igreja e sobre o mundo todo. A partir daí já não é somente uma época litúrgica, mas um experimento concreto em nosso viver. A ação do Espírito santo é algo que se sente, que é vivido. Não se trata de lembranças ou reflexões abstratas, mas vivência.
Vivenciar a ação do Espírito santo de Deus pode ser, no entanto, extremamente mal interpretado. Atualmente uma parcela significativa da cristandade busca a ação do Espírito Santo em alguma experiência que envolve um estado de êxtase ou emocional através do qual a pessoa é conduzida a liberar tensões acumuladas. Após uma experiência deste tipo o sentimento é de alívio (cura). Estas experiências se manifestam através de longas orações, onde, normalmente, todos oram ao mesmo tempo num constante aumento da tonalidade da voz ou através de expressões estranhas a qualquer idioma existente (línguas estranhas). Também acontecem situações de desmaios conduzidos e manipulados por algumas lideranças já previamente intencionadas neste sentido. A música assume um papel estratégico, pois conduz a coletividade ou a individualidade para uma situação de comoção introspectiva que a leva ao choro ou a outras expressões corporais (dança, por exemplo), fazendo com que o ser desta pessoa seja todo envolvido e consiga extravasar e ser aliviado de tensões, angústias, temores e inclusive dores. De fato, a pessoa tem o sentimento de alívio e de cura, no entanto, ela corre o risco de passar a ser dependente deste tipo de experiência e vulnerável em relação ao exercício de poder por parte de lideranças religiosas. Dizer que experiências que envolvem êxtase religioso e clima de descarga emocional é uma ação do Espírito Santo pode nos conduzir a uma situação de desprezarmos o âmago da experiência de Pentecostes: “Quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará na verdade plena” (João 16.13)
Extravar emoções, ter momentos onde quase saímos de nós mesmos para liberar as tensões do cotidiano é um aspecto extremamente importante para vivermos com saúde e aguentarmos as exigências que a vida nos faz. Este extravagar pode ser feito através de um passeio em meio a natureza, pode ser feita ao assistir uma boa comédia, através da prática de esporte. Trata-se, na verdade, de necessidades humanas, não podem ser confundidas com ação do Espírito santo. A ação do Espírito Santo vai muito além do nosso estado emocional. A ação do Espírito Santo nos leva a assumirmos uma postura de coragem pela vida. Para que esta postura seja possível precisamos dos dons espirituais. Dons espirituais são os elementos que cada um de nós precisa para seguirmos a Verdade, a saber, Jesus Cristo. O espírito Santo não fala dele mesmo, e anuncia e lembra a mensagem de Cristo. Para seguirmos a mensagem de Jesus Cristo é que devemos ser dotados de dons. O dom espiritual nos conduz para uma vida de paz, não qualquer tipo de paz; a paz baseada na verdade, na justiça, no amor, na postura ética que produz dignidade e que supere as mazelas do mundo. Ação do Espírito Santo é muito mais que uma experiência emocional em um templo, é a possibilidade de sermos conduzidos através da Verdade para a Redenção e a Reconciliação. Quando clamamos pela ação do Espírito santo, clamamos para sermos conduzidos pela força do amor e não para conduzirmos uns aos outros pelo caminho do egoísmo. A ação do Espírito santo é isto: condução pelo caminho chamado Verdade para a superação do egoísmo, o pecado que nos separou de Deus. Nenhuma experiência mágica ou emocional fará isto acontecer.