Quando o gelo se derrete

Meditação

20/05/2005


Este mundo fantástico sempre serviu e continua servindo de lugar para que os pequenos e os grandes reis e os pretensos senhores possam se acomodar com folga. O Deus da cristandade, no entanto, anuncia que Jesus Cristo, o crucificado, é rei e senhor. Ele é senhor que derrete o gelo sobre os extensos campos da vida, cobertos por grossas camadas de gelo do egoísmo, dos pensamentos mesquinhos e da falta de humanidade..

A ação desse quebra-gelo divino se inspira na fonte da justiça e põem em prática a bondade e a misericórdia. É assim que Jesus Cristo garante sua vitória em favor de toda a humanidade. Por causa de Pentecostes, reacende-se o sonho que vislumbra o novo mundo; pessoas e comunidades são despertadas em busca da novidade de vida. Deus revela a qualidade de sua justiça e mostra o seu espírito humano, em razão de atitude generosa, jeito seu que testemunha mão aberta. Deus divide seu poder e nos envia para o mundo como cooperadores de sua missão.

Quando Deus age no mundo, ocorrem coisas estranhas. Vejamos: no ato da criação, Deus só falava e as criações aconteciam. Enquanto o povo, para assegurar o poder próprio e saciar a sede pela fama diante da humanidade, resolve construir a torre de Babel, Deus intervém e permite que aconteça a maior confusão. A Elias, o profeta, o Senhor se manifesta através de uma brisa suave. No Natal de Jesus Cristo, os pastores no campo se vêem envoltos por uma luz forte que causou cegueira e uma reação maravilhosa ao mesmo tempo. No dia de Pentecostes, em Jerusalém, os discípulos são surpreendidos com o zunido de um vento que atravessava as paredes. Um fenômeno que procedia de fora e fugia do controle deles.

Por causa da experiência de Pentecostes, a história da Igreja e da humanidade adquiriu novo rumo. A comunidade desperta para servir no mundo. O Espírito Santo não veio excitar os nervos e os sentimentos de algumas pessoas sensíveis a impressões fortes. O espírito de Deus desce sobre o mundo para anunciar que o reino de Deus é promessa e esperança para todos os seres humanos. Por causa da presença do espírito divino, a dicotomia entre o mundo espiritual e o mundo material está superada. O batismo, sinal tão humano e material ao mesmo tempo, assim como a Ceia do Senhor, torna-se elementos constitutivos para a edificação da comunidade a serviço do reino de Deus.

O espírito revelador de Deus deixou suas marcas. A paisagem gélida habitada pelo medo, pela falta de coragem e de esperança diante do futuro incerto, vai se derretendo. As portas travadas não resistem. O vento santo de Deus é irresistível e penetra em todas as partes. As portas são abertas. A presença do Espírito Santo devolve a certeza de que Jesus Cristo, o Deus de rosto humano, não nos abandona. Desaparecendo o medo, os raios da coragem, o sentimento de liberdade e a disposição à alegria reaquecem corpo e alma dos discípulos de ontem e de hoje.

A revolução desencadeada pela ação do poder de Deus foi profunda. Comunidades foram surgindo durante toda a história, até os nossos dias; o pão foi repartido com os famintos; pessoas doentes eram curadas; e aos oprimidos, por causa da sobrecarga das consciências pesadas, é anunciado o perdão de Deus. O Espírito Santo continua soprando onde ele quer. Muitos são os sinais desta sua presença libertadora. Por causa de sua proximidade, a atitude de reconciliação aproxima pessoas em conflito e se torna verdadeira oferta de vida nova, isenta de desejos egoístas.

A experiência de Pentecostes fortalece a fé ativa na sociedade. O espírito da verdade firma a vontade de nadar contra a correnteza da mentira; esta se encontra na ante-sala da violência e da injustiça e é cúmplice da exploração ambiciosa do próximo enfraquecido. O bom espírito de Deus continua bem presente e nos anima a zelar pelos bens públicos, a cuidar das nascentes frágeis de rios, assim como do azul transparente das águas do mar.

O efeito de Pentecostes nos motiva a cooperar com a qualidade de trânsito nas ruas da cidade e nas rodovias do país. O Espírito Santo desceu do céu para denunciar todo o tipo de fundamentalismos ideológicos radicais, promotores do terror e do desrespeito à vida humana. Embora as plantas e os animais também sejam criações de Deus, não foi sobre elas que desceu o poder do espírito divino. Pessoas humanas são aquelas que carecem do poder de Deus. Isentos do poder do espírito de Pentecostes, seres humanos deixam de ser uma fonte de paz e de bênção. Pelo contrário, transformam-se em ameaça à humanidade.

À medida que Deus, o senhor da história, derrete o gelo da ambição humana, o amor e a reconciliação podem tomar conta e convidam a bater palmas!

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

Jornal A Notícia - 20/05/2005


Autor(a): Manfredo Siegle
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 7889
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