A condição juvenil apresenta-se marcada por desigualdades de ordens distintas - sociais, políticas, econômicas e culturais. Também no campo midiático, pesquisas demonstram profundas distorções na situação juvenil. Um exemplo está relacionado ao modo como o jovem aparece nos jornais e noticiários televisivos. Pesquisadores constataram que a criminalidade juvenil é hiperdimensionada, ou seja, o jovem aparece numa relação inversa ao que as estatísticas têm demonstrado no Brasil. Para cada adolescente que pratica um homicídio, cinco morrem como vítimas de homicídios1.
Diante desta grave realidade, muitas das respostas decorrentes a partir das políticas públicas e de organizações sociais com ênfase na juventude acabam tendo um caráter emergencial, buscando diminuir o “risco” ou a “vulnerabilidade” deste jovem, paradoxalmente ampliando sua estigmatização, ao fixá-lo em tal posição de risco ou vulnerabilidade2. Os jovens são vistos como sujeitos em constante “perigo” social para os quais é necessário tomar uma série de medidas sócio-educativas.
Por outro lado, há que se considerar a emergência de distintos movimentos juvenis onde os jovens – vistos como atores políticos – constroem alianças e formas de atuação em rede, que, em alguns casos, inovam as práticas sociais. Estas formas de expressão e de organização social nos apontam a necessidade de efetivamente se superar o assistencialismo, com vistas a um trabalho “com” e “de” jovens.
Na atualidade, presencia-se a emergência de “novos atores sociais” e, com eles, novas formas de expressão e de mobilização coletiva. Nesse processo, interessa perceber como os jovens, vistos como “novos atores sociais”, estão se mobilizando e se socializando em nossa sociedade. Alguns estudos constatam que, principalmente em virtude do distanciamento e da descrença nos mecanismos e processos políticos tradicionais, os jovens estão buscando formas de socialização com as quais encontrem maior identificação, ou seja, espaços a partir dos quais conversariam de si mesmos, suas inquietações, solidão, desejos e, ao mesmo tempo, processos de segregação e discriminação a que são submetidos. A ênfase parece estar nas relações mais grupais, menos totalizáveis, de vínculos mais efêmeros, de experiências que vão e vêm.
Há distintas formas de análise quanto aos modos e às motivações para a atuação dos jovens na sociedade contemporânea. Há quem destaque mais a dimensão do conflito, sobretudo na perspectiva do poder. Ou seja, o jovem é percebido como um “ator de conflito” que busca se afirmar na relação com o poder constituído. Outro enfoque, por sua vez, enfatiza os aspectos relacionados à identidade juvenil, a saber, por meio da ação, os jovens, buscam a afirmação da sua existência e singularidade. De modo geral, porém, há que se destacar que os jovens estão deixando de ser vistos somente como objetos para quem se destinam as ações, para serem encarados como protagonistas das mesmas.
A diaconia, como serviço de amor ao próximo, está voltada para as necessidades concretas das pessoas e os jovens muitas vezes não encontram espaços onde possam participar, ser orientados e ouvidos. O protagonismo possibilita a efetiva participação do jovem na construção do seu projeto de vida, na comunidade e na sociedade. protagonismo juvenil na sua comunidade.
Sugestão de atividade prática:
Preparar anteriormente: recortes de jornais ou revistas que falem sobre a temática da juventude, especialmente nas páginas policiais onde sempre encontramos notícias vinculadas a jovens.
1° momento
No grande grupo, discutir o texto em conjunto, depois em pequenos grupos.
Cada grupo recebe três ou mais recortes de notícias e tem como tarefa depois de ler as notícias responder às seguintes questões:
• Nos textos lidos a imagem do jovem é associada a que?
• É possível estabelecer alguma relação entre o texto e as notícias? Quais?
• De que forma os jovens são vistos na sua comunidade? Quais são as formas de inclusão dos mesmos na dinâmica da comunidade?
2° momento
Buscar com o grupo, através de uma conversa, possíveis alternativas práticas para fortalecer o protagonismo juvenil na sua comunidade.
Notas:
1 Relatório de Pesquisa do Núcleo Criminalidade e Espaço Urbano, as Transversalidades da Violência,
Unisinos/RS. 2003. Pesquisa intitulada “Criminalidade e notícias nos Jornais de Porto Alegre” realizada por Henn e Oliveira. Na esfera nacional, a Agência de Notícias dos Direitos da Infância – ANDI, desde 1997 vem pesquisando as temáticas: juventude e a mídia. http://www.andi.org.br.
2 Nessa análise, entre outros estudos, ressaltamos as contribuições de Simone Huning, 2003.
Deisimer Gorczevski é Assessora Programática da Fundação Luterana de Diaconia (FLD) artigo escrito em colaboração com Carlos Bock, secretario Executivo da FLD
Porto Alegre/RS