Aos 19 anos, Marcos foi abordado pelo avô, preocupado e curioso, simultaneamente, que disse: Marcos, tu és pessoa jovem, inteligente e realista, qual é teu projeto de vida? Com certeza, já desenvolveste um projeto assim. Prontamente o jovem respondeu: Por enquanto, meu projeto de vida está concentrado no vestibular. Logo emendou dizendo: Minha opção vocacional é a engenharia. E então? - continuou o avô, interessado no futuro do neto. Bem, depois de formado, quero empenhar-me por uma colocação numa empresa interessante e realizar ali meu trabalho. Vou desenvolver projetos de construção de casas e prédios. O avô, mais curioso ainda, prosseguiu: Sim, e depois, Marcos? Com meu trabalho, pretendo ganhar algum dinheiro e estruturar minha vida, quero casar e, quem sabe, trazer-lhe, um dia desses, um bisneto. Demonstrando estar satisfeito, o avô continuou insistindo: E depois, meu neto? Bem, meu querido avô, depois farei, se possível, alguma especialização e tentarei conquistar um dos melhores lugares no ramo da engenharia, em nossa cidade. De ouvidos atentos, o avô acrescentou: E então? Depois - reagiu o neto -, gostaria de tornar-me um avô tão bondoso e interessado como o senhor é para comigo! Sim, e depois, Marcos? Agora, um tanto reticente, o jovem idealista prosseguiu e afirmou: Depois vou envelhecer e um dia minha vida vai acabar..
E então? - indagou o avô...
Para onde levam nossos projetos de vida? Aonde eles desembocam? Aonde aninhar nossos projetos de vida?
A preocupação e a curiosidade, expressos na conversa entre o neto e seu avô, procedem e têm sido uma constante no decorrer da história humana. Há quem assevere que a participação num mundo futuro é direito adquirido mediante eficiência pessoal e esforço próprio. Os cristãos apontam o reino de Deus, realidade utópica, que não se enquadra nos padrões e pensamentos humanos, nem se esgota nos projetos políticos e sociais e também não se limita às estruturas ideológicas terrenas. A sociedade humana, na qual nos integramos, vive sob os efeitos da magia do sucesso. A garantia de vida e a certeza de felicidade presente e futura têm como fontes inesgotáveis as leis da produtividade e a necessidade de exaurir as forças físicas e mentais ao alcance do ser humano.
O apóstolo Paulo, em sua carta à comunidade cristã, na cidade de Roma, lembra, afirmando: Tende o mesmo sentimento uns para com os outros, em lugar de serdes orgulhosos condescendei com o que é humilde (Romanos 12, 16). O essencial não é a produtividade, mas sim a identidade! A sociedade humana está inclinada a prestar culto aos deuses do crescimento e do progresso, à semelhança do culto que, nas culturas primitivas, era prestado aos deuses da fertilidade. Discípulos de Jesus Cristo aplicam outra medida a seus projetos de vida. O jogo da escalação e do sucesso não é referencial prioritário. Embora as pessoas cristãs não possam ser identificadas como negativistas, elas apostam na via da negação (via negationis), como aquela que preenche a vida com sentido e assegura o futuro.
A fé neste Senhor não prioriza a política da conquista e do sucesso próprio, antes aposta na renúncia em favor do bem-estar do outro; ao invés de forçar o caminho voltado para cima e para frente. Cristãos sabem redesenhar a estrada da vida, também para baixo e para os lados. Desse jeito, a criação e as demais criaturas permanecem na linha visível do horizonte para serem apercebidas solidariamente. Discípulos/as de Cristo enxergam mais longe do que os sistemas humanos são capazes de enxergar! O Evangelho será digno de toda credibilidade à medida que o compromisso do amor e da justiça se tornar transparente. É o desafio da missão de Deus, mediante a cooperação humana!
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 20/06/2003