Entrevista: Prof. Ms. Osmar Witt, arquivista do Arquivo Histórico da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
Responsável pelo funcionamento do Arquivo Histórico da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), o professor da Faculdades EST Ms. Osmar Witt exerce a nobre missão de catalogar e zelar pela preservação de documentos, fotos, livros e microfilmes que remontam a trajetória do povo evangélico luterano em terras brasileiras.
Além de assegurar a manutenção e integridade dos documentos que compõem o arquivo, Osmar Witt auxilia o trabalho de pesquisadores/as interessados em resgatar e compreender aspectos da história da imigração alemã no Brasil.
Na primeira edição do Prêmio Martius-Staden, concedido em 1999, o Arquivo Histórico da IECLB foi homenageado por seu destacado trabalho de preservação, divulgação e estreitamento dos laços culturais entre Brasil e Alemanha.
Aberto ao público desde março de 1998, o Arquivo Histórico da IECLB funciona através de convênio firmado com a Faculdades EST como projeto vinculado ao Programa de Pós-Graduação. O espaço comporta até duas pessoas trabalhando simultaneamente e permanece aberto de segunda-feira à tarde até sexta-feira pela manhã, no terceiro andar do prédio H da Faculdades EST.
1- Por que e desde quando existe o Arquivo Histórico da IECLB?
Osmar - O Arquivo Histórico da IECLB existe para assegurar a guarda e a preservação dos documentos relativos à história da IECLB, suas comunidades e instituições. Além disso, sua razão de ser está em assegurar as condições de acesso a esses documentos, para que sirvam à pesquisa de temas relacionados com a história do povo evangélico luterano em terras brasileiras. Ele está aberto ao público desde março de 1998.
2 - Quais materiais compõem o acervo?
Osmar - Do acervo do Arquivo Histórico fazem parte documentos que registram as iniciativas de reunir as comunidades evangélicas luteranas numa caminhada conjunta de Igreja. Em 1868, o Dr. Hermann Borchard, pastor de São Leopoldo, fez a primeira tentativa de reunir em um Sínodo aquelas comunidades que existiam no Rio Grande do Sul desde a chegada dos primeiros imigrantes alemães, em 1824. Embora este Sínodo tenha tido uma vida curta, ele serviu como indicativo para o caminho futuro dos evangélicos luteranos. Assim, em 1886, fundou-se o Sínodo Rio-Grandense, cuja área de abrangência alcançava também o oeste de Santa Catarina. Em 1905, foi criado o Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros Estados. Poucos anos depois surgiriam mais dois Sínodos: a Associação de Comunidades Evangélicas de Santa Catarina e Paraná, em 1911, e o Sínodo Evangélico Brasil Central, em 1912, o qual reunia comunidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e, parcialmente, do Espírito Santo. Estes quatro Sínodos uniram-se, em 1949, para formar uma Federação Sinodal, na qual se constituiu a IECLB. A documentação relativa a este caminho percorrido, em especial a correspondência que permite conhecer as tratativas havidas, são parte do acervo de nosso Arquivo Histórico. Além disso, mais recentemente, foram encaminhados os documentos de algumas das antigas Regiões Eclesiásticas e Distritos Eclesiásticos, bem como de setores de trabalho e departamentos como, por exemplo, a Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas-OASE, Juventude Evangélica-JE, Legião Evangélica-LE, Missão, Diaconia, pastas pessoais de pastores e ainda Acervos Pessoais de algumas lideranças destacadas da IECLB. O Arquivo dispõe também de microfilmes de Livros de Registro (Batismo, Confirmações, Matrimônios, Óbitos) de algumas Comunidades e Paróquias da IECLB.
3 - Estes materiais datam de que épocas?
Osmar - Os documentos mais antigos estão contidos nos microfilmes dos livros de registros paroquiais, que alcançam a primeira metade do século XIX. Os documentos em papel datam da segunda metade do século XIX, mais precisamente, após 1864, ano da chegada do P. Borchard a São Leopoldo. Boa parte da documentação dos antigos Sínodos é relativa à primeira metade do século XX. Os anos pós-Segunda Guerra viram o surgimento da Federação Sinodal-IECLB. Os documentos mais recentes são dos anos que antecederam a reestruturação da IECLB, em 1999.
4 - Qual é o documento mais antigo catalogado?
Osmar - Os mais antigos são os documentos do P. Borchard, relativos à criação do Sínodo Evangélico Alemão da Província do Rio Grande do Sul, que se deu em 1868.
5 - A quem pertence o Arquivo Histórico e como surgiu a idéia de criar este espaço?
Osmar - O Arquivo Histórico pertence à IECLB em convênio com a Faculdades EST. Desde a sua criação, foi compreendido como um projeto vinculado ao Programa de Pós-Graduação. O Arquivo existe, sobretudo, para viabilizar a pesquisa histórica. O convênio firmado estabelece que a Faculdades EST se responsabiliza por oferecer o espaço e a infraestrutura de funcionamento. A IECLB, por sua vez, assegura em seu orçamento os recursos para o pagamento do arquivista e eventual compra de equipamentos. O Arquivo tem uma Diretoria, cujos integrantes são: um/a docente de História, um/a docente da Faculdades EST e o Secretário Geral da IECLB.
A idéia de criar este espaço, inicialmente fomentada pelos professores de História da Igreja, Dr. Joachim H. Fischer e Dr. Martin N. Dreher, deveu-se à necessidade de preservar os documentos relativos à história do luteranismo no Brasil e de fomentar a sua pesquisa.
6 - Qual é o trabalho desenvolvido pelo arquivista?
Osmar - A atuação do arquivista desenvolve-se em dois sentidos: a. Em relação ao acervo documental é sua responsabilidade recebê-lo, deixá-lo em condições de ser classificado e integrado ao acervo, classificá-lo e catalogá-lo para assegurar o acesso aos pesquisadores e pesquisadoras. b. Em relação ao atendimento das pessoas que buscam o Arquivo para pesquisas é função do arquivista fazer um levantamento prévio do material disponível, apresentá-lo à pessoa interessada e, assim, facilitar o trabalho. O arquivista também zela para que a responsabilidade pelo uso das fontes seja assumida pelo pesquisador de acordo com os regulamentos em vigor.
7 - Quais cuidados precisam ser tomados para preservar os materiais em bom estado?
Osmar - Os documentos recebem antes de tudo um tratamento no sentido de livrá-los do pó e de objetos de metal que podem provocar sua corrosão. Fungos e insetos também são grandes apreciadores de papéis antigos, naturalmente não pelo seu valor histórico. Então, é preciso assegurar-se de que o acervo fique em ambiente com temperatura e umidade controlada para evitar a proliferação de fungos e insetos que possam representar risco à integridade dos documentos. Além disso, os documentos ficam acondicionados em envelopes de papel alcalino. Estes envelopes por sua vez, ficam em caixas de papelão que são ordenadas nas estantes. Naturalmente, a documentação não pode ser retirada do ambiente do arquivo e deverá ser pesquisada na sala de leitura.
8 - Como é possível estabelecer contato para eventuais pesquisas?
Osmar - O atendimento ao público se dá de segunda-feira à tarde até sexta-feira de manhã, no horário das 8h até às 11h45min e das 13h30min até às 17h15min. Facilita o trabalho de atendimento se for feito um contato anterior à visita. O endereço eletrônico é: arqhist@est.edu.brEste endereço de e-mail está protegido contra spam bots, pelo que o Javascript terá de estar activado para poder visualizar o endereço de email ; o telefone é: 51-2111-1400, ramal 422. O contato também é importante para a organização na sala de pesquisa, que é modesta e não comporta mais do que duas pessoas trabalhando simultaneamente.
9 - Qual é a contribuição do Arquivo Histórico para os pesquisadores vinculados ao Programa de Pós-Graduação da Faculdades EST?
Osmar - Como projeto vinculado ao Programa de Pós-Graduação, o Arquivo é espaço de pesquisas na área de história do luteranismo no Brasil, em especial da IECLB, e também para estudos que se ocupem com a história da imigração alemã no Brasil. Vários projetos de mestrado e doutorado tem se beneficiado da pesquisa no acervo do Arquivo Histórico. Além disso, são oferecidas condições para que projetos de iniciação científica sejam realizados sob a supervisão de docentes coordenadores que atuam na pós-graduação.