PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA - MATEUS 4.1-11

09/02/2016

PRIMEIRO DOMINGO NA QUARESMA
Mateus 4.1-11
Irmãos e irmãs em Cristo!

“Quando alguém for tentado, não diga: Esta tentação vem de Deus. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo não tenta ninguém. Mas as pessoas são tentadas quando atraídas e enganadas pelos seus próprios maus desejos. Então esses desejos fazem com que o pecado nasça, e o pecado, quando já está maduro, produz a morte” – Tiago 1.13-15

Dizem que cada pessoa tem o seu preço. Que é apenas uma questão de se oferecer o valor exato para dobrar a mais honesta das pessoas. De fato, nós conhecemos muitas pessoas que eram honestas e bem intencionadas. Porém, ao entrarem na vida política, assumindo cargos públicos, foram seduzidas pelo poder e pelo dinheiro. Deixaram a honra de lado e se afundaram no lamaçal da corrupção. No mundo dos negócios parece não ser muito diferente. Quantos são tentados à concorrência desleal, à sonegação de impostos (“O dinheiro é desviado mesmo. Então, que diferença faz?!”), à falsificação de produtos e pesos, etc. Nem todos conseguem resistir. E nós, querida comunidade, somos íntegros em tudo o que fazemos? Ou também nos deixamos arrastar pelas tentações, que querem nos seduzir e desviar? Não nos referimos tão somente às grandes tentações que envolvem muito dinheiro, muito poder ou muita influência. Pensamos, sobretudo, nas pequenas tentações diárias, que pouco aparecem: Aquele troco a mais que não foi devolvido; a ultrapassagem em lugar proibido que nos colocou na frente da fila de carros; o silêncio que foi comprado, deixando a injustiça grassar...

Percebemos que as maiores tentações ocorrem nas áreas do poder, da fama e da riqueza. Nós somos tentados tal qual o peixe é atraído pela isca do anzol. Ele só enxerga a saborosa isca, mas não percebe o anzol. Depois de fisgado, é difícil desvencilhar-se.

Afirmamos inicialmente que cada pessoa tem o seu preço. Basta saber oferecer a soma exata. Será que alguém consegue resistir? O testemunho bíblico de Mateus 4.1-11 afirma que sim. É possível resistir às tentações desde que não se apoie nas próprias forças, mas busque as forças lá do alto por meio da palavra de Deus.

Sim, existe aquele que resistiu a todas as provocações e tentações: Jesus Cristo, nosso Salvador! Seu confronto com as seduções, provocações e tentações não se limitou ao período de quarenta dias e quarenta noites que ele jejuou no deserto. Toda a passagem de Jesus por nossa vida foi uma contínua batalha contra as tentações: Ao vir ao mundo, Jesus “abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos” (Fp 2.7). “Ele tinha a natureza de Deus, mas não tentou ficar igual a Deus” (Fp 2.6). Ao ser crucificado, Jesus foi provocado insistentemente: “Se você é mesmo o Filho de Deus, desça da cruz e salve-se a si mesmo” (Mt 27.40).

As mesmas abordagens provocativas nós encontramos em Mateus 4.1-11:

1. Se você é o Filho de Deus, mande que estas pedras virem pão (v.3). Jesus não só é atacado no seu aparente ponto fraco (jejum de 40 dias e 40 noites – debilitado fisicamente). O tentador lembra-o que ele tem o poder de transformar pedras em pão e saciar a própria fome (afinal, “todo o poder lhe foi dado no céu e na terra” – Mt 28.18). Mas Jesus é provocado na essência do seu ser (Filipenses 2 afirma que “Jesus abriu mão de sua natureza divina e viveu a vida comum de um ser humano, foi humilde e obedeceu a Deus até a morte – e morte de cruz” (Fp 2.8). Qual é a provocação? “Se você é o Filho de Deus, mostra isso e usa isso em benefício próprio!” Diz um ditado que “o poder corrompe”. Quando se experimenta a sedução do poder, dificilmente se consegue resistir ao uso do mesmo em benefício próprio. Assim nascem as ditaduras. Grandes e pequenas. Nas nações e nos lares.

2. Se você é o Filho de Deus, jogue-se daqui para baixo (v.6). Outro ponto fraco é a bajulação, a busca por prestígio e fama. Nós observamos isso nas campanhas eleitorais. Os candidatos contratam agências publicitárias, que maquiam rosto e caráter dos mesmos, fazendo-os passar pelos mais honestos e bem-intencionados seres da terra. Aliás, quem de nós não gosta de um elogio, de uma massagem no ego? Tem gente que se ofende, quando ninguém exalta as suas qualidades e a sua bondade.

Jesus foi provocado exatamente neste ponto: “Mostra que tu és o Filho de Deus. Atira-te abaixo e pousa glorioso nos braços do povo. Todos te adorarão. A causa estará ganha”. . No nosso tempo de criança, quando brigávamos no caminho da escola, era costume riscar o chão e provocar o adversário: “Se você for homem, apaga este risco!” Não dava outra. Não se resistia à tentação e a briga estava feita.

Nada como um show para atrair e convencer as multidões (as igrejas “televisivas” exploram exatamente este ponto). E, para definitivamente convencer Jesus, o tentador usa um argumento infalível. Ele cita a Bíblia (sim, ele conhece as Sagradas Escrituras melhor do que nós e sabe usá-las com astúcia). Ele cita o Salmo 91.12

3. Na terceira investida, o tentador deixa as provocações de lado e parte para a tentação direta: “Se você se ajoelhar e me adorar, eu lhe darei o poder sobre os reinos do mundo e as suas grandezas” (v. 9) (Daí vem a conhecida expressão: vender a alma ao diabo). O tentador oferece o domínio sobre todo o mundo. Em troca, Jesus deve submeter-se ao senhorio do tentador. Aliás, conforme o Salmo 24, o tentador mente e oferece algo que não lhe pertence, pois “o mundo e tudo o que nele existe, pertence ao Senhor Deus” (v.1). Esta é a pior de todas as tentações. Poder e dinheiro corrompem facilmente o ser humano. Vemos e sentimos isso todos os dias, quando nós mesmos não corremos o risco de nos tornar reféns do poder e do dinheiro!

O romance “O Retrato de Dorian Gray, do escritor irlandês Oscar Wilde (1854 – 1900), aborda magistralmente este aspecto: Dorian Gray é um jovem envaidecido, narcisista e hedonista. Seu único propósito é a beleza e o prazer. E, para não perder a sua juventude, vende sua alma ao demônio: Só o seu retrato envelheceria, enquanto ele permaneceria eternamente jovem e belo. Porém, perde a sua alma!

Estamos nós acima de qualquer preço e oferta? A mensagem bíblica nos diz que sim e nos convida para isso. Para tanto, precisamos espelhar-nos em Jesus – feito ser humano. Ele não ficou imune às tentações. Ele sofreu seduções e provocações de toda sorte. Porém, não buscou forças para resistir dentro de si mesmo (pois confiar em si é mais uma tentação). “Em tudo, ele foi humilde e obediente a Deus” (Fp 2.8). A sua defesa e força vieram de fora. Vieram do conhecimento e da vivência da palavra de Deus, vieram da obediência à vontade do Senhor, vieram do Espírito Santo, que estava com ele durante toda a sua trajetória.

Por isso, nós oramos no Pai Nosso: “Não nos deixes cair em tentação”. Suplicamos a Deus que não nos deixe sofrer tentações desprevenidos, desarmados, indefesos, assim como uma ovelha desprevenida na boca do lobo ou como uma ave na boca da arapuca. Peçamos que Deus nos acompanhe com seu Santo Espírito para que não sucumbamos às tentações. E, sobretudo, que não tenhamos somente o conhecimento da palavra de Deus, mas que vivamos dela: “Não só de pão vive o ser humano, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (v. 4). Esta é a nossa força. Esta é a nossa defesa.

Que esta reflexão nos acompanhe nestes nossos quarenta dias e quarenta noites de jejum (quaresma).
Amém
Pastor Sinodal Geraldo Graf
g.graf@uol.com.br
 


Autor(a): Pastor Sinodal Geraldo Graf - Sínodo Sudeste
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 11
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 36783
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