Preservando a unidade do Espírito no vínculo da paz

por uma Igreja autêntica

05/08/2018

Com certeza vocês devem lembrar de todo aquele alarde quando os computadores com Windows foram atualizados para a versão 10. No início foi toda uma algazarra porque muitos pensaram que a Microsoft tinha liberado a nova versão para todos os computadores, não importando se a versão anterior era pirata ou não. Mas, depois veio a decepção para muitos, somente computadores com uma versão autêntica ganhariam de graça a cópia do novo Windows. Não adiantava ter uma cópia pirata, você continuaria tendo os problemas de qualquer versão pirata.

Mas, por que inicio minha prédica com essa questão de informática? Pois bem, eu quero falar sobre a qualidade autentica e original de alguma coisa. Não vou entrar na questão moral de comprar coisas que não tem certeza de origem ou de todo o dinheiro que essa coisa deixa de render aos cofres públicos pela falta de recolhimento de impostos. Isso ficará para outro dia. Hoje eu quero falar sobre a diferença para a igreja entre ser autêntica ou uma cópia falsa. Quero falar sobre a credibilidade que nós temos como comunidade de fé. Uma comunidade que é vista, observada, escutada e tomada em sério no Rio de Janeiro e no Brasil. Pois, nós temos que ter credibilidade tanto para dentro, para aquelas pessoas que são cristãs e querem continuar fazendo parte da comunidade, assim como também contar com credibilidade externa, para com aquelas pessoas que não fazem parte de nosso jeito de viver a fé, mas para com as quais nós temos uma enorme responsabilidade.

O texto da carta dirigida aos efésios, nos mostra como era vista a igreja no início do cristianismo, em verdade são pensamentos de ponta para aquela época.

O primeiro pensamento, é que a Igreja (com i maiúscula!) não é uma associação ou um projeto feito por pessoas, o fundamento da Igreja é Deus.

Lembremos do dia de Pentecostes, onde os discípulos estavam reunidos em Jerusalém, porém não tinham uma visão do futuro. Com a ação do Espírito Santo, tornaram-se pessoas corajosas e começaram a agir. Deus ajudou essas pessoas para alcançar um objetivo duplo: ter união entre si e partilhar o evangelho de Jesus Cristo. Nós também somos que nem os discípulos: não fundamos a igreja, o Espírito Santo nos dá forças, guia nosso caminho.

Mas, o Espírito de Deus não deu somente o primeiro impulso, senão colocou pessoas de acordo com seus dons, como lemos no texto: “Ele escolheu alguns para serem apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e ainda outros para pastores e mestres da Igreja. Ele fez isso para preparar o povo de Deus para o serviço cristão” (4.11-12a). De forma simplista podemos ver essa lista como uma ordem hierárquica da Igreja, tendo uns com mais importância que outros. Mas, a Igreja deve ser entendida a partir do modelo paulino do Corpo. Cada membro do corpo tem um significado e uma tarefa específica e especial, seu bom funcionamento possibilita que o corpo possa funcionar. Se alguém deixa de realizar sua tarefa, o corpo sofre e não funciona direito. Essa metáfora não vale somente para o pastor ou o presidente do Conselho Paroquial, vale para cada pessoa que é parte do corpo de Cristo: as senhoras da OASE, os membros do coral, as crianças no Culto Infantil, até aquele membro que diz que não importa, esse é muito importante. Na Igreja autentica, cada pessoa batizada é chamada para fazer o corpo funcionar.

Uma pergunta que faço cada tanto é: Como nossa IECLB é conhecida? Ou sendo mais específico: Como nossa Paróquia é conhecida? Qual a característica que chama mais atenção? Sempre escuto respostas diversas, às vezes umas mais assustadoras que as outras. Se lemos em Atos sobre a Comunidade em Jerusalém, ali diz que as pessoas conheciam aquele grupo por sua fé, seu agir, sua oração. Quando trabalhava no sul, o que mais me impressionou é que nossa igreja era conhecida pelo excelente Café Colonial. Tudo bem, que bom que tivesse um bom café colonial que dava excelente resultado financeiro, que bom que as pessoas que iam ficavam bem satisfeitas. Mas, isso é como se uma loja de produtos de informática fosse conhecida pelo excelente cafezinho que você pode tomar quando está lá. É incoerente, está faltando alguma coisa, onde está a autenticidade?

Se perguntasse pela característica que mais chama a atenção da IECLB que será que as pessoas respondem? Se perguntasse por nossa Paróquia, qual seria a resposta? Sei que não somos um excelente lugar para vender Café Colonial como no sul. Mas, fico com medo de escutar alguma verdade que incomode. Como as pessoas resumem “Paróquia Bom Samaritano? Nestes dias de internet ágil, de comunicação instantânea pelo WhatsApp, muita informação e desinformação se espalha. Eu tristemente vejo como agora a IECLB é vista como uma igreja que briga por causa do Lula, uns apoiando, outros condenando um pastor que o visitou. Também nos últimos dias, a despenalização do aborto até a décima segunda semana de gestão, está causando novo turbilhão. E agora como somos conhecidos?

A questão não são os problemas, eles sempre existiram, a Comunidade em Jerusalém também os tinha, aconteciam intrigas, brigas de poder, sonegação. A questão é como resolver os problemas e seguir adiante como Igreja (novamente aqui com “i” maiúscula!). A comunidade em Éfeso era semelhante à de Corinto. Problemas existiam e não sabiam ao certo como lidar com isso. Eis a motivação das cartas do Apóstolo Paulo: ajudar às pessoas a se darem conta daquilo que tinha feito Deus por elas e que por isso elas deviam de agir diferente em relação umas com as outras. Deus nos dá unidade, nos dá esperança, nos dá Jesus Cristo. O que nós fazemos com isso é o principal. Devemos nos perguntar: O que eu posso fazer para que a unidade não seja prejudicada? Nossa missão não é criar Igreja, nem unidade, nem esperança, nem Batismo, nem Jesus Cristo. Deus nos deu tudo isso, a cada um de nós cabe o cuidado com o que recebemos. Como eu mostro que sou cristão? Para isso quero lembrar uma pequena estória:

Fábula do porco-espinho
Durante uma era glacial, quando o globo terrestre esteve coberto por grossas camadas de gelo, muitos animais não resistiram ao frio intenso e morreram, por não se adaptarem ao clima gelado.
Foi então que uma grande manada de porcos-espinhos, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começou a se unir, a juntar-se um pertinho do outro. Assim, um podia aquecer o que estivesse mais próximo. E todos juntos, bem unidos, aqueciam-se, enfrentando por mais tempo aquele inverno rigoroso.
Porém, os espinhos de cada um começaram a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam mais calor, calor vital, questão de vida ou morte. Na dor das “espinhadas”, afastaram-se, feridos, magoados, sofridos.
Dispersaram-se por não suportar os espinhos dos seus semelhantes. Doíam muito. Mas essa não foi a melhor solução: afastados, separados, logo começaram a morrer congelados. Os que não morreram, voltaram a se aproximar, pouco a pouco, com jeito, com precaução, de tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distância do outro, mínima, mas suficiente para conviver sem ferir, para sobreviver sem magoar, sem causar danos recíprocos. Assim, aprendendo a amar, resistiram ao gelo. Sobreviveram.

Entendeu? Os espinhos sempre vão existir, os problemas sempre vão estar ali. Mas, o instinto de sobrevivência de uns simples animais falou mais forte. Será que nós seres humanos pensantes, não podemos cuidar da Igreja, da IECLB, da nossa Paróquia, reconhecendo as diferenças e mesmo assim convivendo? Lógico que sim! Porque não somos nós com nossas limitações que indicamos o caminho. A orientação da Igreja é dada por Jesus Cristo, quem é nossa cabeça. Isso significa que desde sua fundação tem um programa, um planejamento: viver a Boa Notícia que Jesus trouxe ao mundo. Não dá para atrapalhar-se nos objetivos. Existimos como comunidade de fé, nos reunimos entorno da pregação da Palavra de Deus e da administração dos sacramentos. O corpo de Cristo está ali para mostrar ao mundo como vivem as pessoas amadas por Deus. Isso é ser igreja autêntica.
O mundo pede de nós que nos adaptemos aos novos tempos. Paulo nos adverte que não somos mais crianças pequenas que vamos com qualquer um. Somos convidados a falar a verdade e seguir com espírito de amor. Neste mundo tão cruel, onde as pessoas são mortas por pensar diferente, somos exortados a mostrar como é a Igreja autêntica. A saber-nos amados por Deus e por isso podemos amar às outras pessoas. Cada qual é importante, cada pessoa aqui presente é importante para Deus e para nossa Paróquia. Não vivamos um evangelho pirata, mas vivamos a cada dia como o autêntico Corpo de Cristo.
 


Autor(a): P. José Kowalska
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Bom Samaritano (Ipanema-RJ)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Efésios / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 48269
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