Prédica, proferida por ocasião da inauguração da Igreja "O Bom Samaritano" em Ipanema

21/06/1970

 Prédica, proferida por ocasião da inauguração da Igreja O Bom Samaritano em Ipanema/RJ

(O texto Lucas 10.25-37 queiram ler na Bíblia) 

Prezadas irmãs, caros irmãos em Cristo:

No diálogo que Jesus mantém com um adepto da religião judaica, um bom conhecedor da lei, são feitas considerações em torno do mandamento do amor a Deus e ao próximo. Ambos concordam que o cumprimento deste mandamento proporciona o recebimento da vida eterna. Se Jesus tivesse dialogado com um membro do budismo ou do islamismo, por certo, teriam chegado, nesta questão, à mesma conclusão. Evidente é, pois, que o mandamento do amor a Deus e ao próximo não é um princípio especificamente cristão, enquanto não o relacionarmos com a pessoa de Jesus Cristo. Dele precisamos falar para poder chegar à genuína compreensão da mensagem cristã sobre o amor do cristão a Deus e ao próximo. O autor da 1ª. Carta de João fornece a escala de prioridade na questão do amor, quando diz: Nós amamos, porque ele nos amou em primeiro.

Sim, quando Deus, em dado momento da história da humanidade, fez nascer o seu filho, quando Ele entrou em forma de carne e sangue neste mundo, manifestou o Senhor o seu grande amor a nós homens. Assim amou Deus ao mundo que deu o seu filho unigênito para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna . Manifestou-o, também, quando aceitou o sacrifício deste seu filho na cruel e bárbara morte numa cruz, erigida em Gólgota. Confirmando estar satisfeito, ser reconciliado com os homens pela vida, sofrimento e morte de Jesus, fê-lo ressuscitar dos mortos.

Esta ação de Deus em Cristo, que é história e pela qual nos é oferecido o amor de Deus, é o pano de fundo diante do qual devemos enxergar e apreciar o princípio do amor a Deus e ao próximo, exposto em nosso texto. Ligando desta forma a nossa passagem bíblica com o conteúdo principal do evangelho, salta aos nossos olhos a diferença fundamental do conceito cristão e a-cristão sobre o amor a Deus e ao próximo.

Não resta, pois, a menor dúvida que o cumprimento do amor a Deus e ao próximo só pode ser uma resposta que volta como eco em gratidão pela salvação que Cristo nos conquistou ou que Deus nos oferece em seu Filho.

Na teoria parece ser tudo muito simples. Estou certo que a maioria dos cristãos aceita este mandamento, enquanto ele fica restringindo a um princípio teórico. Quem de nós não há de aceitar teoricamente as palavras: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração... e amarás o teu próximo como a ti mesmo? A dificuldade, porém, surge no terreno da prática. Assim só não acontece conosco, já o era para o homem cujo diálogo com Jesus relata o nosso texto. Em resposta à pergunta: Quem é o meu próximo? esclarece Jesus numa parábola que apenas o bom samaritano amou o próximo, o necessitado, porque ele lhe ajudou e não o sacerdote nem o levita que só lhe dispensaram um olhar de longe.

O samaritano amou o próximo, que tinha sido espancado, roubado, que gemia de dores, deitado à margem da estrada, ajudando de três formas:

- usou os dons recebidos de Deus na prestação do serviço diacônico, fazendo curativos ao ferido;

- dispendeu dinheiro e bens para favorecer e garantir a sua recuperação física.

- “Vai, e procede tu de igual modo”. Esta é a conclusão que Jesus tira do relato para o seu interlocutor. Esta é também a ordem que ele dá aos cristãos, á sua igreja, aos membros do seu corpo, a ti e a mim. Cada um pessoalmente recebe esta ordem: “Vai, e procede tu de igual modo”.

No entanto, levantam-se barreiras que dificultam e impedem a ação da prática do amor ao próximo e com isto, do amor a Deus. Eis algumas:

1. Na antiguidade, entre os pagãos, em filosofias humanas, considerou-se o homem como sendo composto de três partes: corpo, alma e espírito. O corpo, encarado como cárcere da alma, recebeu um tratamento inferior cujo desaparecimento pela morte eu definitiva libertação à alma segundo os conceitos daquele tempo. A igreja primitiva também foi influenciada por esta filosofia pagã, restringindo, a maior parte dos seus membros, durante o decorrer de sua história, a dar atenção somente á cura dalma sem encarar o homem como uma unidade indivisível de corpo, alma e espírito e sem dar a devida atenção ao homem integral.

2. Tem surgido um deplorável racismo em que uns se julgam superiores aos outros, que se manifestou em escravaturas em tempos idos e que se manifesta nos nossos dias em ódios, agressões, desprezo e discriminações injustas, injustificáveis diante do criador comum. E não digamos que às escondidas e às vezes até declaradamente não exista entre nós. Infelizmente!

3. A formação de classes sociais que se fecharam, por motivos de ganância ou de avareza, em egoísmo, desprovido de sentimentos humanitários muito menos de cristãos, tem levado grupos dentro dum povo ou nação a isolar-se ou a restringir as suas ações de amor ao próximo apenas a seu grupo sem visar a totalidade irrestritamente.

4. Um clericalismo, sem base bíblica, tem monopolizado a ação da Igreja pelo testemunho com a palavra ou a ação. Partindo dum falso conceito do ministério, contribuiu a Igreja a que os assim chamados membros leigos perdessem, em larga escala, a sua maioridade de cristãos independentes, chamados ao testemunho, ao serviço no atendimento do homem integral e destituindo a Igreja de sua força missionária e de penetração em todos os campos de atividades humanas.

Hoje em dia, porém, a Igreja de Jesus Cristo, constituída pelos verdadeiros cristãos em todas as denominações cristãs, está chamada a atuar em todas as frentes, derrubando barreiras e levantando sinais de solidariedade humana para estabelecer condições essenciais para uma vida em dignidade humana e a paz entre os homens, povos e nações. Considerando o analfabetismo em grau demasiado alto, a fome, a indigna forma de habitação, a pobreza, a superstição e a ignorância de grande parte de nossa população brasileira, somos desafiados a entrar em ação pelo testemunho de nosso amor ao próximo. Já não basta falar, é preciso atuar como o bom samaritano.

A Comunidade Evangélica Luterana do Rio de Janeiro tem o sobejo motivo de alegria ao inaugurar esta Igreja, denominada “O Bom Samaritano” e o seu Centro Social. Ela levantou pela construção deste complexo, muito auxiliado por entidades de ajuda para o desenvolvimento do exterior, um sinal de solidariedade humana. Mas ela não pode descansar nos louros conquistados, ao contrário, todos os seus membros precisam conscientizar-se dos seus deveres de cristãos, vivendo o amor ao próximo em resposta ao amor de Deus em Cristo. Vamos, pois, em obediência ao nosso Senhor Jesus Cristo, dar a nossa contribuição no uso de nossos dons, os talentos de nossa capacidade profissional, pela doação de parte de nosso tempo e pelo dispêndio de parte de nosso dinheiro a favor dos necessitados, nosso irmãos e próximos, fazendo em conjunto um grande serviço de assistência social e dando um vivo testemunho pela participação em louvor a Deus. Agindo assim, todos os membros estarão irmanados com os demais cristãos ativos em outras denominações cristãs. É isto que o Senhor espera de nós! Amém.

Pastor Gustavo Adolfo Schünemann


Veja também: Culto alusivo aos 50 Anos da inauguração do templo e do Centro Social Bom Samaritano


 


Autor(a): Pastor Gustavo Adolfo Schünemann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Rio de Janeiro - Bom Samaritano (Ipanema-RJ)
Área: Missão / Nível: Missão - Diaconia
Área: História
Área: Celebração / Nível: Celebração - Jubileus
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 25 / Versículo Final: 37
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 57348
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