Prédica do Culto de Encerramento da 15ª Assembleia Sinodal do Norte Catarinense

03/06/2012

Romanos 8.12-17
12. Portanto, meus irmãos, nós temos a obrigação, que é de não vivermos de acordo com a nossa natureza humana.
13. Porque, se vocês viverem de acordo com a natureza humana, vocês morrerão espiritualmente; mas, se pelo Espírito de Deus vocês matarem as suas ações pecaminosas, vocês viverão espiritualmente.
14. Pois aqueles que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
15. Porque o Espírito que vocês receberam de Deus não torna vocês escravos e não faz com que tenham medo. Pelo contrário, o Espírito torna vocês filhos de Deus; e pelo poder do Espírito dizemos com fervor a Deus: “Pai, meu Pai”.
16. O Espírito de Deus se une com o nosso espírito para afirmar que somos filhos de Deus.
17. Nós somos seus filhos, e por isso recebemos as bênçãos que ele guarda para o seu povo, e também receberemos com Cristo aquilo que Deus tem guardado para ele. Porque, se tomamos parte nos sofrimentos de Cristo, também tomaremos parte na sua glória.

Que a Graça do nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a Comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês.
Queridas irmãs, queridos irmãos. Culto é festa. Festa porque Deus vem a nós e nos servir na Palavra e nos Sacramentos. Hoje em especial no Corpo e no Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. Quando Deus nos serve, Ele também quer alertar e despertar em nós sensibilidade para o serviço ao mundo.
Cabe-me aqui, em primeiro lugar, trazer a saudação da Presidencia da IECLB, do Pastor Dr. Nestor Paulo Friedrich, e também da Pastora 2ª Vice-Presidente, Silvia Beatrice Genz, mas também de toda a IECLB. Sempre que um Sínodo se reúne e como neste caso no Culto de Encerramento da 15ª Assembleia do Sínodo Norte Catarinense, a IECLB está se reunindo.
Tomo emprestado do Apóstolo Paulo, quando diz que ‘a Igreja de Deus que está em Corinto’ e digo “a IECLB que está no Sínodo Norte Catarinense”.
Na última quarta feira ouvi de uma Presidente de Comunidade: “A estrutura está muito longe do membro e o membro é quem, afinal, tem que arcar com tudo. Obrigado que o senhor veio dialogar conosco e conhecer nossa crise.”.
É também a nossa convicção de que a Presidencia deva fazer-se presente tanto quanto possível na vida e na dinâmica de suas 1800 Comunidades, 500 Paróquias e 18 Sínodos, igualmente de seus movimentos e das instituições vinculadas confessionalmente à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. É atribuição prevista na Constituição da nossa Igreja, no Artigo 36: “Coordenar a atividade eclesiástica zelando por sua unidade e identidade confessional; estar em permanente sintonia com todas as áreas da Igreja, buscando e sentindo suas necessidades e seus anseios. Estar em permanente sintonia, sentindo suas necessidades e anseios”.
As implicações e as ações decorrentes dessa missão que a IECLB tem, aliás, recebida de Deus, a partir do Tema da nossa Igreja para o ano em curso: “Comunidade Jovem - Igreja Viva”, foram trazidas sobejamente ontem pelo nosso palestrante, Pastor Valdemar.
Quanto ao jovem e ao trabalho, deve-se novamente reiterar e repetir: não é apenas uma dádiva que Deus nos dá, a juventude, as crianças que antes cantaram, mas é também um compromisso para com elas dialogar, delas aprender e também com elas ser ‘Corpo de Cristo’ neste mundo.
Cabe-nos agora, a partir das duas leituras bíblicas, focar nossa atenção no texto do Apóstolo Paulo e sua Carta aos Romanos. A Carta aos Romanos é tão difícil mas também tão fácil ao mesmo tempo. A Carta aos Romanos fala que o amor é cumprimento de toda lei. Mas nós sabemos que não é bem assim a nossa vida diária, seja na esfera pessoal, na esfera familiar como também social e, não por último, eclesial.
O texto do Evangelho apresenta um líder, líder dos Judeus, professor do povo de Israel, Nicodemos, que vem a Jesus, para fazer a Ele perguntas, como nós também as temos, como nós também na condição de lideranças nessa Igreja e a partir dessa Igreja as temos, sobre as quais refletimos e para as quais muitas vezes também queremos que Jesus nos dê uma resposta. E ali, neste Evangelho, a dúvida foi transformada em certeza. Perguntas foram respondidas ou contrapartidas, “pois Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu único Filho para que todo aquele que nEle crer não pereça mas tenha a vida eterna”.
Em Romanos, no trecho da Epístola, Paulo diz que o Espírito de Deus habita em nós. Na Bíblia traduzida por Lutero, título, que Lutero, sejamos aqui lembrados, traduziu a Bíblia, escreveu Catecismos, para educar o povo cristão e conduzi-lo à maioridade na fé, consta como título em alemão “Das leben im Geist” - “A vida no espírito”. Também em Gálatas, Paulo exorta: “deixe que o Espírito de Deus dirija a vida de vocês e não obedeçam aos desejos da natureza humana”. Paulo sentia e conhecia os frutos mas também as consequências desta colisão entre a natureza humana e aquilo que o Espírito Santo diz às Comunidades. A Igreja Luterana entende: Ele diz através da Palavra e Ele coloca através dos Sacramentos como que instrumentos para que nós cheguemos à fé. Meios através dos quais Deus vincula, ou seja, concede, entrega, agracia a sua Paz, mas também a fé neles. Paulo diz: Cristo em nós, ter o Espírito de Cristo, Espírito é vida, pois Deus vivifica através do Espírito. Poderíamos aqui logo dizer e sermos lembrados da Trindade: Deus, Cristo e Espírito.
Celebramos recentemente Pentecostes. Sim, mas sabemos que no ano de 867, na história da Igreja Cristã, a primeira divisão, apenas e tão somente um “e” causou esta divisão, pois não se concordava e não se chegava uma unidade, a um consenso que o Espírito Santo procede do Filho, quando se refletiu sobre a doutrina da Trindade. Permitam-me antes, pela recente Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, mas acima de tudo pela natureza Ecumênica de nossa IECLB evocar o nome que também consta no nosso “Vade Mecum Luterano”, edição 2012, para esse dia 3 de junho, lá tem alusão à morte do Papa João XXIII. E o propósito do Papa João XXIII, o “Papa Ancião”, quase desconhecido, mas cheio de coração e bom senso, era passar de anátema, ou seja, de acusação para o diálogo. Quis escancarar as portas da Igreja e as janelas da mesma para arejá-la. Considerava blasfêmia contra o Espírito Santo imaginar que os modernos só pensam e praticam o mal. Há bondade no mundo, como também há maldade na Igreja. Importa é dialogar, intercambiar, aprender um do outro, construir Igreja em processos comuns. E Igreja que evangeliza deve ela mesma ser evangelizada por tudo aquilo que de bom, honesto, verdadeiro e sagrado puder ser identificado na história humana. E vocês se lembram o Concílio Vaticano, foi aquele que abriu as portas para o diálogo ecumênico, ou seja, não mais acusar nem mais perder tempo com as nossas diferenças, mas sim sentar, dialogar e falar sobre aquilo que nos une. Paulo diz a respeito do Espírito: viver de acordo com a natureza humana é morte espiritual. Ele é categórico: obedecer à natureza humana é morte, é não-vida, é não dignidade, e ele arremata, os que são guiados pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus.
É claro que vocês mesmos certamente já ouviram o texto do Evangelho e ao
ouvir o texto desta Epístola, logo disseram: aqui nós estamos sendo perguntados, nós estamos sendo abordados e nós estamos sendo convidados para ações concretas no mundo. Mas, nós devemos admitir que somos muitas vezes marcados por uma certa timidez, às vezes demasiada, e temos uma tendência de, às vezes, ficar muito restrito ao meu eu, ao meu grupo e não ultrapassar o limite, a barreira e dizer “nós”.
Quero dar um exemplo e faço - fico contente que as crianças estão aqui hoje presentes - com a metáfora da água do pedagogo Paulo Freire. Ele diz assim: “antes de um rio cair no oceano, ele treme de medo. Olha para trás, para toda jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira: o rio não pode voltar, ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir para frente. O rio precisa arriscar-se e entrar no oceano e somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece, porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas de tornar-se oceano. Por um lado é desparecimento e por outro é renascimento.
Creio que esta metáfora de Paulo Freire nos coloca não mais na ante-sala, mas na sala daquilo que o Apóstolo Paulo aqui escreve à sua Comunidade de Romanos. Nos prender à nossa natureza humana e às nossas posições teológicas, culturais, históricas é deixar que o medo tome conta do meu “eu”. Mas vencer o medo e arriscar o oceano, eu diria, deixar-se conduzir pelas águas deste pequeno riacho que é a minha pessoa, a nossa pessoa, é ter a possibilidade de descobrir o que é oceano.
Querida Comunidade, queridos Delegados e Delegadas, um recente encontro de 2800 cientistas em Londres divulgou o documento “Planeta sob pressão” e diz: “o funcionamento do sistema terra está em risco” e alguns dados que são conhecidos de nós assim o comprovam e não temos respostas. 800 municípios do semi árido enfrentam estado de emergência com uma seca que pode ser a mais grave em 40 anos com prejuízos de R$ 12 bilhões. No extremo sul do país a seca é gravíssima. No Amazonas 2/3 dos municípios se vêem às voltas com uma inundação inédita que já afetou 70 mil famílias.
Pasmem: o Apóstolo Paulo fala: “todos os que são guiados pelo Espírito de Deus”. Que Espírito é este? É o Espírito de Jesus. Deus se revela na pessoa de Jesus Cristo e através desta revelação dá-nos também uma chave com a qual nós vamos descobrindo os tesouros que estão nele escondidos como nós lemos em Colossenses 1.29 “no qual repousa o conhecimento e a sabedoria que vem de Deus”. Paulo em 1 Timóteo 4.1 fala que “alguns abandonarão a fé. Darão atenção a Espíritos enganadores e ensinamentos que vem de demônios”.
Querida Comunidade: êsse é o desafio que quero colocar a partir deste trecho da Epístola de Paulo aos Romanos. Ele serve também para nós revermos posições, aprender de processos. Nossa vida é um processo: (Olhando para as crianças) hoje vocês são crianças mas tenho certeza vão ser adultos no futuro e vão se lembrar do tempo de infância como nós nos lembramos ontem na Assembleia, pintando o jovem da década de 60-80 e como o jovem é hoje. Não sei se fomos fiéis, em todos os casos assim éramos nós: cabeludos, barbudos, irreconhecíveis se comparamos as fotos hoje: como eu era, bonito, cabeludo, barbudo. Assim também o texto desta Epístola de Paulo nos coloca o convite, muito mais que o convite, uma certeza: ser rio vale a pena e vale a pena entrar no oceano e descobrir as riquezas do oceano.
Em Gálatas vocês lêem, conhecem os frutos do Espírito Santo. Com certeza não somos frutos e não são aquilo que estamos vendo na violência, e assim por diante. Mas estes frutos do Espírito querem também nos cativar, cativar para viver sob o Espírito, mas não Espírito que impõe por ser meu, mas aquele que é Santo, que é consolador, que revela à Igreja em sua missão, que a envia para a missão, que torna digna a pessoa, mesmo que ela na nossa avaliação foi avaliada como ‘nada’ economicamente. É por isso que ela é digna diante de Deus, ela não tem preço, é impagável.
Termino com uma citação de Martim Lutero quando ele diz o seguinte:
“atenta primeiramente se crês em Cristo e se és batizado. Então olha para o teu ofício e tua vocação. Eu fui vocacionado para pregar. Se eu agora prego a Palavra de Deus, então eu estou fazendo uma obra santa, uma obra que agrada a Deus. És pai, és mãe - e vamos colocar aqui também - és criança, “crê em Jesus Cristo que serás um pai santo e uma mãe santa.”.
Vocês crianças sabem que não tem esta historia de pai santo e mãe santa. Eles também fazem seus erros e às vezes não fazem aquilo que vocês gostariam tanto que eles fizessem. Mas eles tratam vocês como presente de Deus, como dádiva de Deus. E presente a gente abre com alegria e com gratidão. Eu sei que um neto meu foi dormir com o presente, colocou o presente que ganhou debaixo do travesseiro, de tão valioso que foi o presente. Ou seja, atenta para o trabalho na casa, na cozinha, tudo isso são obras santas, pois para elas fôste vocacionado. Viver uma vida santa, significa viver sob a Palavra de Deus e a vocação. “Tudo se torna”, conclui Martim Lutero, “Santo pela Fé em Cristo”. E esta fé nós temos através do ouvir a Palavra e abrir-se para o oceano que Deus tem em nossa frente.
Que Deus abençoe ricamente a vida de vocês individualmente, mas também esta Paróquia que aqui tão carinhosamente, tão prestimosamente nos acolhe, que abençoe ricamente a vida e todas as ações que no Sínodo Norte Catarinense foram e estarão sendo realizadas, para que nós como IECLB possamos crescer mais e mais e sermos no contexto que é muito desafiador e precisa discernir Espírito individualista de Espírito Santo, guiado pelo Espírito de Deus. E assim, dar honra e glória de Deus Criador, afim de que o mundo possa crer e que nós possamos ser testemunhas de Jesus Cristo nele.
Que Deus assim nos abençoe! Amém.

transcrito por Nivaldo Klein, Assessoria de Comunicação do SNC
revisada por P. Carlos Augusto Möller.

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Autor(a): Carlos Augusto Möller
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Evento: Reunião Regimental
Perfil do Evento: Assembleia sinodal
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 14846
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Martim Lutero
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