Prédica do Culto de Abertura da 15ª Assembleia Sinodal do Norte Catarinense

02/06/2012

Jeremias 1.04-10

4. O SENHOR Deus me disse:
5. Antes do seu nascimento, quando você ainda estava na barriga da sua mãe, eu o escolhi e separei para que você fosse um profeta para as nações.
6. Então eu disse:
Ó Senhor, meu Deus, eu não sei como falar, pois sou muito jovem.
7. Mas o SENHOR respondeu:
Não diga que é muito jovem, mas vá e fale com as pessoas a quem eu o enviar e diga tudo o que eu mandar.
8. Não tenha medo de ninguém, pois eu estarei com você para protegê-lo. Sou eu, o SENHOR, quem está falando.
9. Aí o SENHOR estendeu a mão, tocou nos meus lábios e disse:
Veja! Eu estou lhe dando a mensagem que você deve anunciar.
10. Hoje, estou lhe dando poder sobre nações e reinos, poder para arrancar e derrubar, para destruir e arrasar, para construir e plantar.


Que a paz e a graça Daquele que era no princípio, que é e que será para todo e sempre, esteja conosco também nesta XV Assembleia.

Quero convidá-los para observarmos a primeira frase do texto:
(v.4) “O SENHOR Deus me disse”: É Deus que dirige a palavra. Vamos olhar com muita atenção para esta frase de introdução ao texto do Lema da IECLB 2012. Deus dirige sua palavra a um jovem. Aqui ele escolhe seu interlocutor, já antes do seu nascimento. É Deus que toma a iniciativa, antes de qualquer mérito do jovem.

“Antes do seu nascimento, quando você ainda estava no ventre da sua mãe”
Antes que eu te formasse no ventre, te conheci

(v.5) Eu o escolhi, o separei, para que fosse um profeta para as nações. A escolha é vontade de Deus. É Deus que vem, por sua vontade. Ele escolhe, e separa pessoas, para anunciar sua vontade e denunciar as injustiças provocadas por seres humanos. Mais tarde ele mesmo anuncia o nascimento do seu próprio Filho no meio deste mundo. É Deus presente – isto é a Boa Notícia para dentro deste mundo – isto é Evangelho!
Deus se antecipa. Não se deixa influenciar por nosso desejo e vontade. Ele simplesmente age em nós e no meio de sua criação por amor. E amor incondicional. No evangelho de João são várias as referências ao amor incondicional que Jesus coloca diante dos discípulos – (Jo. 15. 11ss. “Eu estou dizendo isso para que a minha alegria esteja com vocês, e a alegria de vocês seja completa. ... Amem uns aos outros como eu amo vocês”) Ainda no ev. de João 21, Jesus pergunta ao discípulo que o havia negado, Pedro, quando é confrontado, este também é um deles. E Pedro nega Jesus: “Nem te conheço”. E agora Jesus Pergunta nas diferentes formas de amor em grego: Pedro tu me amas? E Pedro reafirma o amor a Jesus por três vezes. E sempre de novo Jesus confia a ele as suas ovelhas. Os seguidores de Jesus são confiados em mãos de quem também já passou por fraquezas, por medo, por tentação – Pedro uma pessoa insegura e em outros momentos explosivo. (Pedro dificilmente sabia manter a calma).
Cabe aqui uma pergunta, aos senhores e senhoras presbíteros, delegados Sinodais: - Aceitaríamos um ministro como Pedro em vossas Comunidades? Confiaríamos nossos jovens, confirmandos, grupos de casais, e outros grupos de nossas comunidades em mãos de uma pessoa insegura, de uma pessoa explosiva como Pedro?

(v.6) dando continuidade na leitura do texto de Jeremias: “não sei como falar, sou muito jovem”. Num dos diálogos que tive com jovens bacharéis em Teologia, que solicitaram a Ordenação ao Ministério veio a frase:
Poxa sou ainda muito jovem, será que estou realmente preparado/a para essa missão para a qual Deus está me convocando? Nós como Ministros também nos sentimos assim, como o Profeta, como Discípulo, colocando-nos na mão de Deus.
Também os Presbíteros são eleitos e instalados, com as palavras “Com a ajuda de Deus” Não por nossa vontade, mas pela vontade de Deus e aqui estamos a seu serviço em juízo e graça.
Nos colocar sob a vontade de Deus, significa abrir mão de muitos conceitos e sobre tudo pré-conceitos construídos a partir de nossos valores. Valores construídos a partir de ideologias dominantes. Se conseguimos abrir mão de valores que dividem e afastam as pessoas umas das outras podemos ir adiante também na reflexão do texto acima.

(v.7) ....vá e fale com as pessoas a quem eu o enviar e diga tudo o que eu mandar.
Deus chama e envia pessoas de índoles, de jeitos bem diferentes. Ele chama por exemplo: Abrão, que é diferente de Ló; Sara e com ela também vem Agar. Deus cuida Agar e ela é uma das poucas pessoas que viu o Senhor na fonte em Berebe.
O A.T. está cheio de passagens de pessoas, às quais Deus se dirige e faz delas instrumento de Sua obra.
Assim também no N.T. Jesus inicia sua missão convidando “jovens”, que andavam perto do lago, nos portos, pescadores lá na Galileia. Galileia era sinônimo de povo que vive na escuridão, onde moram os pagãos, Cf. o Profeta Isaías. É lá que Jesus inicia e convida os seus primeiros seguidos; Simão e André, Tiago e João. Mais adiante entram nesta missão tb. algumas mulheres: Maria Madalena, Marta, ainda outra Maria, e ainda muitas outras pessoas fazem parte deste evangelho, estrangeiras, prostitutas, publicanos, jovem rico, leprosos, pessoas marcadas pelo pecado. Jesus nos ensina a acolher, a dialogar com todas as pessoas. Ele nos ensina que o juízo, o julgamento está com o Pai. Ele enviou um Auxiliador, João 16.8ss. “Quando o Auxiliador vier, ele convencerá as pessoas do mundo de que elas têm uma ideia errada a respeito de pecado e do que é direito e justo e também do julgamento de Deus. As pessoas do mundo estão erradas a respeito do pecado porque não crêem em mim...E também estão erradas a respeito do julgamento porque aquele que manda neste mundo já está julgado”. E o espírito não falará por si mesmo. Mas anunciará tudo o que ouviu. Por isso, cuidado, com o que anunciamos!

(v. 8 e 9) Deus prepara, encoraja, envia e protege seus mensageiros. Deus dá a mensagem. Mas não garante que isso será fácil, e nem promete que será um mar de rosas. Muitas vezes o colocar-se a serviço de Deus vem acompanhado de muito sofrimento, de renúncia, de experiências que nem sempre combinam com os nossos planos. Aqui nos cabe apenas confiar nele sobre todas as coisas – FÉ E PERSEVERANÇA, a longa experiência de Jó, de Ana, (personagens bíblicas), mas tb. temos as vezes relatos e experiências de personagens mais recentes que persistiram nas mais duras tribulações, por causa da fé – lembro, Dietrich Bonhoeffer, Irmã Doraci e tantas outras lideranças que resistiram na fé e pagaram caro, inclusive com a própria vida vida.

(v10) Hoje estou lhe dando poder sobre nações e reinos, poder para arrancar e derrubar, para destruir e arrasar, para construir e plantar.
Aqui encontramos a ênfase da profecia – Denúncia e anúncio (arrancar, derrubar, destruir e arrasar) o Juízo está anunciado sobre o mundo e no mesmo embalo, a graça também está sendo anunciada. Está presente também a profecia da esperança – construir e plantar – a graça – a Boa Nova.
Sempre é bom reafirmar, que Deus age em nós através da Palavra e dos Sacramentos, mesmo se não o merecemos. Sinal presente em princípio é o Batismo, que marca o início da vida cristã. O Batismo expressa a auto-doação de Deus, seu amor pelo ser humano, amor que na tradição luterana também é incondicional. O Batismo é presente de Deus. Assim como a Ceia. Onde Deus se oferece a nós pobres pecadores e tudo isso porque ele, apesar de tudo, nos ama.
Ele nos ama, mas então, por que temos tanta dificuldade em expressar este amor em nossa prática de fé e prática religiosa?
Por que não podemos acolher as pessoas assim como Jesus as acolhia. Eu sei que podemos nos justificar e dizer: bem eu não sou Jesus. Isto é verdade; nós não somos Jesus. Mas como seguidores seus, acolhidos por ele a partir do amor. O que então é tão difícil?
A resposta me parece, que temos dificuldade em repartir aquilo que recebemos de graça de Deus, vivido e ensinado por Jesus.
Nós nos arrogamos o direito de julgar sobre nosso irmão e nossa irmã.
Mas afinal quem nos dá o poder de julgar os outros?
Quem nos outorgou este poder.
Ou será que mesmo com todo o amor que Deus tem por nós, ainda estamos carentes, querendo ainda mais?
Vamos confiar mais naquele que nos ama e deixar que ele mesmo aja no meio de nós.
Não apenas exigir e pedir de Deus que ele faça a nossa vontade, mas que deixemos acontecer de fato, a sua vontade no meio de nós.
Irmãos e irmãs luteranas, que a GRAÇA seja compreendida por vocês1

 

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Autor(a): Inácio Lemke
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Evento: Reunião Regimental
Perfil do Evento: Conselho sinodal
Testamento: Antigo / Livro: Jeremias / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 4 / Versículo Final: 10
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 14844
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