Quantas histórias já lemos ou assistimos sobre super-heróis e super-heroínas que salvam pessoas comuns da maldade de vilões? Mas estas só existem no mundo imaginário... O mundo real tem pessoas que se destacam e lideram multidões em busca de objetivos maiores. Elas têm suas virtudes e capacidades, como também fraquezas e limitações. No fundo, muitos esperam que alguém os guie para uma situação melhor, com paz, segurança e prosperidade financeira.
Em Israel, foi semelhante. Esperava-se, com base nas profecias, a vinda do Messias. Em tempos de domínio estrangeiro, esta expectativa se tornava maior. Houve candidatos a Messias antes de Jesus. Todavia, nenhum era o Messias, mas apenas líderes guerreiros ou revolucionários. E quando Jesus se revela como o Messias, torna-se alvo de contradição. Há quem o admire e o siga. Há quem não o reconheça como o Ungido de Deus e se volte contra Ele.
Com seus ensinamentos, jeito de amar as pessoas, curas e milagres, Jesus reúne multidões atrás de si. Grande parte deste povo o associava à imagem do Messias vitorioso e glorioso – de fato, Ele é por ser Filho de Deus - que libertaria Israel do domínio do Império Romano. No imaginário de muitos admiradores e seguidores, o Messias Jesus é como um super-herói, com poderes especiais e invencível. Ou seja, é associado a vitória, triunfo e glória, não a sofrimento e cruz!
A certa altura, para o grupo mais próximo dos 12 discípulos, Jesus começa a mostrar como é o Messias:
Então ele começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas e fosse rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, fosse morto e três dias depois ressuscitasse.
Ele falou claramente a esse respeito. Então Pedro, chamando-o à parte, começou a repreendê-lo.
Jesus, porém, voltou-se, olhou para os seus discípulos e repreendeu Pedro, dizendo: Arreda, Satanás! Você não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens.
Então ele chamou a multidão e os discípulos e disse: Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará.
Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
Ou, o que o homem poderia dar em troca de sua alma?
Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos. (Marcos 8.31-38)
Claramente (v. 32), Jesus lhes fala de rejeição, sofrimento e morte. Isto viria do Sinédrio, conselho de 70 homens composto por anciãos, sacerdotes e escribas - a elite religiosa. A trágica ironia é que aqueles homens deveriam ser, por seu conhecimento bíblico, os primeiros a aceitarem Jesus como o Messias. No entanto, o rejeitam e planejam sua morte, por se sentirem acuados e questionados, por serem movidos a inveja e ódio.
Porém, no grupo dos discípulos, há desconforto. Não se censurava um mestre em público. Por isso, Pedro chama Jesus para um canto. Ele e os outros não admitiam o sofrimento para o Messias. Afinal, quem quer seguir alguém que não triunfe e seja vitorioso? Além disso, o sofrimento era visto equivocadamente como castigo de Deus; interessante que Jesus falou de ressurreição, mas parece que esta parte ninguém ouviu; ou, se ouviu, não entendeu. E também não entenderam textos proféticos, como os de Isaías a respeito do Servo Sofredor (caps. 49,50 e 53). A resposta de Jesus é dura: “Arreda, Satanás...” (v. 33). Pedro estava só pensando em si e nas suas limitadas convicções. Era essa também a visão de outros discípulos e de admiradores da multidão. Desejar felicidade, sem se doar ao próximo e buscando benefício próprio, é a lógica do diabo, não do Reino de Deus (Uwe Wegner – téologo luterano brasileiro). Por isso, Jesus lhes reúne e explica o que é ser discípulo/a (v. 34).
Para isto, é fundamental:
a) negar-se → Discípulo/a não faz o que quer, mas sua vida é orientada pelo Mestre, ou seja, pela Palavra de Deus. Pela fé, somos libertos, mas, pelo amor, somos tornados servos (Martim Lutero – reformador protestante alemão). Como discípulo/a, você tem negado a si mesmo/a? O Reino de Deus é a prioridade no 1 na sua vida? A Palavra de Deus tem autoridade sobre você e lhe transforma?
b) carregar a cruz → Quando alguém carregava a cruz, por ter sido condenado pelo sistema jurídico romano, caminhava para a morte. Era a última vez que seus familiares, amigos e outros o veriam com vida. O/A discípulo/a precisa morrer para o pecado, o egoísmo e o mundo sem Deus. E, assim como Jesus ressuscitou, ressurgir para uma nova vida marcada por amor, serviço, solidariedade e testemunho. Como discípulo/a, você tem carregado a sua cruz? Você, como vivência do seu batismo, já morreu para o pecado, o egoísmo e o mundo sem Deus? Já ressurgiu para uma nova vida marcada por amor, serviço, solidariedade e testemunho?
c) seguir a Cristo → Muitos seguiram a Jesus, mas não se comprometeram com Ele. Teve gente que se decepcionou por ser um Messias diferente do qual tinha imaginado, não admitindo sua rejeição, sofrimento e cruz. Comprometer-se com o Evangelho inclui denunciar e lutar contra injustiças, não se conformar com miséria, corrupção e impunidade, se juntar a outros pela paz e dignidade, testemunhar o amor de Cristo que perdoa, salva e dá sentido à vida. Seguir é mais do que empolgação, modismo ou costume. Seguir é ter a vida transformada e ser agente de transformação. Como discípulo/a, você tem de fato seguido o Messias? Você tem consciência de que, antes de vitória, triunfo e glória, haverá rejeição, sofrimento e cruz?
Jesus deixa claro: quem busca a felicidade em benefício próprio e à custa dos outros, no final, sai perdendo. Dinheiro, bens, fama, poder e conquistas deste mundo são capazes de afastar alguém da graça salvadora de Deus. É como ter tudo, mas não ter o principal, ou seja, nada! Vale a pena trocar este mundo pelo Reino de Deus? Vale a pena ganhar o mundo e perder a alma? (v. 36)
Quem segue a Cristo está sujeito à rejeição e à cruz por estar fazendo a vontade de Deus. É herdeiro/a do seu Reino, aqui e na eternidade. Mas quem despreza a Palavra de Deus rejeita o próprio Messias. É como ter vergonha Dele (v. 38). A mensagem é dura, mas serve de alerta da parte de quem deseja que ninguém seja condenado: muitíssimo pior é não ser reconhecido/a pelo Messias na nova realidade eterna e ficar de fora do Reino de Deus!
Quaresma é uma boa oportunidade para refletir: minha visão sobre o Messias está correta ou equivocada? Sou um/a discípulo/a verdadeiro/a do Mestre ou vou atrás Dele por outros motivos? Tenho consciência da cruz ou desejo somente triunfo e glória? Pense nisso... AMÉM!