07 de setembro - conforme nos foi ensinado na escola, é a comemoração da Independência do Brasil. Das aulas de história, lembramos que nesta data, às margens do Rio Ipiranga, Dom Pedro I proclamou a independência do Brasil. Foi-nos ensinado que desde então o Brasil é um país independente, livre, não mais subordinado às leis de Portugal.
Politicamente, talvez, em parte, o Brasil tenha ficado independente. Mas do ponto de vista econômico e cultural nem tanto. Os portugueses continuaram levando daqui o ouro, o café, a cana de açúcar, explorando mão de obra escrava e indígena e impondo sua língua e sua religião.
O Brasil ficou “independente” de Portugal, mas ao longo de sua história passou a ser dependente de outras potencias e impérios. Temos uma economia regida pelo dólar americano e o euro europeu. Empresas transnacionais se instalam aqui isentos de tributos que como brasileiros acabamos pagando. Grande parte da tecnologia é importada de outros países, os preços de muitos produtos são ditados pelas potencias econômicas estrangeiras (insumos agrícolas, bolsa de valores, sementes, maquinários...).
Neste ano, a comemoração da independência do Brasil se reveste de uma importância especial. É também ano de eleições estaduais e federais. Os candidatos estão apresentando suas propostas e pedindo nosso voto. Entre eles, em vários municípios e estados, temos irmãos nossos - membros da nossa igreja que todos conhecemos.
O que tem isso a ver com os textos bíblicos de hoje? O que tem isso a ver com a igreja, conosco como cristãos? Muitos se perguntam: pode o cristão se envolver na política ou mesmo ser candidato?
A questão sobre envolvimento (ou não) de cristãos na política não é só dos tempos atuais. Ela já está presente desde os tempos bíblicos. A escolha e nomeação dos reis que fala na Bíblia era uma questão política. Eles eram colocados como governantes para decidir a vida e o bem comum da população por eles governada.
No Novo Testamento, o assunto política é bem evidente. O nascimento de Jesus se dá em ambiente político (antes de nascer, Jesus já é ameaçado por um decreto político - Herodes ordena que todos os meninos sejam mortos).
Também a crucificação de Jesus teve conotação política, pois foi julgado e condenado por uma instância política (sinédrio = senado), sob a acusação de subverter a ordem estabelecida pela política romana.
Os textos bíblicos lidos hoje também tratam de assuntos políticos.
Em Romanos, o Apóstolo Paulo fala da obediência às autoridades políticas e da função das autoridades. Entre outros assuntos, lembra que as autoridades são instrumentos de Deus para o bem das pessoas, para dar paz e segurança aos governados, para proteger a vida das pessoas, manter a ordem e a disciplina e punir os malfeitores.
No Evangelho é dito que os fariseus queriam saber a posição de Jesus sobre a questão do tributo a César (César era um governante, e pagar tributo ou não era e é uma questão política). Jesus não se posiciona contra ou a favor. Ele diz que a César deve ser dado o que lhe é devido, bem como a Deus dever ser dado o que a ele pertence. Portanto, Jesus, não nega o envolvimento dos cristãos em questões políticas (significa que pagar ou não pagar tributo, dar ou não dar obediência às autoridades políticas, envolver-se ou não se envolver em política, é tomar postura política).
No tocante ao dar a Deus o que pertence a Deus, Jesus quer dizer que também a questão do tributo deve estar submetida à vontade de Deus. Tributos, em sua origem, são para que os governantes tenham recursos financeiros para desempenhar sua função de prestar serviços ao bem comum da população. A própria autoridade de um governante deve estar submetida à autoridade de Deus, como afirma Romanos 13.
No caso de César, seu governo e os tributos que ele cobra não devem ser para a injustiça, para o mal, para a escravidão, para a dominação de um país sobre o outro - mas para o bem comum, para a paz, para a justiça, para a liberdade.
Nesse contexto de independência e, considerando que estamos em ano eleitoral, dar a Deus o que lhe pertence é perguntar para Deus se de fato há alguma independência a ser comemorada no Brasil. É celebrar, em primeiro lugar, que a verdadeira liberdade já nos foi dada em e por Cristo.
Tendo pela nossa frente as eleições, dar a Deus o que lhe pertence é dar a Deus o devido lugar na nossa decisão na hora de votar (no caso dos candidatos - principalmente os cristãos - dar a Deus o devido lugar na elaboração e apresentação de suas propostas e no exercício de seu mandato).
Existem vários textos bíblicos onde Deus quer nos orientar neste sentido (Deuteronômio 17.14-20; Juizes 9.7-15; Isaías 5.8,18,20; 10.1-2; 30.1-2; Mateus 20.25-28).
Finalizo contando uma pequena historia, sobre alguém que, como governante, tentou vivenciar o que a Palavra de Deus diz em relação à política, de como dar a César o que é de César e a Deus o que pertence a Deus.
Trata-se de um mensageiro, promovido a inspetor, ao qual foi confiada a tarefa de zelar pela ordem pública da cidade em que morava. Com esse cargo ele atingiu o segundo escalão do município, mas com apenas um salário mínimo mensal. Os demais políticos e pessoas influentes lhe diziam que era impossível sustentar a si e à sua família com esse salário. Por essa razão esperavam que ele, como os demais inspetores, complementasse seu salário com benesses oferecidas por aqueles que a ele se dirigissem.
Mas todos estranharam seu jeito de inspecionar. Ele rejeitava todo tipo de compensação ao seu modesto salário. Todos os presentes ou compensações que lhe eram oferecidas ou recebia, ele recusava ou devolvia. Essa atitude surpreendeu sobremaneira as pessoas e gerou uma grande confusão, inclusive uma incômoda irritação no prefeito, pois ele poderia reter parte dos presentes. Por isso, o humilde inspetor ganhou um apelido. Passaram a chama-lo de “o Diferente”.
De fato, ele era “Diferente”. Era membro de uma igreja cristã e assíduo leitor da Bíblia. Um dos textos que orientava seu trabalho era Êxodo 23.6-9, onde está escrito: “Não perverterás o julgamento do teu pobre na sua causa. Da falsa acusação te afastarás; não matarás o inocente e o justo, porque não justificarei o ímpio. Também suborno não aceitarás, porque o suborno cega até o perspicaz e perverte as palavras dos justos. Também não oprimirás o forasteiro; pois vós conheceis o coração do forasteiro, visto que fostes forasteiros na terra do Egito.” Amém!!!!!