PRÉDICA - CULTO DE ABERTURA DA XIX ASSEMBLEIA SINODAL DO SÍNODO SUDESTE

16/05/2015

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos nós. Amém.

Leitura do Texto de João 16.16 – 22.

Estimados/as representantes da Assembleia Sinodal, em nosso texto Jesus fala de duas coisas que fazem diariamente parte da vida do ser humano: Tristeza e alegria. Jesus diz no v. 20: “Pois eu afirmo que vocês vão chorar e ficar tristes, mas a gente do mundo ficará alegre. Sim, vocês ficarão tristes, mas essa tristeza se transformará em alegria.

As palavras de Jesus lembram Eclesiastes 3: Há tempo para tudo... “Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar”. Mas como transformar tristeza em alegria? No texto tristeza e alegria tem a ver com a mesma pessoa: Jesus Cristo. Vê-lo significa alegria. Não vê-lo significa tristeza. Vejamos primeiro, portanto, quais são, as nossas tristezas diárias?

Rubem Alves diz que há tristezas de dois tipos. “Primeiro, são as tristezas diurnas, quando o mundo está iluminado pelo sol. Tristezas para as quais há razões. Fico triste porque o meu cãozinho morreu, porque o meu filho está doente, porque crianças me pedem uma moedinha no semáforo, porque o amor se desfez...” ainda acrescentaria: fico triste ao ver tanto lixo jogado pelas ruas, pelos rios e riachos que são diariamente poluídos, pela natureza que é devastada... fico triste com a corrupção, com tantas pessoas que ultimamente estão perdendo o seu emprego... fico triste com os conflitos em comunidade... fico triste quando um ente querido morre... há, na verdade, muitas razões para ficar triste. Diz Rubem Alves: “Quando coisas assim acontecem, o certo é ficar triste. Quem continuar alegre em meio a situações de dor é doente. Tristeza é parte da vida. Ela é a reação natural diante da perda de algo que se ama.”

Rubem Alves fala também das tristezas de crepúsculo. Diz ele: “O crepúsculo é triste, naturalmente. Não, não há perda nenhuma. Tudo está certo. Não há razão para ficar triste. A despeito disso, no crepúsculo a gente fica. Talvez porque o crepúsculo seja uma metáfora do que é a vida: a beleza efêmera das cores que vão mergulhando no escuro da noite.

A alma é um cenário. Por vezes, ela é como uma manhã brilhante e fresca, inundada de alegria. Por vezes ela é como um pôr de sol, triste e nostálgico. A vida é assim. Mas, se é manhã brilhante o tempo todo, alguma coisa está errada. Tristeza é preciso. A tristeza torna as pessoas mais ternas e sensíveis. Se é crepúsculo também o tempo todo, alguma coisa não está bem. Alegria é preciso. Alegria é a chama que dá vontade de viver.

Eu acho que essa tristeza crepuscular tem a ver com a sensibilidade frente à dimensão trágica da vida. A vida é trágica porque tudo o que a gente ama vai mergulhando no rio do tempo.

Tudo flui; nada permanece. A vida é feita de perdas. Fiquei comovido, dias atrás, vendo fotos dos meus filhos quando eles eram recém nascidos. Aquele tempo passou. Aquela alegria mergulhou no rio do tempo. Não volta mais. Há, assim, um trágico que não está ligado a “eventos trágicos”. Está ligado à realidade da própria vida. Tudo o que amamos, tudo o que é belo, passa.”

A tristeza é parte da vida, mas há um limite. Tristeza, só, é muito perigoso, pois leva ao desânimo, a depressão, ao isolamento. As pessoas começam a desejar morrer. Essa é a razão por que os deprimidos querem dormir o tempo todo. É preciso que a tristeza seja temperada com alegria. Mas como fazer isso?

Jesus conversa com os seus discípulos um assunto que iria entristecê-los profundamente: a sua morte na cruz. Jesus fala da tristeza diurna, quando há razão para ficar triste, no caso a sua morte na cruz, e da tristeza crepuscular, que revela que a vida, mesmo com a sua ressurreição, não será mais como antes.

Jesus fala da tristeza, da sua morte na cruz que entristecerá e abaterá profundamente os discípulos, mas também diz o que transformará a tristeza em alegria. Diz ele no v.22: “Agora vocês estão tristes, mas eu os verei novamente”.

O que faz com que a tristeza dos discípulos, a crucificação de Jesus, seja temperada pela alegria é a ressurreição de Jesus Cristo. É a sua aparição, o ver o ressuscitado, que transforma a tristeza dos discípulos em alegria. Tanto Maria e Maria Madalena quanto os discípulos a Caminho de Emaús e os que ficaram trancados na casa todos cheios de tristeza pela morte de Jesus, pois vê-lo novamente parecia algo impossível, reencontraram a alegria pela vida quando Jesus lhes aparece. E o que o encontro com Jesus, o vê-lo, provocou em suas vidas? Fez arder o coração e os colocou a caminho. Os contagiou com a imensa alegria e desejo de testemunhar que a vida triunfou sobre a morte. O ver novamente a Cristo reuniu a comunidade dos discípulos para testemunhar a Boa Nova da Ressurreição. Que a morte não tem a última palavra, mas a vida. Como diz Jesus no v. 22: Aí ficarão cheios de alegria, e ninguém poderá tirar essa alegria de vocês. A alegria que o Cristo nos dá, a sua ressurreição, ninguém pode nos tirar. Ela é dádiva, é presente, é graça.

Quem realmente não consegue ver o Cristo, o ressuscitado, torna-se refém dos seus paradigmas, dos seus conceitos, dos seus medos, das suas angústias e das suas verdades. Não consegue ter olhos para o essencial que Cristo doa a humanidade: o amor que cuida, perdoa, reconcilia e que vai ao encontro da vida fragilizada e desamparada. E quem não consegue ter olhos para o essencial, o amor do Ressuscitado, vai mergulhando na melancolia da vida. Vai mergulhando em picuinhas que vão gerando conflitos e desestruturando a vida em comunidade e em família. Vai mergulhando nos sonhos não alcançados, nas frustrações e decepções do dia-a-dia, nas perdas materiais, na falta de auto estima e amor próprio... Não manter o olhar fixo no ressuscitado nos faz naufragar e afundar como Pedro... Enfim, não ver o Cristo é mergulhar nas tristezas da vida.

Já ver a Cristo traz à tona a alegria pela vida. Traz o desejo pelo essencial da vida, o amor que cuida, que faz a vida ressurgir das cinzas. Traz o desejo e a alegria do contato com o outro. Traz o desejo e a alegria de viver em comunidade. Traz o desejo e alegria de partilhar dons. Traz o desejo de não guardar a dor, mas partilhá-la para que traga alívio. Nos leva a perguntar como o ressuscitado aos dois discípulos a caminho de Emaús: “sobre o que vocês estão conversando pelo caminho?” Ver a Cristo nos torna sensíveis e ternos a dor do outro.

O que nos reúne mais uma vez nesta XIX Assembleia é o projeto do Ressuscitado: Cuidar da vida. Temperar as tristezas com a alegria que o Ressuscitado traz. Como diz Lutero no hino Castelo Forte: As armas o Senhor nos dá: Espírito, Verdade.

É o Espírito Santo que centra o nosso olhar no ressuscitado e produz em nós o amor, a alegria, a paz, a paciência, a delicadeza, a bondade, a fidelidade, a humildade e o domínio próprio que transformam as tristezas diurnas e crepusculares em nossa vida e a nossa volta em alegria.

A Verdade é que a cruz que mata, a tristeza que abate, não tem a última palavra, mas o Ressurreto. O olhar dirigido a Ele é que transforma a nossa tristeza em alegria. Ser Igreja da Palavra é comunicar às pessoas que o que verdadeiramente tempera as tristezas com a alegria é o olhar para o ressuscitado. É o nosso olhar Nele que nos faz ser um Sínodo que ajuda as comunidades a transformar as tristezas do dia a dia, as cruzes que cerceiam a vida, em melodias de alegria. Amém.
 


Autor(a): VICE PASTOR SINODAL ERNÂNI RÖPKE
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 33379
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Cantarei de alegria quando tocar hinos a ti, cantarei com todas as minhas forças porque tu me salvaste.
Salmo 71.23
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