POR QUE O BATISMO É SUBVERSIVO?

17/03/2014

Mt 3.13-15:  “Por esse tempo, dirigiu-se Jesus da Galiléia para o Jordão, a fim de que João o batizasse. Ele, porém, o dissuadia, dizendo: Eu é que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim? Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por enquanto, porque, assim, nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o admitiu.”

Batismo tem a ver com a luta por justiça, pois se é batizado para ser integrante de um novo projeto de vida e de sociedade: o Reino de Deus, que é o projeto de uma nova sociedade de irmãos e de irmãs, igualitária, não classista, onde os meios de produção (terra, fábricas, bancos, máquinas, etc.) estão sob o controle do coletivo (At 2 e 4 - este é o testemunho que os batizados dão de Jesus Cristo - At 10.39, 42-43). Assim, batismo tem a ver com o testemunho prático de vida do projeto do Evangelho do Reino de Deus, a nova sociedade igualitária construída a partir da periferia e em oposição ao centro de poder. Batismo de graça fora e longe do Templo, na periferia e nas margens do deserto, por um profeta e não por um sacerdote. Há aqui um rompimento com o Templo e a sociedade classista que este representava e legitimava.

Aqui a purificação (o batismo) é de graça e não via holocausto, que viabiliza economicamente o Templo, e com isto propõe o fim do sacrifício de animais como expiação pelos pecados; agora isto passa pelo arrependimento (Mt 4.17: Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.) vinculado à luta pelo Reino de Deus. Arrependimento individual dos pecados e salvação não vinculados à luta pelo Reino de Deus é algo incompleto, pois estamos inseridos num sistema coletivo pecaminoso: o capitalismo. Deus, em Jesus Cristo, se insurge contra a Religião do Templo de Jerusalém; uma religião com práticas não libertárias, mas de subordinação aos interesses do modo de produção escravista controlado pelo Estado Romano. No lugar desta Religião Jesus Cristo coloca o Evangelho do Reino de Deus, construído a partir das práticas libertárias da classe explorada segundo 1 Co 1.27-28.

Batismo e sacerdócio andam de mãos dadas, um é consequencia do outro. Jesus foi batizado e logo após inicia o seu ministério sacerdotal a partir da periferia contra a teologia do centro que legitimava o status quo. Quem não exerce o seu sacerdócio nega o seu batismo. A partir do batismo de Jesus é rompida a tradição e compreensão judaica de sacerdócio (somente homens de uma família sacerdotal), agora ele foi democratizado a partir do batismo e é dado à homens e à mulheres. Martim Lutero lembra: “Cada cristão tem a palavra de Deus e foi instruído e ungido por Deus para ser sacerdote... Tendo eles a palavra de Deus e sendo por ele ungidos, também têm o dever de confessar, ensinar e difundi-la...”

Batismo, é a marca da pertença ao Reino de Deus e não ao reino do mundo, o capitalismo. Quem defende o capitalismo, o reino do mundo, renega o seu batismo.

O Batismo é subversivo porque nele a pessoa é marcada com a cruz de Cristo e a cruz era a forma de castigo até a morte para agitadores, subversivos e insurgentes (Lc 23.1-5). Somos batizados para a subversão insurgente permanente do Reino de Deus contra o reino do capital. Pelo Batismo a pessoa é enxertada na videira que é Jesus Cristo. Recebe a seiva, a força, de Jesus Cristo e não do capital. Esta seiva (a fé) que vem da videira é que dá força para lutar pelo projeto de Jesus Cristo: o Reino de Deus. Jesus Cristo lembra em João 15.5 “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. Quem permanece em Jesus Cristo dá frutos para o Reino de Deus. Quem permanece no capital dá frutos para o capital. Os frutos definem de onde vem a seiva. Jesus Cristo lembra em Mt 7.16: “Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?” Os frutos da seiva do capital são exploração, injustiça, opressão, miséria, violência, ódio, guerra e por aí vai. Os frutos da seiva da videira verdadeira, Jesus Cristo, são conforme Paulo em Gl 2.22-23: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei”.

Assim, cada pessoa batizada é uma pessoa subversiva porque quer subverter a ordem estabelecida pelo capital para construir uma nova ordem, a do Reino de Deus. A ordem da exploração do capital é destruída para no lugar desta colocar a ordem da igualdade, da justiça, do amor, da comunhão. Quem não participa da subversão evangélica que brota do Reino de Deus está participando da manutenção da ordem do capital que é comandado pelo diabo. Quem é contra que o Evangelho de Jesus Cristo seja subversivo é a favor da ordem do capital. Lc 11.23 lembra: “Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha”. Batismo tem consequência, assim como fé tem consequência. A pessoa batizada e que tem fé em Jesus Cristo é consequente com esta fé e participa da construção do Reino de Deus e da destruição do reino do capital. As pessoas batizadas carregam consigo o gérmen da subversão evangélica. E isto é perigoso, por isso Jesus Cristo diz em Mt 10.38 “quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim”. A cruz que carregamos não é uma doença ou um problema familiar qualquer, mas é consequência da luta insurgente pelo Reino de Deus. Quem nos impõe a cruz é o capitalismo que não vai deixar se destruir sem resistência. Ele usa os aparatos do Estado e suas leis para se proteger das Propostas do Reino de Deus que querem destruir o capitalismo e seu Estado, pois este é um aparato do capital. Batismo não rima com capitalismo.

As pessoas cristãs pensam e agem como capitalistas porque a produção social da vida material determina pensarem e agirem assim. A fé cristã e o batismo deveria romper com isto, pois agora temos outro Projeto, o Reino de Deus. O Evangelho do Reino de Deus deveria ser a teologia das pessoas cristãs e não a ideologia/teologia capitalista que organiza as comunidades e sua prática comunitária. A conversão rompe com a teologia do capital, se não rompe é porque não aconteceu conversão à Jesus Cristo, mas à Religião do Estado disfarçada de Igreja de Jesus Cristo, com papel semelhante ao Templo de Jerusalém com a função conservadora de interpretar as Escrituras que submetem à Lei. Paulo diz que a Lei com Jesus Cristo já era. Hoje na Igreja, em muitas circunstâncias, a lei do capital virou Religião com máscara de Jesus Cristo.

Pastor Günter Adolf Wolff - Palmitos, SC


Autor(a): Pastor Günter Adolf Wolff
Âmbito: IECLB / Sinodo: Uruguai
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 27304
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