Por que chamamos Jesus de Rei?

24/11/2019

 

Colossenses 1.11-20
Prezada Comunidade

Estimados rádio-ouvintes:
Hoje é o último domingo do ano eclesiástico. O ano da Igreja não começa no dia 01 de janeiro, mas sim no primeiro domingo de Advento. E no próximo domingo, dia 01 de dezembro, já será o primeiro domingo de Advento.

Na história da Igreja, esse último domingo do ano era chamado de Domingo da Eternidade. Principalmente nas igrejas protestantes, nesse domingo o tema para reflexão era a fragilidade da vida, a necessidade de reconhecer que nossos dias estão contados e que nada nesse mundo é eterno. “Toda carne é como a erva e toda a sua glória como a flor da erva” (1Pe 1). “Ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos um coração sábio” (Sl 90.12). O domingo da Eternidade era também o dia em que se lembravam os falecidos na Comunidade durante o ano. Por isso, queremos nos lembrar com carinho das famílias que se despediram de pessoas queridas durante esse ano.

Jayme Erich Zwetsch – faleceu no dia 8 de março com 92anos, 10 meses e 9 dias

Carlos Alberto Hollerbach – faleceu no dia 26 de março com 80anos e 5dias

Georg Hermann Busse – faleceu no dia 25 de junho com 80anos, 1mês e 25 dias.

Ruth Silvia Meyer – faleceu no dia 27 de junho com 85anos, 4 meses e 27 dias.

Como pessoas luteranas, nós cremos que os falecidos estão perto de Deus. Quem está perto de Deus não está sofrendo. Por isso, não precisamos nos preocupar com eles. Pois “Na casa de meu Pai há muitos quartos e eu vou preparar um lugar para vocês....... E quando eu for e preparar um lugar para vocês, voltarei e os levarei comigo para que onde eu estiver vocês estejam também. (João 14.2-3). “Cristo não apenas destruiu a morte, mas trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o Evangelho”. (2Tm 1.10).

Mas no ano de 1925 o Papa Pio XI decidiu que esse domingo da Eternidade deveria chamar-se agora de domingo Cristo Rei. Esse Papa Pio XI era um papa bem diferente do atual papa Francisco. O papa Pio XI não era nada ecumênico e a decisão de denominar esse domingo de Cristo Rei tinha uma intenção política de grandiosidade. Ao chamar a Cristo como Rei ele queria impor que a igreja católica romana fosse a religião oficial de todos os países cristãos.

Apesar que as decisões dos Papas não tem a mesma validade para as igrejas protestantes, com o passar dos anos, também as igrejas protestantes aqui na América Latina começaram a chamar esse último domingo do ano como Domingo Cristo Rei. E os falecidos da Comunidade começaram a ser lembrados apenas no Feriado de Finados (2deNovembro).
No entanto, essa imagem de Cristo Rei é problemática, porque além de tido no passado a intenção de impor a igreja católica romana, ela também tem outro problema. Em sua imensa maioria, os reis sempre foram tiranos, promoveram guerras por interesses pessoais, não tinham consideração pelas pessoas. Reis e reinos poderosos invadiram terras, mataram populações para acumular riquezas e poder. Além disso, chamar Jesus de Rei nada tem a ver com as organizações democráticas da atualidade.

Martim Lutero não gostava dessa mistura entre igreja e estado. Ele sempre insistiu na necessidade de separação entre Igreja e estado. Ele insistia que não se pode governar o país somente com a Bíblia, porque entre os cidadãos não há apenas fiéis ovelhas, mas principalmente lobos vorazes.
Por isso, Lutero insistia na doutrina dos dois reinos. No reino espiritual e no Reino temporal. No reino espiritual cabe a igreja proclamar o amor de Deus e a vontade de Deus. Para isso a Bíblia deve ser o livro guia. A Bíblia nos fala desse amor de Deus e sua justiça e nos orienta como seguir a Jesus Cristo. Portanto, é na igreja que devemos usar a Bíblia como norma de vida e de fé.
Ao lado do reino espiritual vivemos também num reino temporal. E o reino temporal deve ser administrado pelo estado, não pela igreja. Através do reino temporal, o estado deve controlar os maus impulsos do ser humano. O estado tem por tarefa de estabelecer leis para a convivência entre as pessoas. O estado deve zelar para que haja justiça social e que as pessoas vivam com dignidade, para que haja respeito entre as pessoas e deve castigar as pessoas que não respeitam as leis. Por isso, o livro que deve governar uma nação não é a Bíblia, mas é a Constituição. A Bíblia pode até inspirar uma Constituição, mas jamais deve substitui-la. Essa tem sido a compreensão das igrejas protestantes históricas.

Por isso, quando nós protestantes luteranos falamos que “Jesus é Rei”, nós logo enfatizamos que o seu reino não é deste mundo. Jesus é um rei – que ao contrário dos reis e governantes que conhecemos. Jesus é um rei sábio, justo e honesto com sua gente. Um rei que ajunta e não divide ou humilha as pessoas, um rei que traz paz e segurança ao seu povo. (Jr 23.1-6).

Como pessoas luteranas nós também reconhecemos a Jesus como o Rei Soberano de nossas vidas. Ele é o Senhor, nós somos seus servos. É a vontade de nosso Senhor que deve orientar nossos pensamentos e atitudes. Mesmo que muitas vezes não fazemos o bem que queremos, mas sim o mal que não queremos – esse é que fazemos (Rm 7.19). Por isso, como cristãos luteranos somos educados a sempre nos dirigir a Deus com o espírito de humildade. Arrogância, prepotência, busca de poder, quere dominar sobre as outras pessoas – isso não faz parte do nosso catecismo luterano. O nosso rei Jesus Cristo nos ensinou que a verdadeira força e o verdadeiro poder estão na força do perdão, no amor, no servir, na bondade, na compaixão.

A Carta aos Colossenses diz que as pessoas cristãs precisam mostrar que a fé cristã faz as pessoas terem um novo comportamento em relação à morte e em relação a vida nesse mundo. A pessoa cristã recebe a força de Deus – não para dominar outras pessoas – mas para dar testemunho com nossas atitudes que nós seguimos a vontade de nosso mestre e que mesmo nas adversidades sabemos suportar tudo com paciência, com alegria e com gratidão a Deus.

Desta maneira, esse último domingo do ano eclesiástico pede de cada um de nós uma auto-avaliação: Como se deu esse reinado de Jesus em tudo o que vivemos e realizamos até aqui? A quem, como igreja luterana nós servimos ao longo desse ano que está terminando? Quem reinou em nossa casa nesse ano que passou? Quem reinou em nossas decisões, em nossos diálogos, em nossa relação familiar com a esposa, com os nossos filhos(as), irmãos, irmãs, pais, amigos e amigas? Quem governou os nossos pensamentos e atitudes?

Jesus Cristo, quer fazer de nós pessoas generosas, solidárias, pessoas que proclamam a paz com justiça social, pessoas que se importam com as necessidades de outras pessoas e por isso, quando falam de política querem apenas que os governantes cumpram o seu papel de assegurar a dignidade de vida para todas as pessoas.
E que assim, a graça de nosso Senhor Jesus Cristo permaneça no meio de nós. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Colossenses / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 11 / Versículo Final: 20
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 54240
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É totalmente insuportável que em uma Igreja cristã um queira ser superior aos outros.
Martim Lutero
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