Certa vez o apóstolo Paulo foi interrogado. Ele disse na sua defesa: “Sou cidadão romano”. (Atos 16. 37; 22.28). Essa fala poupou-o da tortura. Notem que a condição de “cidadania romana” não o atrapalhou a dizer que “a nossa cidadania está no céu” (Filipenses 3.20). Quer dizer: o cidadão que caminha com os pés neste chão e tem fé em Jesus Cristo também é cidadão do Reino de Deus. Desde o nosso nascimento vivemos esse processo histórico: somos cidadãos aqui, onde temos compromissos e deveres, e, ao mesmo tempo, somos cidadãos da Cidade Celeste. É por isso que sempre de novo vamos em busca do novo. Agindo assim, lutamos para melhor suportarmos esse “insolúvel provisório” que nos cerca.
Muita gente “torce o nariz” nesta época de eleições. Sou um tanto “rodado” em assuntos de Igreja. Ela, muitas vezes, atua no mundo secular com o disfarce da ação social; do serviço em prol das pessoas desassistidas. Você se assustou com a palavra “disfarce”? É comum se perceber Igrejas usando a “roupagem” do “amor ao próximo” para lutar, com unhas e dentes, em prol da defesa de seus próprios interesses; de seus pontos de vista particulares.
Mas também existe o outro lado. Outro dia senti alegria ao ler o testemunho de um político engajado nos quadros de liderança da nossa IECLB. Ele, nas entrelinhas de sua entrevista, deixou claro que, muitas vezes, a comunhão experimentada junto às irmãs e os irmãos cristãos teria sido encorajadora para o enfrentamento do seu dia-a-dia na Câmara de Deputados de seu Estado.
Entendo que o desafio de Deus é que nos engajemos politicamente, onde quer que nos encontremos. A Igreja Cristã leva em grande conta o serviço voluntário dos seus membros que se engajam na tarefa política dentro do mundo secular. Claro, eu sei que muitos me contestam; que um enorme segmento de pessoas gostaria que a Igreja só se ocupasse com o aspecto espiritual, não com o temporal. Mas o que é que vamos fazer se a Bíblia não concorda com este posicionamento?
No passado a Igreja exigiu que seus membros prestassem obediência acrítica ao Estado e isso foi desastroso. Hoje a Igreja não deveria mais permitir que seus membros se deixassem administrar unicamente pelo Governo. Quando deixamos de dar sugestões e pareceres; quando deixamos de interferir nas questões que nos dizem respeito, a Democracia vai pro “ralo”. Uma vez zerada a liberdade de opinião, dá-se espaço à força dos “poderes estranhos”.
Vejo a Igreja como um “pedaço” do mundo em que vivemos. Embarcados neste “barco” somos sabedores que no outro mundo, no “novo céu e na nova terra”, há a realidade da fé e que, aqui, é importante decidir-se por este “novo mundo”. Como decidir-se por ele? Fincando pequenas estacas de paz, amor e perdão no chão onde pisamos. Nada mais do que isto.
P. Renato Luiz Becker