Pobreza e Desenvolvimento

01/12/2000

Pobreza e Desenvolvimento

O Diálogo Inter-Religioso Mundial sobre o Desenvolvimento (DIRMD) foi inaugurado em 1998 como uma conversa sobre pobreza e desenvolvimento entre as diferentes religiões do mundo e entre estas e o Banco Mundial. A missão deste empreendimento não é obter consenso, já que uma das heranças mais ricas da humanidade é sua diversidade de critérios e formas de pensar. Entretanto, o objetivo é chegar a conclusões capazes de promover mudanças — e isto somente pode ser alcançado através do diálogo e de ações conjuntas.

Pobreza e Desenvolvimento — Uma Perspectiva Inter-Religiosa é uma publicação que está sendo distribuída em vários países. No Brasil, este documento foi distribuído em 2000 pela Editora Sinodal. Esta publicação sobre a pobreza e o desenvolvimento é uma versão revisada e resumida do comentário preparado pelo DIRMD para o primeiro rascunho do Relatório 2000 do Banco Mundial sobre o Desenvolvimento Mundial. Essa versão resumida enfoca os valores e a compreensão que as comunidades religiosas têm a respeito do desenvolvimento e da pobreza.

Esta deve ser a primeira vez que se tratou esse tema a partir de uma perspectiva inter-religiosa. Todavia, para não criar falsas expectativas, é necessário destacar duas limitações importantes. Em primeiro lugar, não se pretende estabelecer um consenso entre as doutrinas e práticas das diferentes religiões frente ao desenvolvimento e à pobreza. Este consenso não existe nem no interior de cada religião tampouco entre elas. Em segundo lugar, devido à brevidade desse comentário, não são abordados todos os temas que merecem ser estudados e nem mesmo fornece argumentos detalhados para sustentar as conclusões apresentadas. Essa perspectiva inter-religiosa é o resultado de muitas horas de reflexão entre pessoas de diferentes religiões e de todas as partes do mundo.

O Anuário Evangélico oferece aos seus leitores e leitoras o trecho final deste documento, com o propósito de motivar a reflexão em torno da pobreza e desenvolvimento.


Meio ambiente

Judeus, muçulmanos e cristãos acreditam que o mundo pertence a Deus, que deu aos seres humanos a responsabilidade de ser bons mordomos da natureza. Algumas tradições espirituais indígenas, o taoísmo e o jainismo enfatizam mais a interdependência entre os seres humanos e a natureza. Essa interdependência não se restringe a um mero equilíbrio estabelecido pelas leis naturais. Isso envolve a responsabilidade dos seres humanos de não apenas cuidarem-se mutuamente, agora e no futuro, mas também cuidarem do resto da criação. Grupos indígenas do mundo todo têm uma visão particular sobre a necessidade de respeitar e preservar a relação da comunidade humana com seu passado e seu futuro por intermédio da criação sagrada da natureza.

Sob qualquer ponto de vista, todas as comunidades religiosas concordam que os seres humanos têm o dever de preservar o mundo natural, que é seu lar. Isso significa que o desenvolvimento deve garantir que a interação entre as pessoas e os recursos naturais não produzam um meio ambiente insalubre. Tampouco devem levar ao esgotamento de recursos naturais não-renováveis ou diminuir a viabilidade do ecossistema.

Todas as religiões compreendem a ideia da limitação e aceitação de limites como um aspecto fundamental daquilo que significa ser humano. Esse conceito tem sido a contribuição única das religiões desde sempre para entender a relação entre os seres humanos e a natureza.

Educação moral

Encerramos com o mais importante tema desse trabalho: a educação moral. No coração de todas as comunidades de fé encontra-se o objetivo do autoconhecimento, que conduz para a transformação pessoal ou perfeição, como a única via de aproximar-se do Deus supremo e/ou alcançar a paz total e a felicidade. Os caminhos são muitos. Budistas aspiram libertar-se da ilusão de que o egoísmo e a avareza levarão à felicidade. Cristãos almejam aprender a amar Deus e seus semelhantes como a eles próprios. Muçulmanos procuram encontrar a paz por intermédio da submissão à vontade divina. É a firme convicção das tradições religiosas que, se não se empreendem esses processos libertadores, os indivíduos e, por consequência, as sociedades nunca serão capazes de fazer suas aquelas virtudes que são a base do verdadeiro desenvolvimento.

O desenvolvimento é primeiro e antes de tudo uma questão de progresso moral e espiritual. O desenvolvimento não é estático, mas um processo dinâmico, cujo ponto essencial não é tanto ter mais, mas ser mais. Aqui entra o princípio da dignidade humana. (Ao mesmo tempo, reconhecemos totalmente que alguém necessita frequentemente ter mais para poder ser mais, em especial quando não tem nada.)

As comunidades religiosas acreditam que a ênfase atual na educação como algo mais do que capacitação para um futuro emprego está profundamente equivocada. Toda a capacitação técnica do mundo não ajudará a sociedade a avançar, a menos que as pessoas sejam também educadas em aspectos morais e espirituais que os capacitem para usar suas habilidades em prol do bem comum. Por exemplo, a capacitação legítima para um nível mais alto nunca produzirá bons juízes, a menos que seja acompanhado pelo desenvolvimento de um senso de justiça balanceado com compaixão.

Foi dito que a disseminação de ideias positivas é tão importante quanto a ação social. Hoje mais do que nunca podemos ver que somente as ideias positivas e os valores de amor, solidariedade, verdade e justiça são capazes de conferir à ação social algum sentido. Sem a maturidade espiritual necessária, que capacita as pessoas não apenas a se tolerarem mutuamente, mas valorizarem suas diferenças, nenhum programa de desenvolvimento conseguirá levar até a humanidade a verdadeira prosperidade, que significa a paz pessoal e social.

Informações com:
Diálogo Inter-Religioso Mundial sobre o Desenvolvimento
33-37 Stockmore Street, Oxford, 0X4 1JT, Reino Unido
Tel/Fax:(44)1865 790011
E-mail: wfdd@btinternet.com
Website: http://www.wfdd.org.uk


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Âmbito: IECLB
Área: Ecumene
Área: Sustentabilidade / Nível: Sustentabilidade - Justiça socioambiental
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2001 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2000
Natureza do Texto: Artigo
ID: 33000
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A vida cristã não consiste em sermos piedosos, mas em nos tornarmos piedosos. Não em sermos saudáveis, mas em sermos curados. Não importa o ser, mas o tornar-se. A vida cristã não é descanso, mas um constante exercitar-se.
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