Pentecostes - o Espírito como herança de Jesus

Prédica em João 14.15-26 autoria P. Me. Alexander Busch

23/05/2021

 

Estimada comunidade, minhas irmãs e irmãos em Cristo
Em breve vamos celebrar a festa de Pentecostes / Estamos celebrando hoje a festa de Pentecostes: o cumprimento da promessa de Jesus de enviar o Espírito Santo para conduzir o povo de Deus. Uma das ocasiões em que Jesus fala sobre esta promessa ouvimos hoje na leitura bíblica. Jesus está reunido com os discípulos. Jesus e seu grupo de seguidores estão reunidos para a última ceia antes de sua prisão e crucificação. Por este motivo, Jesus está preparando seus amigos para sua ausência. No ar, entre os discípulos, existe ansiedade e tristeza. O grupo de seguidores pressente que algo vai acontecer, embora não saibam o que. Assim Jesus compartilha com seus amigos algo semelhante a um testamento. Em breve ele irá partir e promete, portanto, uma rica herança à sua comunidade. Ele conhece o seu destino, por isso diz, “Não vou deixá-los abandonados, mas voltarei para ficar com vocês” (18). E Jesus ainda lhes diz, “O Auxiliador, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ensinará a vocês todas as coisas e fará com que lembrem de tudo o que eu disse a vocês” (26). A situação é de despedida. Mas antes de partir, Jesus garante aos seus discípulos um tesouro sem igual.

A herança de Jesus não consiste em bens materiais, mas sim em sinais espirituais da sua presença neste mundo. Fazem parte do testamento de Jesus a sua Palavra, a Santa Ceia, a comunhão na igreja, e também o Espírito Santo que permite que todo este legado de Jesus não seja perca, mas seja mantido vivo na memória do povo de Deus. Jesus promete o Espirito Santo que o Pai envia à sua igreja.

Mas, eis que logo surgem perguntas, palavras humanas são suficientes para expressar e conter o Espírito Santo? É possível descrever sua ação neste mundo, sua ação na igreja, sua ação entre nós. Quando Jesus encontrou-se com Nicodemos, Jesus lhe falou do Espírito comparando-o com o vento, “o vento sopra onde quer, e ouve-se o barulho que ele faz, mas não se sabe de onde ele vem, nem para onde vai. A mesma coisa acontece com todos os que nascem do Espírito” (Jo 3.8). E de fato, na festa de Pentecostes em Jerusalém, o Espírito Santo desceu de repente como vento sobre a comunidade de Jesus. Ser humano algum tinha ou tem controle sobre o Espírito Santo. No livro de Atos podemos perceber o Espírito agindo na vida das igrejas, colocando as pessoas em movimento, espalhando as palavras de Jesus pelo mundo do Império romano. Portanto, é com humildade e reverência que falamos sobre o Espírito Santo. Palavras humanas não podem conter sua presença. A ação do Espirito Santo está além da imaginação humana.

E de fato, os discípulos de Jesus neste momento de despedida não podiam imaginar o que estava por vir. Jesus lhes fala abertamente de sua partida e, ao mesmo tempo, lhes fala de sua presença, “Daqui a pouco o mundo não me verá mais, mas vocês me verão. E, porque eu vivo, vocês também viverão. Quando chegar aquele dia, vocês ficarão sabendo que eu estou no meu Pai e que vocês estão em mim, assim como eu estou em vocês” (19-20). Um dos discípulos chamado Judas, que não era o Judas Iscariotes, pede ao mestre uma explicação melhor, “Senhor, como será possível que o senhor mostre somente a nós e não ao mundo quem o senhor é?” (22).

Quando Judas levanta esta pergunta, a minha impressão é que ele está esperando uma resposta clara, evidente, que esclareça todas as questões relacionadas a Jesus. Quem é o Senhor para se revelar somente a nós, os discípulos? A resposta de Jesus, porém, não aponta diretamente para a sua própria pessoa. A resposta de Jesus aponta para duas direções que vão além de si próprio: a Palavra e o Espírito Santo.

A resposta de Jesus diz, “A pessoa que aceita e obedece aos meus mandamentos prova que me ama . . . a pessoa que me ama, guardará a minha palavra” (21,23). Meus mandamentos, minha Palavra . . . Jesus indica que é através de sua Palavra que os discípulos irão ver e reconhecer Jesus. Isto significa que as pessoas, incluindo você e eu, se queremos nos encontrar com Jesus, precisamos, ouvir a Palavra, investir tempo na Palavra, meditar na Palavra. A Palavra é onde Jesus se manifesta, onde Jesus se deixa conhecer, conduzindo, confortando, corrigindo, animando, confrontando, fortalecendo as pessoas. Quem quer conhecer a Jesus precisa abraçar sua Palavra, dar lugar à Palavra na sua vida, ter a sua Palavra como referência para a conduta do dia a dia. Enfim, é praticando a Palavra, obedecendo aos seus mandamentos e sua mensagem que Jesus se revela aos seus seguidores e seguidoras.

E especificamente neste momento de despedida, sua mensagem, seu mandamento é o mandamento do amor. Quem ama Jesus obedece aos seus mandamentos. Quem ama Jesus está disposto a servir e lavar os pés uns dos outros. Quem ama Jesus quer permanecer em Jesus e produzir frutos. Quem ama Jesus se submete a sofrer tentações e perseguições. Quem ama Jesus confia que Jesus lhe carrega em oração. A pessoa que ama Jesus quer ser acolhida pelos braços abertos de Jesus na cruz e também abraçar outras pessoas com seu amor. “Amem-se uns aos outros”, diz Jesus, “assim como eu amei vocês” (Jo 13.34).
Agora conhecer e praticar a Palavra de Jesus, guardar o seu mandamento de amor, compartilhar em gestos e palavra a sua mensagem não é algo certo e automático para nós, seres humanos. Resistimos em abrir mão do nosso individualismo. Podemos até mesmo ouvir a Palavra de Jesus com regularidade, mas continuamos negligentes quanto à sua prática, ou perseveramos em resguardar os nossos pecados de estimação. Em muitos momentos somos indiferentes ao perdão que Jesus nos chama para praticar com as pessoas ao nosso redor. Alimentamos desconfiança em relação à pessoa que é diferente de nós e recusamos acolher esta pessoa da mesma maneira como Cristo nos acolhe. Estes e tantos outros exemplos de limitações, pecados, desconfianças poderíamos citar.

A resposta de Jesus a Judas, e a nós, contém uma promessa, “O Auxiliador, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ensinará a vocês todas as coisas e fará com que lembrem de tudo o que eu disse a vocês” (26). É a promessa do Espírito Santo, a preciosa herança, o rico tesouro, que recebemos de Jesus.

A palavra “auxiliar” (Paracleto no grego) também pode ser traduzida como “aquele que está ao lado”, “aquele que consola”, “aquele que aconselha”. No grego a palavra “paracleto” também era usada na corte judicial para se referir ao advogado, a pessoa ao lado de outra pessoa para lhe defender. Desta feita, a ação do Espirito Santo na comunidade cristã é bastante ampla. O Espírito é Consolador, Advogado, Conselheiro, Ajudador, Aquele quem caminha ao nosso lado. É o Espírito Santo quem nos ajuda a reconhecer Jesus. É este o mesmo Espírito que ressuscitou Jesus dentre os mortos, e que levanta sua comunidade de discípulos para viveram uma nova vida. É o Espírito que cria e sustenta em nós a fé em Jesus. É o Espírito que aproxima pessoas e gera comunhão em comunidade. É o Espírito quem nos faz lembrar da Palavra de Jesus e que concede perseverança para praticá-la em nosso dia a dia. É o Espírito que abre nossos olhos para reconhecer nossa culpa e buscar a reconciliação com Deus e com as pessoas ao nosso redor. É o Espírito que está agindo na vida das igrejas, colocando as pessoas em movimento, espalhando a mensagem de Jesus entre nós e mundo afora. Amém.
 


Autor(a): P. Me. Alexander Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 14 / Versículo Inicial: 15 / Versículo Final: 26
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 65094
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