Pentecostes - Deus não abandona os seus

27/06/2003

Pentecostes
Deus não abandona os seus

 

P. Guilherme Th. Fredrich *

Celebramos em Pentecostes o cumprimento da promessa de Jesus, a seus discípulos, de que não os deixaria sozinhos e desamparados (João 14.16-20,26). O Espírito Santo - 3a. Pessoa da Trindade, compreendida pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo - foi plenamente revelado por Jesus Cristo, quando ele O enviou aos discípulos no dia de Pentecostes, em Jerusalém, manifestando-Se com vento, ruídos, estrondos e chamas de fogo (Atos 2.1-13). Mesmo em meio aos temores, dúvidas e vacilações, Deus não abandona os seus. E assim, após a manifestação do Espírito Santo, os discípulos se tornaram corajosas testemunhas da fé, anunciando Jesus Cristo a todas as nações e povos. Deus lhes conferiu poder para dar conta do novo desafio que se colocava diante deles: anunciar e viver a boa notícia até os confins da terra.

Porém, é interessante observar que, já no Antigo Testamento, temos a força atuante do Espírito de Deus. Em Ezequiel 37.1-14, encontramos um precioso relato. O povo hebreu se encontra no exílio, após 587 a.C., ano da destruição de Jerusalém, à qual se refere Ezequiel 33.21: caiu a cidade. Ou seja, as perspectivas eram diminutas: Templo e reinado eram ruínas. Boa parte da população fora dizimada, seja por fome ou peste, seja pela fúria dos soldados vencedores. Para os sobreviventes, levados cativos para o exílio na Babilônia, o horizonte parecia fechado. Prevaleciam lamentações e queixas (leia Lamentações de Jeremias). São aproximadamente 15 mil deportados judaítas, levados à força para a Babilônia no século 6° a.C., para este vale de ossos. Contudo, no vale de ossos do exílio babilônico, não falta a esperança.

Deus pergunta a Ezequiel: acaso poderão reviver estes ossos? (v.3).
A razão humana responde com um decidido não. Afinal, o que o profeta vê e experimenta neste vale é o poder da morte... No entanto, o vale de ossos é justamente a razão para a ação de Deus: Assim diz o Senhor Deus a estes ossos: eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis (v.5).

A palavra de Deus, na dor, no sofrimento, não deixa de olhar para frente, não permite que lá adiante o horizonte se feche. Evoca a esperança que precisa resistir desde o mais profundo vale dos ossos, secos e amargurados, despedaçados e estraçalhados... E a profecia de Ezequiel é portadora deste milagre. Não por ela mesma, não pela força de suas análises e projeções, não pela sabedoria e inteligência do ser humano, mas no vigor do Espírito. A profecia é fruto e obra do Espírito e provém da mão do Senhor (v.1).

Monarcas e templos haviam conduzido ao desterro. Confiança em obras humanas haviam conduzido à destruição. Agora volta a irromper a era do Espírito. Em Ezequiel temos a força da profecia do Espírito de Deus. E com a profecia irrompe o inesperado, o impossível: um vale de ossos secos torna a viver...

A dominação destroça, quebra a vida. Despedaça. Os reis e os templos, de ontem e de hoje, não querem que as pessoas estejam em pé. Preferem pessoas arrasadas, envergonhadas, desesperadas... Mas o Espírito as põe em pé. Isto é o que estamos a necessitar: olhos para o futuro, esperançosos, confiantes no Espírito de Deus.

Em nosso dia-a-dia, tantas e tantas vezes a dominação se passa às escondidas, em secreto, dentro das almas, dos corações, dentro dos quartos, das cozinhas, nos porões, nos escritórios, nos corredores das igrejas, das fábricas, dos colégios... Aliás, a maioria das dominações nem chega à luz do dia. Perambula em esconderijos. Vive balançando e se apertando nos ônibus, nos metrôs. Permanece atrás das panelas, submetendo-se ao destino. Deságua em quartos escuros, em choros, em desesperos mil...

E diante destas situações, os donos do mundo procuram dar a impressão de que não há mais saída e pregam a resignação. Porém este tempo de Pentecostes e a palavra do profeta Ezequiel falam o contrário: testemunham o poder de Deus. Do nosso Deus. Do Deus que está contigo, comigo. Do Deus que se manifesta pela presença e na força do Espírito Santo. Do Deus que faz a vida ressurgir de um vale de ossos secos. Do Deus que não abandona os seus.

É próprio do Espírito Santo agir de forma diversificada no coração das pessoas, na vida da Igreja e do mundo sem, contudo, prender-Se ou limitar-Se a pessoas privilegiadas, movimentos, grupos ou organização religiosa. O Espírito Santo age onde, quando e como quer agir. Ninguém pode arvorar-se no direito de ser representante exclusivo da mensagem de Jesus Cristo.

Nós somos frutos dessa ação do Espírito Santo. Pessoas foram instrumentos da ação do Espírito para nos proclamar a Palavra de Deus. Assim, podemos viver também da mesma promessa. Podemos viver e experimentar a mesma confiança. Sejam quais forem as circunstâncias, Deus é Senhor do mundo e podemos nos saber guardados por Ele.

ORAÇÃO

Deus da vida, vivemos com falta de vida, porque tanta coisa anda aos pedaços. Por dentro andamos quebrados, desanimados. Por fora andamos brigando, discutindo, nos afastando. Seja em casa, seja no trabalho, seja na comunidade.

Porém, Deus, sabemos que tu ressuscitas da morte para a vida, que transformas gente desanimada em comunidade de gente esperançosa. Pedimos pela força e vigor de teu Santo Espírito e imploramos em favor daqueles que, nesta hora, se encontram tal qual vale de ossos secos. Coloca-os de pé, para seguirem em frente, para acreditarem que é possível mudar as coisas ao seu redor. Pedimos que tu sejas o abrigo daqueles que se encontram despedaçados, nas ruas de nossa cidade, nas prisões de nosso país, nos leitos de nossos hospitais, nos quartos de tantas casas.

Ajuda-nos para que também nós, com nossas mãos, sejamos abrigos, ajuda solidária em meio a tanta dor. Que a força divina de teu Espírito Santo nos revigore e anime a nossa vida e o nosso testemunho. Em nome de Jesus. Amém


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* Guilherme Th. Fredrich
é pastor em Niterói - RJ


Autor(a): Guilherme Th. Fredrich
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 21627
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Portanto, a fé é assim: se não vier acompanhada de ações, é coisa morta.
Tiago 2.17
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