Pelos Caminhos da Esperança - Mensagem da Presidência da IECLB

01/12/2004

 

Pelos Caminhos da Esperança
Expressão de unidade na Igreja

Pelos Caminhos da Esperança - esse é o tema da IECLB para 2004. O lema do ano, por sua vez, destaca a busca da unidade na Igreja - Preservando a unidade do Espírito no vínculo da paz (Efésios 4.3). Ao se definir a esperança como seu tema central para o ano, a direção da IECLB pretende transmitir uma mensagem aos seus membros e para a sociedade em geral. Mas antes que possamos afirmar e/ou reafirmar nossa convicção de esperança é muito importante que nós tenhamos a abertura para refletir sobre o atual significado e relevância deste tema em nossa igreja e sociedade.

Há a constatação generalizada na sociedade atual de que vivemos tempos de grandes inseguranças e incertezas e, em muitos casos, de desesperança sobre as possibilidades de futuro da própria humanidade. Certamente cada um e cada uma de nós conhece uma série de exemplos no âmbito das relações pessoais, comunitárias e internacionais que confirmam a realidade de que vivemos tempos difíceis. E, mesmo assim, diante deste cenário difícil será que ainda é possível manter a esperança? Em caso afirmativo, sobre qual esperança estamos falando?

Em nível pessoal, nós, mulheres e homens, podemos enumerar esperanças que tivemos, que não se concretizaram e que hoje já não mais alimentamos.  Esperanças que se foram ao vento... A experiência ensina também que esperanças coletivas, dos povos, podem ser gravemente frustradas, seja porque as pessoas em que o povo confiança nelas depositadas, seja porque as condições políticas e econômicas tolhem suas ações. confiou traíram intencional e gravemente a Quando o ditado brasileiro diz que ''a esperança é a última que morre'', afirma, sim, que a esperança é uma dimensão humana muito forte, mas também reconhece que esperanças acabam, nem que seja por último.

Também é forçoso reconhecer que a razão de nossa esperança não pode residir nas nossas qualidades pessoais nem nos nossos conhecimentos intelectuais - mesmo que teológicos. Também não pode estar nas nossas capacidades administrativas, muito menos nas estruturas e regulamentos eclesiásticos, muitas vezes construídos com tanto empenho. Nem mesmo o melhor de nossos empreendimentos constitui razão suficiente e confiável para uma esperança que não tenha fim, que não venha a morrer.

Diante de tanta provisoriedade e de toda limitação humana ainda há sentido em se falar em esperança? Há alguma esperança para além de nós mesmos/as?

A resposta cristã indica que a esperança é um princípio irrenunciável (1 Coríntios 13.13). Por meio dela olhamos com confiança para o futuro. Aliás, esperança é espera com confiança. Hebreus 11.1 define a fé como ''a certeza de cousas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem''. Ou seja, a fé enxerga para além do momento e das condições atuais. A fé detecta realidades que não são percebidas por quem ainda não recebeu o dom da fé.

A razão da esperança cristã se encontra além de qualquer realidade conjuntural, seja ela mais pessimista ou mais otimista. O fundamento da esperança  cristã é o próprio Deus que vem ao encontro do ser humano, exatamente por sua condição pecadora, de alienação e de desamparo. Assim afirma o salmista: ''Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa, porque dele vem a minha esperança'' (Salmo 62.5). Desta forma, aquela pessoa que encontrou em Deus a razão da sua existência e de sua esperança pode ser considerada bem-aventurada (Salmo 146.5; Jeremias 17.7). A esperança não é um atributo pessoal ou comunitário, mas é uma dádiva que recebemos de Deus e que nos é compartilhada por meio do Espírito Santo (Romanos 15.13). A razão última da nossa esperança é Jesus Cristo, por meio de quem recebemos a promessa da salvação, já na presente vida (1 Pedro 1.3; 3.15).

Por conta desta experiência de amor e de salvação de Deus em nosso favor, através de Jesus Cristo, os cristãos partilham da esperança de Deus, não isoladamente, mas no corpo de Cristo, que é a igreja. A Igreja é, portanto, a comunidade da esperança; espaço onde se vive, se celebra e se testemunha a esperança. A esperança cristã precisa ser constantemente reafirmada e renovada, pois ela não é obtida de uma única vez para sempre. Na compreensão luterana, o espaço para a vivência da espiritualidade e para a renovação da esperança é a experiência comunitária.

Da mesma forma a esperança cristã nos desafia para o testemunho público da fé. A razão da existência da Igreja de Cristo é ser sal e luz no mundo, nos mais diferentes contextos da vida (Mateus 5.13-14). A Igreja de Cristo não se satisfaz apenas com a salvação individual das pessoas, por mais importante que isso seja, nem somente com o seu bem-estar institucional, que também é relevante. O horizonte maior da fé é a própria criação de Deus em sua globalidade, que também anseia pela redenção final. Justamente porque a criação geme e suporta os mais diferentes tipos de sofrimento somos desafiados e desafiadas a colocar sinais de vida e esperança, que apontam já no presente momento para a salvação de Deus (Romanos 8.18-21).

Mesmo que a esperança aponte preferencialmente para o futuro, ela naturalmente está construída sobre as bases do presente e do passado. Por isso, na busca por construir um futuro com mais esperança somos pessoas desafiadas a avaliar com coragem nossa história, e, da mesma forma, convidadas a ser gratas pela trajetória já andada. Por isso, podemos render graças a Deus que tem acompanhado a IECLB em sua trajetória, agradecer pelas suas comunidades, pelo testemunho que ela tem dado e pelo serviço que tem prestado em nosso país e expressar nossa gratidão por sua importante caminhada ecumênica.

Em relação ao futuro, como comunidade da esperança, temos sonhos e planos. Temos consciência de que há novas responsabilidades a assumir, uma missão a desempenhar, novos serviços a prestar. Essa é a motivação de fundo que nos orienta ao propormos que, em 2004, a IECLB, na sua diversidade, mas preservando a sua unidade fundamental, se ocupe com o tema Pelos Caminhos da Esperança. A participação e contribuição de todas as pessoas é muito importante para nossa caminhada conjunta, ''preservando a unidade do Espírito no vínculo da paz'' (Efésios 4.3).

Dr. Walter Altmann
Pastor Presidente da IECLB


Autor(a): Walter Altmann
Âmbito: IECLB
Área: Campanhas / Nível: Tema do Ano / Instância Nacional: Presidência
Natureza do Texto: Vários
ID: 60045
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A Deus, aos pais e aos mestres, nunca se poderá agradecer e recompensar de modo suficiente.
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