Pedras no caminho? Sempre as haverá

22/10/2004


“No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.”

(Carlos Drummond de Andrade)

Sábio foi Drummond ao escrever esse poema. Ou, quem sabe, esse lamento.

Quantas pedras nos são colocadas no caminho? Quantas pedras nós mesmos colocamos em nosso caminho? Quantas vezes somos nós as pedras no caminho de outro? Pedras, pedrinhas e pedregulhos. Intransponíveis? Não. Sempre haverá pedras em nossos caminhos, mas tudo depende de como vamos encará-las. Deveríamos aprender com as águas dos rios, que dão sempre um jeito de contornar as pedras que lhes aparecem no caminho.

Quantas vezes, com essa sensação de haver pedregulhos em nosso caminho, experimentamos um grande sentimento de solidão? “Vem ter depressa comigo”, escreve o apóstolo Paulo a Timóteo. Ele sentiu-se só em seu ministério. Em muitos desses momentos, nós nos olhamos e parece até que nossos sonhos envelheceram junto com a gente. E, sem dizer nada, ficamos nos perguntando: “O que foi feito, amigo, de tudo que a gente sonhou, o que foi feito da vida?”

Onde estão os nossos sonhos? Nossos sonhos, adormecidos, adormecem também os nossos corpos. Paulo Freire diz que o sonho é o motor da história. Mas será que nossos sonhos não são particulares demais? Meu sonho, teu sonho – e cadê o nosso sonho?

Que sonhos terão aqueles de pés-descalços e corpos cansados? Que sonhos terão os sem-teto, os sem-família, os sem-salário, os sem-terra? Ainda sonhamos cada um o seu sonho particular. Que bom seria se tivéssemos aprendido a sonhar juntos. Uma vez li uma bem-humorada frase no pára-choques de um caminhão: “Se todas as pessoas do mundo fossem obesas, o mundo seria mais unido”. Certamente não é essa a solução para nos unirmos – mas creio que é preciso sonharmos juntos. Sonhar sonhos que talvez não nos nos façam trilhar os mesmos caminhos, mas que possam nos levem para o mesmo lugar.

Porque viver é fazer um constante mutirão. Porque viver a espiritualidade é também falar com o corpo. É falar com o corpo do outro, sofrido, doído, algumas vezes sacrificado. É o nosso corpo que pronuncia a palavra Deus. O corpo dizendo suas esperanças, falando sobre seu medo de morrer, sua vontade de ser eterno – ah! Mas que bobagem, a imortalidade não é para nossa alçada! Porém, querendo ser eterno o corpo tem esperanças. E são os corpos gestando esperança que se dão as mãos e se sustentam para resistir e para caminhar.

Quando as pedras forem muitas, quando o caminho for estreito, quando faltar o sonho e quando a falta da esperança estiver enfraquecendo você, lembre-se (e que eu lembre) que há Alguém superior a todos nós que nos carrega.“Vocês que eu carrego no colo desde o ventre materno. Até a velhice de vocês eu serei o mesmo, até que se cubram de cabelos brancos eu continuarei a carregá-los.” . Porque “ainda que uma mãe esqueça do filho, eu não esquecerei você. Veja! Eu tatuei você na palma da minha mão.”

Se lembrarmos disso, as pedras serão pequenas e o fardo se fará leve.

Pª. Vera Cristina Weissheimer


Autor(a): Pª Vera Cristina Weissheimer
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8104
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1Reis 8.57
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