É lugar comum afirmar que o povo brasileiro consegue externar um senso de patriotismo ao torcer pela seleção brasileira. A camisa verde-amarela estabelece uma identidade comum entre as pessoas. De fato, além dos esportes fica difícil relacionar situações em que o povo brasileiro demonstre de forma espontânea uma identificação com o seu país. Isso tem lá as suas razões.
A idéia de nação, tal qual nós a conhecemos hoje, é recente na história humana. O processo de delimitação de territórios aconteceu, muitas vezes, à revelia do povo. Deu-se a partir de interesses políticos e econômicos de elites que, não poucas vezes, fizeram uso da guerra para demarcar as fronteiras. A população, convocada para ratificar a nova situação, na maioria das vezes ficou à margem de benefícios sociais e econômicos.
As comemorações da Semana da Pátria soam um tanto artificiais. Patriotismo torna-se um sentimento muito vago. Por isso advoga-se hoje em seu lugar o termo cidadania. Procura-se promover a consciência de que todas as pessoas são titulares de direitos e deveres e fazem parte de uma coletividade. Incentivar a participação na vida social e política torna-se, pois, uma tarefa fundamental para o fortalecimento da cidadania. Civismo tem a ver com participação ativa na sociedade civil.
O processo eleitoral é uma forma consagrada de participação na vida da sociedade. As eleições municipais assumem uma grande relevância porque, em tese, elas dizem respeito à instância política mais próxima do cidadão – a cidade, o município. As pessoas têm a oportunidade de tomar conhecimento dos programas de governo dos/as candidatos/as. Podem debater as suas propostas e, a cada quatro anos, eleger vereadores/as e prefeitos/as.
As igrejas não têm candidato/as próprios por uma questão de princípio: Elas não são partidos políticos. Os fiéis, igualmente cidadãos, fazem suas escolhas sem a tutela das igrejas e à luz dos princípios e valores de sua fé participam responsavelmente na promoção do bem comum. Procuram levar em conta a palavra profética: “Trabalhem pelo bem da cidade...orem a mim, pedindo em favor dela, pois, se ela estiver bem, vocês também estarão.”(Jeremias 29.7)
P. Rolf Schünemann
Publicado na edição 76 do Informativo dos Luteranos - setembro/2008