PÁTRIA
Salmo 127.1
Juiz de Fora, 3-9-72
Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam. Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela. Salmo 127.1
Os mandamentos de Deus sempre se referem, se aplicam ao homem todo a tudo aquilo que o homem é, pensa, fala e faz. Isso significa que não existe nenhum setor, nenhuma parte de nossa vida que possa ser neutra. Por isso mesmo, os mandamentos de Deus falam a nós como membros de nosso povo, como cidadãos. Deus também é o Criador e Senhor, e Juiz e Salvador da nossa vida civil — e não apenas de nossa vida pessoal. Em nossa existência como cidadãos, Deus também quer nosso serviço, nossa dedicação, nosso testemunho. Também na caminhada de nossa independência, a Palavra de Deus Quer ser a única luz de nossos caminhos.
Mas por quê? Porque é pela vontade de Deus que temes uma Pátria. É pela vontade de Deus que temos ligações com homens e mulheres que falam a mesma língua que nós, assim que podemos comunicar-nos, entender--nos, encontrar-nos uns com os outros. É pela vontade de Deus que nascemos neste lugar, nesta terra. A Pátria é o lar que Deus nos deu. Pensando bem, sem essa Pátria, nós não podemos pensar, sentir, agir, viver. Nos não existimos sem o nosso povo.
Agora: se os mandamentos de Deus valem para nós, dentro de nossa Pátria, no meio de nosso povo — como é que isso funciona na prática? Como é que obedecemos à vontade de Deus em nossa Pátria?
Em primeiro lugar, precisamos compreender a Pátria como uma espécie de moldura. Dentro dessa moldura, estamos nós. Nós formamos o quadro -- como homens e mulheres, como filhos, como pais e mães, como profissionais. E é dentro dessa moldura, neste lugar, que acontece nossa santificação. É aqui, dentro do Brasil, que acontece nosso louvor e adoração a Deus. É aqui, dentro do Brasil, que amamos a nosso próximo.
Por isso, nós não podemos desprezar nosso lugar, nossa Pátria. Aceitando a vontade de Deus, nós só podemos e só devemos aceitar nossa Pátria — como representando urna tarefa e um compromisso. Não foi por acaso que Deus nos fez nascer aqui ou vir para cá. Portanto, alegremo-nos por ter uma Pátria. Sejamos gratos por nos ter sido dada uma Pátria.
Em segundo lugar, precisamos compreender que alegria e gratidão sempre se expressam, se manifestam como amor e fidelidade. Amor à nossa tarefa de cidadãos e fidelidade ao nosso compromisso de cidadãos. Em outras palavras: amor e fidelidade são simplesmente patriotismo.
Por isso o verdadeiro patriotismo é contra todas as formas de injustiça e opressão. Por isso, o verdadeiro patriota pensa mais nos outros do que em si mesmo. Por isso, o verdadeiro patriotismo luta por direitos iguais e oportunidades iguais para todos os homens e mulheres. Por isso, o verdadeiro patriotismo respeita todas as pessoas de um povo, em especial, aquelas pessoas que são pobres, que não têm poder, que precisam mais. Por isso, o verdadeiro patriotismo coloca a dignidade das pessoas acima da riqueza nacional, acima do poder nacional, acima de qualquer outra conquista nacional.
Porque patriotismo é a construção de uma sociedade mais justa. Essa é a nossa tarefa. E patriotismo é o combate a todas as formas de egoísmo. Esse é o nosso compromisso. Quem não tiver amor, nunca vai cumprir a tarefa. E quem não for fiel, nunca vai honrar o compromisso. Nem o dinheiro nem as armas podem substituir a fidelidade e o amor.
Em terceiro lugar, precisamos compreender a história de nossa Pátria corm um conjunto de experiências e acontecimentos que também fazem parte da história de nossa vida. Assim como nossa vida é uma parcela da vida nacional. É pela vontade de Deus que isso ê assim. E por isso, é a vontade de Deus que nos coloca dentro dos problemas, das preocupações, das necessidades e das tarefas de nossa Pátria.
Por isso, o cidadão cristão nunca vai se colocar à margem, ao lado dos assuntos nacionais. Pelo contrário, toma uma posição diante dos fatos. Discutir e debater nosso futuro, é urna questão de obediência aos mandamentos de Deus.
E o que essa obediência aos mandamentos significa, na vida nacional, pode ser esclarecido através de alguns exemplos da vida de cada dia:
Deus é Senhor, em nossa Pátria, ou existem outros que pretendem ser, aos poucos, nossos senhores e deuses?
O nome de Deus é santo para nós — ou é apenas um disfarce para esconder as piores intenções?
É possível honrar uma mãe que se prostituiu para ter o pão de cada dia?
É permitido matar pessoas, com a desculpa de que se pretende salvar a sociedade?
Correspondem à vontade de Deus certas formas de exploração do trabalho, que atingem justamente os mais pobres?
Diante do mandamento de Deus, que significa a difamação que atinge adversários políticos, padres e cristãos?
Ninguém pode escapar a essas perguntas. Os mandamentos estão aí — e os fatos também. Verdadeiro patriotismo é aquela, amor, aquela, fidelidade que também encara esse tipo de problemas.
Porque foi Deus mesmo que nos colocou dentro das situações e circunstâncias em que vivemos, sofremos e trabalhamos — com outros!
E com isso chegamos ao centro mesmo daquilo que o salmista diz:
Onde o Senhor não construir a casa, é inútil o trabalho dos construtores.
Se o Senhor não cuidar e guardar a cidade, é inútil a vigilância da sentinela.
Se nós não quisermos que seja inútil nosso trabalho e sacrifício por nossa Pátria que nos foi dada, então
— obedeçamos à vontade de Deus, coloquemos a vontade do Senhor acima de todas as outras vontades,
— confiemos a ele esta nossa Pátria, par que seja mais fraterna, mais justa e mais livre. Amém.
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Acabo de receber notícia da morte de Breno e Mariane Breno e sua pressa...
Breno e sua esperança...
Breno e sua inquietação...
Breno e sua libertação...
Breno e sua jovialidade...
Breno e seu humor teológico...
Breno e o seu Cristo indiviso.
Parece que Breno tinha pressa em chegar. E foi ao encontro do Pai, mais cedo que nós desejávamos. Até para morrer Breno nos sacode e nos deixa uma última pergunta.
Certamente seu mais sincero curso sobre a ESPERANÇA.
Mariane encontrei duas vezes apenas. Havia nela algo de muita verdade sofrida e gozada JUNTOS.
(Palavras de um sacerdote amigo de Breno, atualmente na Europa).