Palavras, apenas palavras pequenas - Lucas 24.8-11

Meditação

01/05/2021

 

PALAVRAS, APENAS PALAVRAS PEQUENAS

Então as mulheres lembraram das palavras dele e, quando voltaram do túmulo, contaram tudo isso aos onze apóstolos e a todos os outros. Essas mulheres eram Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago. Estas e as outras mulheres que foram com elas contaram tudo isso aos apóstolos. Mas eles acharam que o que as mulheres estavam dizendo era tolice e não acreditaram”. Lucas 24.8-11


Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras, momento
Palavras, palavras
Palavras, palavras
Palavras ao vento

(Cássia Eller)

No início era o Verbo (dabar, em hebraico), e o Verbo fez-se carne e habitou entre nós, como palavra viva e eficaz, e corpo caloroso de amor!

As palavras habitam corpos, matam vidas e ressuscitam esperanças. As palavras, na boca e nos gestos das mulheres, transformam mundos. Elas sempre estiveram aí, com as suas palavras, nas mentes, corpos e bocas.

A Ruach (espírito, em hebraico, termo feminino) que pairava, no início, tomou forma de gente e de palavras, construtora de ideias e sonhos. Lindamente, habitou entre nós, e nos soprou o fôlego da Vida.

A Bíblia nos conta que as mulheres tomaram a palavra como juízas, profetizas, rainhas, discípulas, gestoras, matriarcas, administradoras, diáconas, líderes da missão, comerciantes, dançarinas, parteiras, amantes, educadoras e sonhadoras. Palavras mil habitaram seus corpos e criaram Vida.

Palavras por elas seguiram sendo ditas e benditas, denunciando àquelas malditas, que teimavam em ferir e matar. Assim, suas palavras foram viajando por meio de escritas, pensamentos, poesias, canções, salmos, histórias, lamentos, testemunhos, preces, pregações, tratados, cartas de amor e saudades, cartas de fé e coragem, palavras de um mundo gestado por Deus. Palavras, na boca delas, viajaram terras e mares nunca antes vistos, e foram adentrando em ouvidos e corpos sedentos pela Palavra Viva!

Junto a Jesus, as palavras fizeram eco em muitos corações aflitos e sem dignidade, palavras de mulheres que consolaram o Mestre-amigo, o acolheram, inundaram seu espírito e lhe prepararam para a cruz. Jesus pediu para que onde fosse dita alguma palavra, era para ser lembrado o gesto e a palavra daquela mulher, em sua memória. E foi justamente com uma samaritana que a palavra se tornou um lindo diálogo de sabedoria, teologia e amor. Jesus e as mulheres trocaram tantas e tantas palavras...

Palavras de mulheres estavam ali, no silêncio da tortura e do medo, no vazio da barbárie da morte de cruz. As palavras ecoaram ali até o último momento.
Na manhã do embalsamento e dos perfumes a serem lançados no corpo do Mestre, as palavras quebraram o silêncio: “Ele não está aqui... foi adiante, para a Galileia...”. As palavras do Mestre chamando por “Maria” lhe deram a certeza de que vivo estava aquele que na cruz fora pregado. E foram elas as incumbidas de levar mais palavras, de vida, ressurreição aos que para trás ficaram... e elas foram, com a coragem e com as palavras: “Nós vimos o Mestre, ouvimos sua voz, ele nos falou... Vivo está, vivo está.”

Porém, a canção acima já nos diz, que são palavras, apenas palavras pequenas... quem nelas acreditaria? Palavras, apenas, momentos, palavras, palavras ao vento... Alguém já duvidou de tuas palavras? Como você se sentiu?

Quem diria que 2020 e 2021 e talvez até outros mais seriam os anos na história da humanidade onde as palavras seriam distorcidas, malditas, desrespeitadas, ofuscadas, dilaceradas, cooptadas, postas em dúvida, tal qual aconteceu com aquelas mulheres na manhã de uma Páscoa? Por que ainda há tanta incredulidade em palavras bem ditas?

• Palavras de mulheres cientistas que lutam em defesa da vida que são colocadas em dúvida.
• Palavras de mães que não querem expor as crianças ao contágio nas escolas, não são ouvidas.
• Palavras de pregadoras que desejam cuidar de seus rebanhos e temem em abrir templos são ridicularizadas.
• Palavras de governantes que optam pela vida acima do lucro são desmoralizadas.
• Palavras de médicas e enfermeiras exaustas que salvam vida são ironizadas.
• Palavras de jornalistas que retratam fatos verdadeiros são jogadas no lixo.

As palavras formam o mundo, con-formam e de-formam. Depende de como são utilizadas. A quem servem, como são arranjadas, se rimam com seu perfume ou fazem doer aos ouvidos com sua rigidez ... Palavras, apenas palavras, tão pequenas, mas tão fortes e capazes de construir um novo mundo contra o vírus e em favor de vidas... palavras, se ouvidas e bem ditas serão palavras de salvação!

Que você, onde estiver, como estiver, na profissão que tiver, use suas palavras com força e veemência, em defesa da vida, e não se cale diante dos temores da morte e de opressores, lembrando que antes de não serem acreditadas com suas tantas palavras, elas, “Estas e as outras mulheres que foram com elas contaram tudo isso aos apóstolos...” e porque contaram que o Cristo vivo estava, eles foram ver com os próprios olhos e só então acreditaram...

Por isso preciso escrever estas palavras: Continuem semeando palavras vivas, palavras benditas, na certeza de que o Amor sempre vencerá, por mais que muitos ainda teimem e duvidem de nossa palavra-ação, sabemos que são palavras, apenas, palavras tão pequenas, palavras e mais palavras bem ditas ao vento, que viram sementes de novas palavras que irão nascer, crescer e multiplicar em cada ser humano, palavras que geram vida, cura e salvação e querem no mundo todo ecoar.

“As palavras fogem
Se você deixar
O impacto é grande demais
Cidades inteiras nascem a partir daí
Violentam, enlouquecem ou me fazem dormir
Adoecem, curam ou me dão limites
Vá com carinho no que vai dizer
[...]
Escolha os versos para ser meu bem e não ser meu mal.”

(Vanessa da Mata)

“...Assim também ocorre com a palavra que sai da minha boca: Ela não voltará para mim vazia, mas fará o que desejo e atingirá o propósito para o qual a enviei.
Isaías 55.11.


Pa. Ma. Cristina Scherer
São Francisco do Sul/SC
Palavras do tempo Pós-Pascal,
Maio de 2021.
 


Autor(a): Cristina Scherer
Âmbito: IECLB
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 24 / Versículo Inicial: 8 / Versículo Final: 11
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 62303
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