“Então o Senhor levou-o para fora e disse: - Olhe para os céus e conte as estrelas, se puder contá-las.”
(Gênesis 15.5)
O versículo está inserido no texto que revela um Abrão com medo. No capítulo 12 de Gênesis Deus havia prometido a Abrão fazer dele uma grande nação. Porém, o tempo passou, a idade avançou e a descendência tão esperada não chegou. Nessa sua angústia, Abrão se perguntava: De que adianta todo o êxito, os bens e a terra se não tenho um descendente! Mergulhado nessa angústia sua fé também começara a entrar em crise. Será que Deus não vai cumprir a promessa!
Medos, angústias, incertezas fazem parte da caminhada de fé. Assim como Abrão teve medo quanto ao futuro de sua descendência, nós também temos medo quanto ao futuro com a vida com a Covid-19. O nosso tempo é marcado por mais incertezas do que certezas. Muitas perguntas afloram: Quanto tempo ainda temos que viver no isolamento? Iremos sobreviver a pandemia? Nossas comunidades vão subsistir? O que fazer? Desanimar! Resignar!
Em resposta ao seu medo e a sua angústia, Abrão recebe de Deus uma palavra que diz: “Não tenha medo.” Porém, essa afirmação de Deus, “não tenha medo, eu sou o seu escudo, e lhe darei uma grande recompensa”, não significava que Abrão não teria obstáculos em sua vida. Crer em Deus não significa estar livre de medos, angústias, dificuldades, crises, porém, saber que ele está conosco, com o seu amor e a sua graça, para nos ajudar a transpor os caminhos árduos e difíceis.
Por isso, para abrir novamente os olhos de Abrão, para fazê-lo confiar na sua promessa, Deus o conduz para fora da sua barraca, eu diria para fora dos seus medos e angústias, e diz: - Olhe para os céus e conte as estrelas, se puder contá-las.” Foi olhando para as estrelas, para a fantástica criação de Deus, que Abrão vence o medo que o atormentava. É fixando o olhar no Senhor que ele volta a crer, a confiar na promessa de Deus.
O que Deus diz a nós hoje em meio as incertezas que vivemos com a Covid-19? Para Abrão ele disse: Não tenha medo! Olhe para o céu estrelado! Para nós ele diz: Não tenha medo! Olha para a cruz! Na cruz, no amor revelado pelo meu Filho, está a força para vencer as incertezas, os medos, as angústias, crises e aflições da vida. Nele, em Cristo, se revela a minha justiça. Justiça que nos revela que fomos justificados por graça e fé e não pelas obras da lei. E por sermos justificados por graça e fé é que podemos, como Abrão, crer apesar de todas as circunstâncias contrárias.
Olhar para a cruz, para Cristo, assim como Abrão olhou para as estrelas, para Deus, significa viver cada dia com fé, esperança e amor. Significa viver uma espera ativa, isto é, continuar fazendo dos nossos templos fechados, enquanto a pandemia perdurar, uma igreja em cada lar. Significa enxergar que Deus nos fez sair de nossa barraca, do nosso templo limitado, para um mundo virtual que atinge um número muito maior de pessoas com a sua mensagem.
Significa perceber que Deus nos fez inaugurar uma caminhada sinodal muito mais solidária e próxima.
Nessa nossa situação de incertezas e dúvidas, como a história de Abrão, Deus também está nos conduzindo para fora dos nossos muros, nos está fazendo ver a vida sob novas perspectivas, nos está fazendo levar a sua palavra com criatividade e inovação a tantos corações desalentados e amedrontados, nos está fazendo solidários com tantas pessoas necessitadas.
A história mostra que se buscamos a Deus com nossas incertezas, nossos medos, nossas dúvidas, ele estará conosco para nos abençoar com a fé que cuida e protege a vida de geração em geração. Amém.
P. Ernani.
