Outubro Rosa - Subsídios para celebrar e refletir - 2018

05/10/2018

 

                                                                      O U TU B R O   R O S A                                                                              
                                                         SUBSÍDIOS PARA CELEBRAR E REFLETIR                                                        
                                                                                        Rosane Philippsen                                                                                         
                      É teóloga, Mestra e Colaboradora na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em São José dos Campos/SP                          



VOCÊ VAI PRECISAR
Chá de rosas ou frutas vermelhas; tecidos rosa que evocam o Outubro Rosa; uma Bíblia, vela e um vaso com flores para compor o altar; Livro de canto; laços rosa já com alfinetes, para cada pessoa participante; três voluntárias para leitura do jogral; cópias do jogral para cada leitora. Opcional: aromatizador de ambiente ou difusor com essência de rosas ou canela.
 

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

De acordo com o INCA – Instituto Nacional do Câncer, para o Brasil, estimam-se 59.700 casos novos de câncer de mama, para cada ano do biênio 2018-2019 (1). Em geral, sem considerar os tumores de pele não melanoma, esse tipo de câncer também é o primeiro mais frequente nas mulheres no país.

Desde a década de 1990, Outubro Rosa é uma campanha de conscientização que tem como objetivo principal alertar e informar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e do diagnostico precoce do câncer de mama.

O símbolo do câncer de mama é o laço cor-de-rosa. Ele é oficialmente utilizado em todo o mundo na campanha contra a doença. A utilização desse símbolo tem como objetivo alertar as mulheres para o autoexame e para o diagnóstico. Segue a importância do seu tratamento, bem como o apoio às mulheres vítimas do câncer de mama. O laço em si surgiu como símbolo de luta e de esperança.

Portanto, outubro é um mês oportuno para exercitar uma espiritualidade da saúde integral, podendo, por exemplo, trazer a unção com óleo como prática ritual no próprio espaço celebrativo comunitário. Aliada à Palavra e à oração, a unção é terapêutica e mediadora visível da graça de Deus (2). Neste sentido, a unção com óleo fortalece, encoraja e apoia a pessoa adoentada bem como sua família e a própria comunidade.

De forma prática o grupo MEL (Mulheres Evangélicas Luteranas) da Comunidade Bom Pastor, em Curitiba, começou em 2015/2016 um projeto chamado Almofadas do Coração. Este projeto tem como objetivo entregar almofadas para pacientes que fizeram cirurgia de retirada da mama. Estas almofadas trazem conforto e auxiliam na recuperação. O projeto cresceu para além do grupo, e hoje faz parte da RAD (Rede de Ações Diaconais) daquela comunidade. A partir desta experiência, estamos implantando este projeto em São José dos Campos/SP e arredores, executado pela nossa OASE do Vale do Paraíba. Como ação diaconal muito temos nos alegrado por poder servir e levar um pouco de alento a estas mulheres que passam por tão difíceis momentos em sua enfermidade. As almofadas são uma forma de ação. Tem muitas outras: lenços, doação de cabelos, máscaras, tipoias e apoio às famílias, etc. Importante é se fazer presente na vida comunitária com quem está doente e com sua família, mas também na sociedade em geral, testemunhando como igreja luterana o amor e o serviço às pessoas adoentadas.

PREPARO DO ESPAÇO

Na medida do possível, uma celebração ao final da tarde ou início da noite para poder aproveitar uma iluminação mais difusa e menos intensa. Providencie um chá de rosas ou frutas vermelhas e ofereça a quem chegar.

Se o numero de pessoas previsto permitir, disponha as cadeiras em círculo e, ao centro, no chão, tecidos rosa que evocam o Outubro Rosa. Sobre o tecido, a Bíblia, uma vela num castiçal, um vaso com flores – se possível, na cor de rosa. Espalhados sobre o tecido, laços rosa já com alfinetes, que serão entregues ao final para cada pessoa participante. Se o ambiente for num espaço menor, pode-se usar algum aromatizador ou difusor com essência de rosas ou canela para deixar um aroma agradável. O uso de música tocada ou reproduzida, de forma bem suave, enquanto as pessoas vão chegando favorece o clima intimista e tranquilizador. Assim, temos todos os sentidos prontos para a partilha.

 

                                                                    ENCONTRO COM O GRUPO                                                                       

Saudação e acolhida

Neste encontro, neste espaço de celebração, Deus vem até nós e nos acolhe com as palavras de Jesus que diz: venham a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei (Mt 11.28). Que Deus possa fortalecer, dar paz à mente e ao coração, enquanto aprendemos a entregar nossos caminhos a Ele. Assim, nos reunimos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Leitura do Salmo 142

Canto 102 (LCI) – Salmo 37.5: Entrega teu caminho ao Senhor

Oração

Deus conhece seu sofrimento e aflição. Ele sabe o que você está passando. Ele compreende sua dor e seu medo. Ele não abandonou você e nem se esqueceu de você. Jesus Cristo, o Filho de Deus, passou por grande sofrimento. E é Ele quem vem fortalecer e confortar você em sua aflição. Ouça sua voz! Ele compreende, mesmo que as circunstâncias façam com que você se sinta abandonada, Deus se mantém amorosamente fiel e fielmente amoroso. Ele ajudará se por acaso a fé fraquejar. Amém.

Canto 627 (LCI) – Por tua mão me guia

JOGRAL - ESTOU COM CÂNCER, E AGORA?

Este jogral traz fragmentos do relato de três mulheres que passaram pelo câncer de mama. Como se na antessala de um ambulatório médico ou na enfermaria de um hospital, estas mulheres desconhecidas partilham uma jornada comum. São mulheres e relatos reais (3) para a nossa aproximação e empatia. Na medida do possível, as leitoras podem se apresentar com lenço, chapéu e peruca, representando mulheres no processo da quimioterapia.

Apresentação do jogral 

(L1) O diagnóstico nem esperou passar o natal. Ali mesmo, nas vésperas fiquei sabendo. Estava com câncer de mama. Como assim? Fiquei apavorada. Um filme, vários filmes passaram pela minha cabeça. 

(L2) Eu estava no final do expediente, após mais uma reunião. O telefone toca. Do outro lado minha médica. Ela diz: precisamos conversar sobre o resultado de sua biópsia da mama. A resposta passou pela minha mente como um raio. A possibilidade de retirada da mama... após desligar o telefone, a confusão. Não conseguia raciocinar com clareza;

(L3) Eu fiquei sabendo meio ao acaso: tive um pico de pressão alta, fui para a emergência. Em meio aos exames cardiológicos, tudo normal. Uma simples pergunta: por que o pico de pressão? A resposta: podem ser três fatores. Obesidade, excesso de sal ou tumor. Antecipei as rotinas ginecológicas: não deu outra. Na eco mamária, o nódulo. Na biópsia, a malignidade.

TODAS: E agora? Como assim? Como é possível estar acontecendo isso comigo?

(L1) Como é possível estar acontecendo isto? Eu era jovem, tinha um grande amor à vida, aos meus filhos e à família. Adorava curtir as coisas belas. Será que tudo isto estava tão perto de acabar para mim?

(L3) Para mim, é como se meu anjo, o tempo todo, estivesse a me alertar: ao ir para a emergência, por algo sem aparente relação, eu sei que meu anjo cuidou de mim. As intuições necessárias nas perguntas a serem feitas e nos encaminhamentos necessários.

(L2) Neste primeiro momento, o que eu mais queria era ser abraçada por alguém. Ser acolhida. Queria ouvir a mim mesma enquanto falava de meus sentimentos. Mas não consegui falar de imediato. Eu não estava à vontade para dizer, neste momento o que estava se passando comigo. Aprendi que conhecemos muitas pessoas, mas em quem confiamos são poucas.

(L1) Eu fui tomada de uma sensação indescritível de impotência e fraqueza. Foi incrivelmente triste, terrível o que eu sentia.

TODAS: Será que Deus entende meus medos? Em quem posso confiar? O que será de mim e daquelas pessoas que amo?

(L3) Eu já reagi ao desafio querendo lutar, enfrentar o “alien” que havia se desenvolvido em mim. Ele não sabia com quem estava se metendo, pensei. 

(L1) Outra situação dificílima de assimilar e aceitar: a mutilação do meu corpo, e, principalmente na alma. Eu diria que a alma é marcada a ferro e a fogo, cicatriz que nunca mais nos deixa.

(L2) Um momento crucial no pós-operatório: a necessidade de que alguém próximo estivesse comigo. Despertar da anestesia e ver alguém de perto do coração é um alívio sem comparação.

(L3) Após a cirurgia, veio a quimioterapia. Desde o início sabia que o cabelo cairia, e comecei a cada etapa, a encurtar o comprimento, e combinei com a cabeleireira que iria raspar quando começasse cair. Quando fiz a primeira quimio, as companheiras de luta avisaram: no 15º dia começa a cair. E assim foi.

(L2) Eu desejava enfrentar a quimioterapia de cabeça erguida. Aprendi que não devemos erguê-la demais. Nem sempre a boa vontade e a força de vontade resolvem tudo. No meu caso, era alergia ao medicamento quimioterápico. A cada vinte e um dias eu ficava na expectativa se daria para aplicar outra dose. Junto ao tratamento contra o câncer, medicamentos antialérgicos. 

TODAS: O remédio contra o câncer é tão brutal quanto a própria doença.

(L3) O meu segundo pior momento foi raspar o cabelo. Não por vaidade, não por medo. Mas sim porque o câncer agora era visível. Agora quem me ver saberá. É uma invasão da privacidade, da nossa dor, da minha alma. Agora a doença é pública: “Ela tem câncer”. E, infelizmente, o estigma que a doença carrega ainda é grande e pesado.

(L1) Nesta hora a capacidade profissional do médico, sua preciosa amizade, cumplicidade e respeito foram fundamentais para me deixar, aos poucos, com esperança na vida e consequentemente, seguir adiante, lutando e tentando descobrir-me como ser humano que tem falhas, mas que também tem muitos acertos e que pode vencer esta situação.

(L2) Nos meses de internações aprendi, entre muitas outras coisas, que brigar com a própria vida, com o seu corpo não leva a nada. Claro que podemos expressar nossos sentimentos: sentimos raiva, indignação, angústia, frustração, dor física e psicológica, depressão, tentamos negar e barganhar nossa situação. Mas aprendi a enfrentá-los.

TODAS: Estar doente não é agradável, mas pode dar oportunidade para aprender novas verdades ou revisar as antigas.

(L1) O desejo de sumir. O chão sumiu, caí num buraco. Imaginava a cicatriz e como ficaria, mas quando a vi, fiquei paralisada. Com o tempo fui aprendendo a me reorganizar, aceitar o fato e reavaliei minha vida anterior ao câncer. Achei que ia morrer e agora, que vi que não morri, quero cuidar mais de mim.

(L3) Em 2018 fiz os procedimentos de retirada e reparadores. Mas, posso dizer: Graças a Deus, eu tive um câncer de mama. Mudou minha vida, prioridade, qualidade de alimentação de vida. Hoje sou melhor do que eu era três anos atrás. Em todo este processo a certeza que a luta seria muito grande, mas passaria. E que DEUS me guarda e guia cada passo dado, ele me guarda em Suas mãos.

(L2) Algumas mulheres conseguem processar o trauma e conseguem realizar transformações favoráveis em vários aspectos de sua vida, enquanto que outras ficam capturadas pelo trauma, deprimidas e sem prazer em viver.

TODAS: Meu maior consolo é saber que não sou de mim mesma, mas pertenço de corpo e alma ao meu fiel salvador, Jesus Cristo!

(L3) Nesses anos, conheci muitas pessoas pacientes, voluntárias, toda equipe médica e hospitalar. Vamos criando vínculos que só nós sabemos, nos entendemos e sabemos umas das outras. Algumas já estão junto ao PAI. Mas cada uma delas deixou em mim, um pouquinho de si, me faz ser mais forte a cada dia, me faz enxergar o Criador a cada momento do meu dia, e principalmente valorizar o PRESENTE que recebi, pela segunda vez. Hoje eu VIVO, e tento levar minha experiência para a família, as amizades e pacientes com quem convivo.

Canto 476 (LCI) – Como dar graças?
 

RODA DE CONVERSA

Experiências de vida e fé: Mulheres na vida e ministério de Jesus

Este é o momento para trocar impressões sobre o jogral. Na roda, as experiências podem ser partilhadas. Para mulheres, é uma oportunidade de fazer suas reflexões em voz alta, na caminhada conjunta. É o momento em que ouvindo umas às outras, percebem que não estão sozinhas no seu caminhar, e nem precisam continuar sozinhas. Que têm amigas do caminho. E que Jesus caminha com todas. Mulheres foram seguidoras de Jesus, o acompanhavam e o serviam. Jesus curou muitas mulheres. Na roda de conversa, é um bom momento para evocar passagens que trazem estas curas, num rememorar dos atos de Jesus: 

Lucas 4.38-44 (a cura da sogra de Pedro), 
Marcos 5.25-34 (a mulher com hemorragia), 
Marcos 5.35-43 (a ressurreição da filha de Jairo),
Mateus 15.21-28 (a cura da filha da mulher siro-fenícia).


Para fins de texto a ser explorado nesta celebração, enfatizo a cura da mulher com fluxo de sangue (Marcos 5.21-43). Dentro do sistema de pureza e impureza que se praticava na sociedade da época, aquela mulher, por causa de sua enfermidade era considerada impura e, portanto afastada do convívio. Sua doença era um estigma e a fazia sofrer muito. Gastou toda sua fortuna com médicos e tratamentos, o que a levou a pobreza: mulher anônima, doente, impura e pobre. O câncer também estigmatiza as pessoas, assinando num primeiro momento sentença de morte, ainda na atualidade.

Mas aquela mulher era obstinada e lutou com todos os recursos e possibilidades para não se render à marginalização. A sociedade a considerava indigna, mas ela não se deteve. Sua fé no poder curador de Jesus era tamanha que não mediu esforços para se aproximar dele e tocar-lhe o manto.

A cura realizada naquela mulher poderia ter ficado no silencio, mas Jesus quer mais: ele restaura a dignidade da mulher, reintegra-a na sociedade e a dignifica. Ao contar a Jesus toda a verdade, toda sua vida passada de sofrimento e marginalização, ela testemunha que com Jesus é possível uma vida nova e vida digna, apesar do sofrimento com a doença de tantos anos.

Como afirma Elsa Tamez, “o mais importante na sua atitude foi a luta, a resistência, a ousadia em tocar Jesus, sem jamais se dar por vencida. Sua fé a curou e, com isso, salvou-a do mal social que a mantinha reclusa” (4).

É importante que a roda finalize num clima positivo, pois certamente haverá relatos de muito sofrimento, angústia, medo e aflição. Importante apontar para “a paz que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus” (Fp 4.7) no sentido de animar a caminhada em busca do restabelecimento da saúde.

Canto 166 (LCI) – O Senhor é a minha força

Oração final + Pai Nosso

Agradecemos Senhor Jesus, por ir à nossa frente como o bom pastor. Por nos levar junto, mesmo quando temos medo do futuro. Agora podemos lhe entregar este medo, porque sabemos que nos acompanha em cada novo dia. Senhor, você sabe qual é o nosso caminho, nele nos firmamos e isto nos basta. Sabemos que nos conhece a fundo e não nos abandona. Agradecemos por esse amparo e esse conforto. Agradecemos pela firmeza e por tudo que dá. Agradecemos sua fidelidade, ontem, hoje e sempre. (Seguir com motivos de intercessão e finalizar com a oração do Pai Nosso)..

Entrega do laço rosa

Entregar os laços rosa como símbolo da luta contra o câncer de mama. Enquanto é lida a bênção das mulheres, cada uma coloca na outra o laço rosa.

Bênção das mulheres

Que o Deus de Eva te ensine a discernir entre o bem e o mal.
Que o Deus de Agar te console e a todas as mulheres que se sentem sozinhas no deserto da vida.
Que o Deus de Miriam te faça instrumento de libertação.
Que o Deus de Débora te conceda a audácia e a coragem de lutar pela justiça.
Que o Deus de Ester te conceda fortaleza para enfrentar os poderosos em favor do povo exilado.
Que o Deus de Maria de Nazaré abra teu coração para que possas receber com alegria a semente daquele que vive para sempre.
Que Jesus, que falou à samaritana tudo o que ela tinha feito, te faça evangelizadora do teu povo.
Jesus, que curou a mulher encurvada, te liberte juntamente com todas as mulheres oprimidas pelas tradições religiosas e culturais.
Jesus, que deixou ungir a cabeça por uma mulher, te conceda ser profetiza para reconhecê-lo como Senhor e Messias.
Jesus, o amigo de Maria Madalena, te envie e, como sua apóstola, possas anunciar a mensagem de libertação a todos os povos.
Que o Espírito te consagre para que, em Jesus Cristo, possas anunciar boas notícias aos pobres e a liberdade aos presos.
Em nome de Deus que é, que era e que sempre será conosco e com seu povo. Amém.

Canto 289 (LCI) – Benção da Irlanda


NOTAS: 1) Disponível em:  p. 33. 2) HAACKE, Mauricio Roberto. Unção com óleo. In: Tear – Liturgia em Revista. n.13, mai. 2004, p. 13-15. 3) HERTEL, Hildegart. Espiritualidade e crise existencial na vivência do câncer. 2ª ed. São Leopoldo: Oikos, 2008. BONAZZI, Lucy Ghirardini. Resiliência em mulheres com câncer de mama. In: HOCH, Lothar C.; ROCCA L. Susan M. Sofrimento, Resiliência e Fé: implicações para as relações de cuidado. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2007. p. 91-101. GERLINGER, Lucy Elaine. Depoimento dado a Rosane Philippsen em 29 set. 2018. 4) TAMEZ, Elsa. As mulheres no movimento de Jesus, o Cristo. São Leopoldo: CLAI/Sinodal, 2004. p. 60.


 

Sob os auspícios da
Coordenação de Gênero, Gerações e Etnias / Secretaria da Ação Comunitária
Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil


 

 


 

 


 


 

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