Oséias 5.15-6.2

Auxílio Homilético

21/03/1993

Prédica: Oséias 5.15-6.2
Leituras: Romanos 8.1-10 e Mateus 2º.17-28
Autor: Friedrich Erich Dobberahn
Data Litúrgica: 4º Domingo da Quaresma
Data da Pregação: 21/03/1993
Proclamar Libertação - Volume: XVIII


Experiências com uma oração rechaçada

Experiência I — Como se faz uma confissão de culpa?

Na época da Quaresma, a confissão de culpa ocupa um lugar de destaque durante o culto. A perícope prevista para o 4° Domingo da Quaresma de 1993 confronta-nos com a pergunta em que medida nossa liturgia penitencial e nossas confissões de culpa realmente trabalham a culpa.

Geralmente reagimos desmaterializando nossa vida espiritual e permitindo que o arrependimento, a conversão e a nossa vida em Cristo ocorram a nível de 'alma' e de 'coração', dentro da esfera privada do cristão particular. Assim também os acontecimentos de nosso culto acabam se dirigindo à 'alma' e ao 'coração', porque este é o único âmbito em que podemos esquecer nossas divisões e conflitos atuais, nossa falta de possibilidades ou nossa falta de vontade, e onde nos comportamos como se fôssemos verdadeiramente unos, o Corpo de Cristo e a comunhão dos santos. (Traitler, p. 62).

1. Detalhes exegéticos

Seguindo H. W. Wolff (Dodekapropheton, pp. 148ss.; Oseas hoy, pp. 117ss.), vejo no texto de Os 5.15-6.6(-ll) a seguinte estrutura, considerando a delimitação da perícope (Os 5.15-6.2) fragmentária:

1) Em Os 5.15, o profeta anuncia o afastamento de Javé do Seu povo até que o mesmo reconheça a sua culpa e busque novamente o Seu rosto.

2) O povo, assustado, reage; dentro de um ato cúltico, acompanhado por sacrifícios (Os 6.6; cf. Sl 51.18s.), formula-se uma oração penitenciai: piedosa, comovente e cheia de confiança (Os 6.1-3).

Por añadidura, está llena de confianza basada en la fe en la ayuda de Dios. En los días oscuros de la necesidad, se cuenta seguramente con el retorno al bien como se puede contar en la oscura noche con la hermosa aurora, y como en el seco verano palestino se puede contar puntualmente con las primeras lluvias en el otoño tardío o con las últimas lloviznas en la primavera (v. 3). Si, se piensa que la catástrofe del año 733 [a guerra siro-efraimita; cf. Bright, pp. 365ss.], a la que corresponden probablemente estas palabras, es comparable a una grave lesión que aparece en un momento y que postra en cama a un hombre, la cual, sin embargo, no es mortal cuando el paciente, después de dos o tres días, se puede levantar de nuevo (v. 2). Tanta confianza se muestra en esta oración. (Wolff, Oseas hoy, p. 118).

3) Os discípulos do profeta, espectadores da cena, anotam esta oração (se não foram redatores posteriores que citam aqui uma típica oração penitencial da época).

4) Os discípulos (ou os redatores posteriores) transcrevem também a réplica imediata de Javé (Os 6.4-11): o não divino a este tipo de oração. A delimitação da perícope, Os 5.15-6.2, ignora, indevidamente, este ato essencial do drama.

5) Javé constata que a conversão do povo não é verdadeira e anuncia, por isto, o juízo (Os 6.4ss.):

Pero esta piadosa oración, salpicada de frases bíblicas, es rechazada. Se le ha mostrado al profeta. Pero él solo puede decir que Dios se cruza las manos (v. 4a): ' Qué voy a hacer de ti, Efraím? Qué voy a hacer de ti, Judá?' El ama a su pueblo y podría otorgarle Io mejor. El le llevó sin duda a la necesidad para hacerle encontrar una nueva vida. Pero esta nueva vida debía ser algo más que un par de palabras piadosas pronunciadas de prisa y una fórmula ortodoxa que se recita en un momento. 'Vuestra piedad es como lluvia mañanera, como rodo matinal, pasajero' (v.4b). El conoce la manera de ser, mudable y versátil, de su gente. Y puesto que él trata de renovar a su pueblo con toda su vida, por ello no le permite llegar a su felicidad según sus deseos, sino que trata, con el rechazo de su oración, de sujetarlo más junto a si. (Wolff, Oseas hoy, p. 118)

6) Os motivos, pelos quais Javé rechaça a oração de Os 6.1-3, são os seguintes:

a) A convencionalidade da oração é bastante acentuada (cf., p. ex., Dt 32.39; Jó 5.18, etc.). Tal convencionalidade permite que o pecado (Os 6.7ss.) permaneça no anonimato e não se verbalize (cf. P v 28.13).

b) É significativo que a oração não se dirija diretamente a Javé. O povo não busca a face de Deus (cf. Gn 4.6s.!). Evitando um contato direto com Ele (cf. Os 5.4), fala-se sobre Ele (na 3a pessoa) em vez de com Ele (Os 6. Iss.). Israel não se rende.

c) Parece que a volta para Javé (Os 6.1) refere-se apenas ao âmbito do culto e não às cotidianas implicações éticas da fé javista (Os 6.6; cf. 8.llss.). Não se trabalha a culpa.

d) A oração caracteriza-se pelo pensamento positivo, o que se manifesta pe¬la certeza exagerada de ser salvo ao terceiro dia (= muito em breve; Os 6.2). Pa¬ra tanto, o ato cúltico da liturgia penitenciai em si já é considerado suficiente. Mientras que Israel, debido a su culpa, no establece contacto con él, hace manifestaciones de confianza. (Wolff, Oseas hoy, p. 119)

e) Falta, em tudo isto, uma verdadeira confissão de culpa, bem como um si¬nal claro e concreto de arrependimento (Os 6.4ss.; cf. 7.14ss.; 8.2ss.;12.1). Israel e Judá não mudarão realmente a sua vida (Os 6.4b; cf. 10.2; 11.7).

Si Dios esperaba la oración de su pueblo, esperaba asimismo que reconociera su culpa (5.15) (...). Pero como Dios quiere la renovación de toda la vida, por eso debe expresarse Io que separa ali que ora de Dios y de los hombres. 'Vuestras iniquidades han hecho una separación entre vosotros y nuestro Dios' (Is 59.2). Así debe el profeta presentarles en nombre de Dios Io que está en abierta contradicción con las oraciones auténticamente piadosas. El recuerda una serie de sucesos que deben ser conocidos desgraciada-mente por sus oyentes. Nombra ciudades como Adamá, en la cuenca del Jordán, o como Galaad y Siquem, en las cuales debió haber tenido lugar algún hecho cruel. A saber, la apostasía hacia los usos cultuales de los gentiles y el abierto desprecio de la palabra de Dios, la conducta siniestra de algunos círculos sacerdotales contra sus adversarios, a los cuales se pretendía mentalizar. En pocas palabras: Dios no seria Dios si pretendiera llevar a buen destino a una vida tan pecadora. (Wolff, Oseas hoy, p. 119)

2. Meditação

Antes do culto: Pensamentos e preocupações! A prédica já está pronta. Falia ainda uma bonita oração ... Enfrento dificuldades justamente na formulação diurna confissão de culpa. O que fazer? (Recorrer ao Manual do Culto?)

Fazer uma oração faz parte da minha profissão. Tenho de fazer orações em virtude do meu ofício, mesmo estando vazio cá dentro (...). Sem querer e sem repará-lo, che¬go a ser pouco sincero. Acho, porém, que as pessoas gostam disto; e eu as ajudo (...). Por outro lado: por que não daria para confessar: 'Prezada Comunidade, peço descul¬pas, mas hoje, hoje eu não estou em condições? No entanto, nunca tive coragem para isto! Será que já sou escravo do meu papel? Quando é desejado, viro palradeiro de fra¬ses piedosas. Que horror! Será que eu teria que me recusar a fazer justamente tal ora¬ção que as pessoas estão esperando de mim? (Marti, p. 31)

Nem sempre me sinto em condições, pois não vivo reconciliado com Deus e com meus irmãos e minhas irmãs:

Quero viver para mim mesmo, tenho direito a mim mesmo, a meu ódio e cobiça, minha vida e morte. Mente e carne do homem estão inflamadas de soberba, pois justamente em sua carne é que o homem quer ser igual a Deus (...). Apresentar-se ao irmão na qualidade de pecador é ignomínia quase insuportável. (Bonhoeffer, Vida em comunhão, p. 79).

Sinto como é fácil esconder-se com sua culpa atrás da linguagem especial de orações bonitas, montadas à semelhança de Os 6.1-3, em vez de trabalhar sua culpa.

Não compreendo como as pessoas, a cada uma de suas inúmeras orações, conseguem juntar o mínimo necessário de sinceridade e afeto. Todas as forças do ser humano não chegariam para justificar as vãs repetições de uma única pessoa, entregue ao vício da tagarelice (...). Quem leva a sério sua oração, este teria que passar muitas semanas, encorajando-se antes para fazer uma única oração (...). Se eu pudesse crer em Deus, nem de longe poderia orar a Ele sem mais nem menos. Orar a Ele, sempre parecer-me-ia como o incômodo mais desavergonhado a Ele, como o pecado mais repugnante. Antes de cada oração, eu intercalaria um tempo extenso de penitência. (Canetti, p. 12)


O culto passou. Peguei um texto qualquer do Manual. Estou, agora, sozinho, vivenciando um pesadelo ...

Agora, a sala era verde novamente (o verde desconsolador de uma tinta a óleo sebenta); o púlpito, o harmônio, os bancos com os nomes e corações, os quatro evangelistas de Dürer, as quatro janelas (verticais e sempre escuras), um porão em baixo da igreja, ao lado da kitchenette da OASE. O pregador estava lá sentado, cobriu, com uma mão, sua testa, seus olhos, seu nariz; acariciava seu rosto, curvou a cabeça e falou: 'Senhor!' Apalpava seu rosto e não sabia mais se estava rezando ou não; na sua direita, segurava a Bíblia (ela não tinha peso na sua mão e quase caiu). Com os dedos, o pregador apalpava os globos dos olhos debaixo das pálpebras, passava sobre o nariz, e não sabia mais se ainda estava rezando ou não, nem acrescentou um 'Amém!' Mas disse, mais uma vez,'Senhor!' — 'Senhor, manda alcoólatras, prostitutas, ladrões, para que eu possa levá-los a Ti!' Tal oração havia aprendido no seminário. Agora, a sua oração era apenas: 'Senhor!', pois nenhum dos seus ouvintes era menos piedoso do que ele mesmo. Ele estava aqui somente para dizer: 'Piedosos são! Tão piedosos quanto os piedosos!' Falava para rostos róseos, para almas cheias de alegria e parábolas; agitava nas suas mãos aquele livro preto, a Bíblia, exclamando: 'Aqui, aqui dentro está a vida!' Abanavam a cabeça, como é costume dos alunos de destaque, tendo os rostos iluminados: 'Sim, sim, certamente, querido senhor pregador! (Bichsel/Hammer, pp. 20s.)


No entanto, confessar a culpa nada tem a ver com uma vida espiritual desmaterializada e com sua linguagem especial; tem a ver, sim, com a descoberta de que o Reino de Deus se revela mediante formas muito concretas e materiais; tem a ver com a aceitação de ser justificado por Deus, com a alegria da reconciliação e com um desprendimento de si mesmo (cf. Mt 13.44ss.):

A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o homem sai e vende com alegria tudo quanto tem; a pérola preciosa, para adquirir a qual o comerciante se desfaz de todos os seus bens; o governo régio de Cristo, por amor do qual o homem arranca o olho que o escandaliza; o chamado de Jesus Cristo, ao ouvir do qual o discípulo larga as suas redes e o segue. (Bonhoeffer, Discipulado, p. 10).

3. Perguntas que permanecem

?Qué es lo que dice Dios a nuestra oración? Aquí se mide nuestra oración personal. ¿Qué es lo que debo hacer de ti?', pregunta Dios. Porque ¿qué papel desempeñan en nuestra oración, junto a nuestros deseos, los aspectos oscuros de nuestra vida? Lutero nos propone, en su cuádruple 'coronilla' para la lectura de la Escritura, junto a las preguntas acerca de nuestro agradecimiento y nuestros ruegos, también las preguntas que siguen: ¿Qué culpa hay que confesar?' y '?Qué es lo que debo hacer de nuevo?' Como comunidad debemos preguntarnos:' ¿Qué es lo que dice Dios sobre la oración de la cristiandad? (...) ¿La deseamos solamente de un modo confiado? ¿O medimos nosotros, en nuestra oración, nuestras acciones con su voluntad? ¿Es nuestra oración (...), por lo general, un sonido de palabras vacías o escuchamos nosotros en esa oración las indicaciones y orientaciones de Dios? (Wolff, Oseas hoy, p. 120)

Experiência II — O triste happy end da síntese

Destaca-se, justamente na época da Quaresma, também um outro aspecto da perícope. Parece que Os 6.2 tematiza a ressurreição dos mortos (cf. a leitura bíblica, Mt 20.17ss.). Dever-se-ia levar em conta o fato de que a comunidade ouve o texto desta maneira: como algo que tem a ver com a ressurreição de Jesus Cristo ao terceiro dia (cf. Mc 8.31; 9.31; 10.34 par.; Lc 24.7; I Co 15.4). A prédica, portanto, deve à comunidade uma breve explicação a respeito disto.

1. Detalhes exegéticos

1) Os 5.14 e 6.1 não falam da morte, mas, sim, de ferimentos.

2) De um modo geral, o piel do verbo hebraico hyh (Os 6.2a) não significa fazer ressurgir dos mortos, mas, sim, manter em vida (cf. Gn 12.12; )x 1.17; Nm 31.15; Dt 6.24; Js 9.15; Is 7.21; Jr 49.11) ou trazer a vida de volta [a um doente] (cf. SI 30.4 e Köhler/Baumgartner, p. 297a).

3) Neste sentido, também o hifil do verbo hebraico qwm = fazer levantar (Os 6.2b) não tematiza a ressurreição dos mortos. Fala, sim, da cura de um doente (cf. SI 41.4,11 e Köhler/Baumgartner, p. 1017b).

4) Os 6.2c (e viveremos diante d'Ele) refere-se à ideia de que a morte separa a pessoa de Javé (cf.Jó 7.21; SI 6.6; 30.10; 88-llss.; 115.17; Is 38.11,18s.).

5) Depois de dois dias (Os 6.2a) // ao terceiro dia (Os 6.2h) designa, de modo idiomático, um período bem curto. Devido aos graves ferimentos (Os 5.14 ; 6.1), a cura do povo, portanto, é considerada milagre.

6) De uma ressurreição ao terceiro dia falam alguns mitos do Antigo Oriente. Trata-se, no entanto, de divindades de vegetação (Osiris, Tammuz, Inamia, Ha'al. cf. Nötscher, pp. 138ss.; 356ss.) e não de seres humanos.

7) A cura não é considerada individual, mas coletiva (à semelhança da recriação do povo em Ez 37.1-14 pelo Espírito; cf. Gn 2.7; Jó 33.4; Sl 104.29s.).

8) O Antigo Testamento, aliás, desconhece a ideia da ressurreição individual conforme o modelo de l Co 15.12ss. Trechos bíblicos como l Rs 17.17ss.; 2 Ks 4.29ss.; 13.21 relatam sobre o milagre do reavivamento de um morto, enquanto que outros trechos como Dt 32.39; l Sm 2.6; Sl 9.14; 30.3s.; 33.19; 71.20; 88.4ss., etc. interpretam doença, fome, cativeiro e perseguição como experiências de morte.Como primeiro testemunho bíblico para a ressurreição individual vale 2 Mc 7.9.

Resultado: Os 6.2 não fala da ressurreição (individual) nem faz uma alusão profética à ressurreição de Jesus Cristo ao terceiro dia, testemunhada pelos evangelistas e Paulo. Quem gosta de pregar sobre Os 6.2 terá que pregar sobre a cale za exagerada de salvação, dando uma explicação de como o número três se relaciona com este tipo de graça barata.

2. Meditação

No texto Os 5.15-6.6 destaca-se, sem dúvida, o número três, número este pelo qual o profeta caracteriza a certeza exagerada de salvação. Recapitulamos: muito em breve (= dentro detrês dias), assim o povo pensava, realizar-se-á o milagre da sua cura, ou seja, a sua restituição após as destruições e devastações inéditas da guerra siro-efraimita (cf. Dobberahn, pp. 275s.). Parece que o povo confiava mais no princípio de uma graça barata ao terceiro dia do que no arrependimento e na renovação de sua vida (cf. Os 6.6).

Graça barata significa a graça como doutrina, como princípio, como sistema (...). A graça barata é, por isso, uma negação da Palavra viva de Deus. (Bonhoeffer, Discipu¬lado, p. 9)

Um: tese. Dois: antítese. Três: síntese. A filosofia de G. W. F. Hegel também trabalha com o número três. Relacionado com o desmoronamento do socialismo praticado no Leste Europeu, o texto da nossa perícope nos convida a refletir sobre o seguinte: será que existia também entre nós uma certeza exagerada de salvação, uma confiança não menos exagerada na graça barata pelo processo dialético da história?

Digo también que en vísperas de la revolución francesa, cuando comenzaban a verso las primeras señales de sublevación popular, los revolucionarios en Paris decían: 'El pan se está levantando.' Se referían a la masa del pueblo que se estaba levantando, pero también lo veían como una masa de harina: y la revolución era el gran pan. Todavía podemos decir nosotros que el pan se está levantando, donde quiera que el pueblo se levanta. Es el universo entero el que se levanta impulsado por la evolución y la revolución, hasta llegar a su perfección que es el reino de los cielos como dice san mateo, o reino de Deus como dicen los otros evangelistas, o reino del amor. Y éste es también el mismo pan eucarístico que nosotros levantamos en el altar, 'fruto de la tierra y del trabajo del hombre', como décimos en el ofertorio, y lo ofrecemos a Dios en representación de todos los frutos de la tierra y del trabajo. (Cardenal, p. 166)

Assim diria Karl Marx: em sua rebelião antitética, o proletariado tem ao seu lado a vontade da história, a síntese. A história dos antagonismos — escravidão, feudalismo, trabalho assalariado burguês, comunismo — revela-se, desta maneira, como desdobramento histórico de um princípio salvífico onipresente e de eterna validade. Apesar da sua crítica a G. W. F. Hegel (Devemos mudar a história em vez de interpretá-la!), também K. Marx viu a salvação sendo veiculada ainda, em última instância, por este princípio, e, não, unicamente, pelas decisões éticas em favor das vítimas da história.

A esta altura, Os 6.4 formula o estopim do conflito, alertando para a pecaminosidade do ser humano. A suposta atuação infalível do princípio marxista barateia a salvação, dissolvendo a pecaminosidade do ser humano no processo dialético da história. A questão da culpa não é mais trabalhada, quando as ações humanas recebem a sua justificação por deuses ex machina, ou seja, por princípios, teleologias e sínteses que, por sua vez, promovem uma certeza exagerada de salvação.

Entretanto, inteligência, fantasia, compreensão e amor ao próximo, através dos quais se deve agir, não podem ser propriedade de uma doutrina; pertencem ao ser humano. Eliminar-se-iam, de outro modo, as questões de responsabilidade, culpa e pecado. O ser humano, preso dentro de um pensamento positivo, teria sua existência apenas para executar, realizar e fazer uso de diretrizes dogmaticamente pré-formuladas. Com vistas às mudanças na história e aos desafios cotidianos, não haveria mais obrigação de tomar uma decisão ética própria, nem de verificar a própria relação pessoal com a doutrina. Os problemas seriam simplificados pecaminosamente. Na convicção da infalibilidade da doutrina, o outro tornar-se-ia objeto de um objetivo que, a todo o transe, deve ser promovido e realizado (cf. Lögstrup, pp. 98ss., 123ss.).

Oséias, por sua vez, julga o pecado como grandeza incomensurável na história de Deus com o Seu povo. Para ele não existiria o princípio da graça barata ao terceiro passo. Cada autojustificação da humanidade mediante supostas infalibilidades de quaisquer esquemas doutrinários levaria, para ele, ao pecado. Em trechos como Os 7. l, 13; 8.5, etc. já se anuncia, ao contrário, a necessidade do esforço do Gólgota.

3. Perguntas que permanecem

É nesse momento, de hora baixa para o socialismo internacional (...), que brotam novas vozes. Existem [em Cuba] algumas lideranças nas comunidades, pastores e estudantes de Teologia que falam em autocrítica e conversão. Dizem que muitas vezes é somente depois dos fracassos que somos capazes de reconhecer os erros, os dogmatismos, os autoritarismos e as falsas seguranças (...). Por isso, esses tempos difíceis são também tempos para o auto-exame, para correções com coerência e não apenas para acordos vazios (...). É uma hora difícil para as ideias revolucionárias, mas não deixa de ser uma hora da História da Salvação. A História segue adiante, apesar dos pesares, apesar das evidências, por caminhos que só Deus conhece (...). Contudo, é preciso também fazer acompanhar a palavra profética que diz que sempre que não há total fidelidade e obediência a Deus, a História pode se deter. Por isso, esses tempos são também tempos de penitência, em que se deve admitir que há momentos em que o Senhor esconde de nós seu rosto. (Giese, p. 229; cf. Os 5.15)

III — Subsídios litúrgicos

1. Hino inicial: Hinos do povo de Deus (= HPD) n° 229.

2. Intróito: Sl 81.9-14.

3. Confissão de culpa: ver Manual do Culto.

4. Anúncio da graça: Os 10.8s.

5. Oração de coleta: fazendo uso de Sl 51.12-14.

6. Leitura bíblica: Rm 8.1-10 (Experiência I); Mt 20.17-28 (Experiência II).

7. Hino antes da prédica: HPD n° 152.

8. Hino depois da prédica: HPD n° 150.


9. Oração final: fazendo uso de Os 14.2-10.
10. Hino final: HPD n° 185.6 + 8.

IV — Bibliografia

BICHSEL, P. / HAMMER, W., Die Sprache der Verkündigung im Prisma moderner Literatur, in: ROLOFF, J. (ed.), Die Predigt ais Kommunikation, Stuttgart, Calwer Verlag, 1972, pp. 11-27.
BONHOEFFER, D., Discipulado, São Leopoldo, Editora Sinodal, 1984.
BONHOEFFER, D., Vida em Comunhão, São Leopoldo, Editora Sinodal, 1986.
BRIGHT, J., História de Israel, São Paulo, EP., 1985.
CANETTI,E., Die Provim des Menschen, München / Wien, Cari Hanser Verlag, 1973. CARDENAL, E., El Evangelio en Solentiname, v. I, Managua, Departamento Ecuménico de Investigaciones, 1979.
DOBBERAHN, F. E., A confissão no Deus da vida, in: KILPP, N. & WESTHELLE, V. (ed.), Proclamar Libertação XV, São Leopoldo, Editora Sinodal, 1989, pp. 273-281.
GIESE, N., Cuba! Todo tiempo futuro tiene que ser mejor!, in: Estudos Teológicos 31°221-230, São Leopoldo, EST, 1991.
KÕHLER & L. BAUMGARTNER, W., Hebräisches und Aramãisches Lexikon zuni Alten Testament, 3a edição, Leiden, E. J. Brill, 1967ss.
LÖGSTRUP.K. E., Die ethische Forderung, Tübingen, J. C. B. Mohr (Paul Siebeck), 1968.
MARTI, K., Für eine Welt ohne Angst, Stuttgart, Radius Verlag, 1981
NÖTSCHER, F., Altorientalischer und alttestamentlicher Auferstehungsglauben, Darmstadt, Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1970.
TRAITLER, R., A dimensão pública do culto cristão, in: DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DA FLM (ed.), O Culto Luterano — Material de Estudo, São Leopoldo, Editora Sinodal, 1982, pp. 61-74.
WOLFF, H. W., Dodekapropheton l — Hosea [BK XIV, 1], Neukirchen Vluyn, Neukirchener Verlag, 1976.
WOLFF, H. W., Oseas hoy
 


Autor(a): Frierich Erich Dobberahn
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Quaresma
Perfil do Domingo: 4º Domingo na Quaresma
Testamento: Antigo / Livro: Oseias / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 15
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1992 / Volume: 18
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 13539
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