No início da primavera, numa manhã fria, ouvi dois experientes agricultores conversando na rua. Um deles, ouvindo um sabiá cantar, comentou com o seu amigo, com um ar de total certeza: “Ouça, meu amigo, já tem sabiá cantando, não vai mais gear este ano!” - “É verdade! – completou o amigo, cordialmente”.
Naquele mesmo dia, ao final da tarde, quando novamente havia caído bastante a temperatura, comentei aquela conversa com outro agricultor, o qual me disse em tom de brincadeira: “Olha, pastor, os sabiás já não sabem mais nada! Estes dias eu ouvi um sabiá cantando e não é que ainda caiu uma tremenda de uma geada”!
Que coisa! – pensei comigo. Será que os sabiás estão loucos, ou os agricultores já não se entendem mais?!
Antigamente, o ser humano não tinha outro jeito para fazer previsões a respeito do tempo. O único jeito era observar os sinais da natureza. E, com certeza, estes sinais indicavam alguma tendência do clima, senão estas técnicas não teriam se preservado até os dias de hoje.
O ser humano moderno, no entanto, tem outros recursos para prever o comportamento do clima, recursos que estes que já estão presentes também no meio rural através da internet. “Pobres sabiás, estão ficando fora de moda! Ainda bem que existem leis ambientais rígidas, senão iriam todos para a panela!”.
Mas não nos enganemos muito com os recursos da modernidade. Mesmo usando satélites para acompanhar o fluxo das nuvens, a direção e a intensidade dos ventos, quantas vezes, os meteorologistas já fizeram previsões do tempo completamente erradas?!
Volta e meia, temos notícias de catástrofes ambientais, que ceifam a vida de pessoas nas enchentes, que arrasam cidades, levam pontes e até cemitérios água abaixo. E, nem sempre, houve previsões a respeito destas catástrofes! Onde está a sabedoria do ser humano moderno?
O ser humano moderno cria muitas coisas bonitas, é verdade. Comunica-se com uma velocidade incrível, mas, por outro lado, perde a capacidade de aquietar-se, de ouvir os sons da natureza, o cântico dos pássaros, que anunciam a chegada de uma nova estação.
A vida moderna agita as pessoas de tal modo que elas perdem a paz interior, perdem o sossego, perdem o sono. Correndo o tempo todo, as pessoas ficam cada vez mais ansiosas e estressadas. Ao invés de sentir paz e alegria em seu interior, ouvindo o gorjeio dos sabiás ao amanhecer, muitas pessoas acordam irritadas com seu canto, e assim começam mal o seu dia.
Um dos legados mais antigos e profundos que recebemos de nossos antepassados é a confiança em Deus. A fé na providência divina transmite-nos calma, segurança e tranqüilidade; transmite-nos igualmente sabedoria e discernimento necessários para podermos enfrentar os “desertos” de nossa vida. Assim nos diz a sabedoria bíblica: “O Senhor, teu Deus, sabe que andas por este grande deserto” (Dt 2.7).
P. Cesar Antonio de Neiverth
Quinze de Novembro - RS