Os quatro pilares da Reforma

Meditação

03/10/2008

Meu Deus, eu confio em ti. Salva-me da vergonha da derrota” (Salmo 25.2)

Ninguém gosta de sofrer derrotas. Ninguém tem prazer no fracasso. Mas não é assim que a vida é feita de pequenas vitórias e também de pequenas derrotas? Sim, as derrotas e os fracassos também fazem parte da vida. Nem tudo é vitória. Nem todos os nossos sonhos e planos se concretizam. E, além do mais, as derrotas e os fracassos nos ensinam, nos ajudam a crescer e a amadurecer. A árvore que já sofreu com tempestades e vendavais, torna-se mais forte e resistente. Por isso não precisamos desesperar com as pequenas derrotas e com os pequenos fracassos na vida do dia-a-dia. É a cruz, que também tem lugar na vida de qualquer pessoa cristã.

O Salmo 25 se refere a um outro tipo de derrota. Trata-se da derrota diante de Deus. Trata-se da derrota no caminho da fé. Trata-se do fracasso como Igreja de Deus, como Casa de Deus. Aí, sim, precisamos rogar com fervor: “Meu Deus, salva-me da vergonha da derrota”.

A Igreja de Deus precisa ser sustentada por pilares fortes para não fracassar, para não sofrer a vergonha da derrota. Para nós, luteranos, a expressão “os quatro pilares da Reforma” é bem conhecida. Lutero, durante toda a sua trajetória de luta pela renovação da Igreja, insistiu muito nesta idéia. Quais são os quatro pilares que sustentam a Igreja Cristã? Graça, Fé, Escritura e Cristo. Lutero e seus companheiros reformadores diziam, em latim: “Sola gratia, sola fide, sola Scriptura, solus Christus”. São estes pilares que sustentam a Igreja. Sem estes pilares a Igreja Cristã desmorona, fracassa e acaba em ruínas.

Leitura do Salmo 25. 1-8

No texto bíblico acima os quatro pilares que nos sustentam como Casa de Deus estão bem visíveis. São eles que nos ajudam a não fracassar, a não sofrer a vergonha da derrota. Vejamos:

1) Nos versículos 6 e 7 temos um pedido de perdão pelos pecados cometidos desde a mocidade. Esta atitude humilde de pedir perdão significa colocar-se nas mãos graciosas de Deus. Somos salvos unicamente pela graça de Deus: “Pela graça sois salvos mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2.8-9). Reconhecemos que somos totalmente dependentes da graça, da bondade e da misericórdia de Deus. Não temos mérito nenhum diante de Deus. “Perdoa os meus pecados!”. Esta atitude humilde, de nossa parte, é que nos sustenta diante de Deus. Quem acha que pode ser salvo por méritos próprios já fracassou diante de Deus. Quem acha que pode dispensar a graça divina já é um derrotado diante de Deus. Por isso: SOLA GRATIA! É este um dos quatro pilares que sustentam a Igreja de Cristo.

2) Nos três primeiros versículos do Salmo 25 aparece a palavra confiança: “Meu Deus, eu confio em ti” (v. 2). Ter confiança em Deus é o mesmo que ter fé. Ora, de acordo com Lutero, a fé é mais um dos quatro pilares que sustentam a Igreja. SOLA FIDE! “O justo viverá por fé” (Rm 1.17). Fé é colocar-se com toda a confiança nas mãos graciosas de Deus. É proceder como uma criança que se joga nos braços da querida mãe ou do querido pai, com a certeza de que será amparada com amor e com cuidado. Salvação pela graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo. Reconhecemos que na aceitação do batismo como dádiva de Deus está a expressão maior de que o justo vive por fé. Quem não vê no batismo uma dádiva de Deus, mas uma conquista humana, já fracassou diante de Deus. Pois por mérito próprio nenhum ser humano chegará ao ponto de poder dizer: “Agora eu mereço ser batizado”. Batismo é dádiva divina que aceitamos por fé.

3) Nos versículos 4 e 5 aparece a palavra ensino: “Ó Senhor, ensina-me os teus caminhos!”. Esta prece nos fala da importância da palavra de Deus na vida de quem crê. SOLA SCRIPTURA! “Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus” (Mateus 4.4). Na Igreja Cristã o ensino deve ter um lugar especial. E a Escritura está acima de tudo: acima da tradição, das leis humanas, das decisões e da estrutura da Igreja. Somos sempre discípulos a aprender do Mestre. Este é o terceiro pilar que sustenta a Igreja. Quem se considera conhecedor bastante das Sagradas Escrituras, já fracassou diante de Deus. “Senhor, ensina-me os teus caminhos”. Somente pela Sagrada Escritura. E a Sagrada Escritura precisa ser aprendida para poder ser ensinada. Não é de um dia para outro que alguém pode tornar-se “mestre” da Escritura. Lutero foi exemplo de disposição para aprender, até os últimos dias de sua vida, apesar de ter o título de Doutor em Teologia.A oração do Pai Nosso, os mandamentos e outras partes principais da Bíblia eram tema de estudo todos os dias. Qualquer grupo religioso que se atreve a considerar-se conhecedor definitivo da Sagrada Escritura já é uma casa em ruínas.

4) A palavra salvação aparece duas vezes: nos versículos 2 e 5. Esta palavra nos lembra o Salvador, que é Jesus Cristo. SOLUS CHRISTUS! Jesus é o único Salvador. Não há outros mediadores entre Deus e o seu povo. Todos nós somos humildes servos a serviço do Salvador. Somente Cristo, o Salvador. Este é o quarto pilar da Reforma. “Ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Co 3.11). Toda a interpretação da Sagrada Escritura, todas as tradições e ensinamentos da Igreja precisam passar pelo crivo do evangelho de Cristo: “Porquanto há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos” (1.Timóteo 2. 5-6). Qualquer pretensão religiosa que contenha indícios da criação de outros pequenos “mediadores” entre Deus e seu povo já está condenada a uma vergonhosa derrota diante de Deus. Somente Cristo. Este esteio sustenta a Igreja Cristã.

Quando a Igreja se deixa sustentar por estes quatro pilares, não precisamos temer a vergonha da derrota. A Igreja subsiste, aconteça o que acontecer. Com estes quatro pilares não há fracasso. Sola gratia, sola fide, sola scriptura, solus Christus. Aí podemos cantar com Lutero: “Se inúmeros demônios vem, querendo exterminar-nos, sem medo estamos, pois não têm poder de superar-nos”.

P. Valdemar Gaede

Santa Maria de Jetibá - ES


Autor(a): Valdemar Gaede
Âmbito: IECLB / Sinodo: Espírito Santo a Belém / Paróquia: Santa Maria de Jetibá (ES)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Luteranos em Contexto
Testamento: Antigo / Livro: Salmos / Capitulo: 25 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 8569
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