Os jogos pan-americanos foram um marco. Cativaram. Deram exemplos. Deixaram lições, também para a fé.
Em jogos assim, é fascinante ver o desempenho dos e das atletas nas competições dentro de suas categorias ou modalidades, alguns até em várias. Fascina ver a força de vontade em superar os limites de sua condição. Momento glorioso é, então, o da subida ao pódio. É a coroação de todo um trabalho anterior, de um conjunto de exercícios que levou aquele momento recompensador.
Lições podem ser tiradas. A principal se refere ao exercício constante e perseverante. Isso é um pressuposto para a participação em eventos assim. Deve haver integração entre corpo e mente. Claro, existe também a colegialidade, embora marcada por competição. Muitos participam, mesmo sem chance de premiação. A própria participação já é o prêmio. Para estar lá cada qual deve ter seu training próprio. Precisa exercitar-se, com afinco, com dedicação, com perseverança. Mesmo quando se trata se jogos em equipe, não é possível fiar-se unicamente nas habilidades do(s) outro(s). A colaboração de cada um(a) é fundamental para se chegar ao objetivo proposto.
A vida em fé é similar ao treinamento para tais jogos. Dizer isso nem é original. Outros já o disseram. O apóstolo Paulo fala da vida de fé como uma corrida, similar aos jogos olímpicos (1Co 9.25). Nestes jogos se ganha a medalha, uma coroação importante; na vida de fé se busca uma coroa incorruptível: a recompensa pelo próprio Deus. Ainda que fé seja dom ou dádiva do próprio Deus, ela necessita de exercício constante; pede treinamento continuado; precisa de aperfeiçoamento.
E aí está outra lição dos jogos. Não adianta esperar demais por milagres. Não se deve excluir sua ocorrência por completo. Pode até ser que em uma outra modalidade o ou a atleta consiga um resultado ‘inesperado’, ‘milagroso’. No geral, porém, o resultado é conseqüência de exercícios e de treinos continuados. Disciplina e alimentação são importantes! Alguns trechos bíblicos ajudam a clarear. A fé é um viver. O profeta Habacuque diz que o “justo viverá por sua fé” (2.4). A palavra que está lá no original hebraico é emunah; ela deriva de um verbo que implica em manter ‘firmeza’ ou ‘confirmar’. Essa ‘fé’ é sinônimo de ‘teimosia’, ‘perseverança’. É atitude de vida no cotidiano. Viver uma vida em busca da realização da justiça é a fé da pessoa justa!
Outra lição dos jogos refere-se ao dopping. Há atletas que recorrem a este expediente. Às vezes dá certo; outras, mais cedo ou mais tarde, a descoberta vem a público. Aí é engano, porque como tal foi premeditado. Foi realizado para ludibriar os outros, em demonstração gloriosa, mas não real. É também engano de si mesmo! Na vida de fé não é recomendável recorrer a expedientes de manipulação; deve-se trabalhar com e a partir daquilo que se é. Embustes acabam sendo descobertos!
No fundo, com maior ou menor treinamento, na prática dos jogos esportivos somos remetidos às nossas potencialidades e também às nossas fraquezas. Somos remetidos ao potencial da superação de nossas limitações. Não precisamos limitar-nos à admiração dos atletas olímpicos. Podemos seguir-lhe o exemplo! As fragilizadas podem ser superadas e potencializadas, não para a simples imitação, mas para o aperfeiçoamento do próprio potencial! Todos e todas temos dons e carismas. O caminho para o aperfeiçoamento está aberto a todos e todas. Assim como a caminhada se faz caminhando, a vida da fé se faz exercitando a cada dia os dons e os carismas recebidos. Esperança, solidariedade, busca da justiça, cortesia, humanidade são modalidades nas quais podemos nos exercitar. Cada qual pode ir se exercitando na sua modalidade, ou até em várias. Momentos de demonstração efetiva haverá de chegar. Podemos ir nos exercitando e aperfeiçoando na esperança ativa pela coroa da vida que só o próprio Deus haverá de dar!
Haroldo Reimer
Pastor Vice-Sinodal
Sínodo Brasil Central